AUGUSTO MANCINI.
-Meu nariz empinadinho, não me rele, não me toque Sou mimada e correria, cachorra de grande porte Luiza Sonza
-Cachorrinhas-A maior dificuldade de ter um amigo que tinha filhos como um coelho era ter que lidar com merdas que não eram minhas.
Eu mal tinha colocado os pés na casa do Sr. Bittencourt e já havia sido obrigado a entrar no carro de Maria Luiza e ir rumo ao Morumbi atrás da porra do bolo que o idiota esqueceu de pegar.
— Cuidado com...! — Nem consegui terminar de falar, e a loira passou com tudo em cima de um buraco.
— Eu jurei que eu não ia cair naquele buraco. Não é à toa que odeio dirigir nesta cidade — disse, arrumando os óculos.
Não me passou despercebido que, naquele dia, ela não usava os óculos normais de sempre, que eram tão feios que me davam agonia. Maria Luiza estava com óculos mais finos e bonitos, com hastes douradas. Os cabelos, que sempre viviam presos em um coque acima da cabeça, estavam soltos e, por um segundo, me permiti ficar impressionado com eles.
Malu tinha cabelos loiros como os pais, mas a semelhança parava por aí. Ao contrário do resto da sua família, seus fios eram cacheados e muito cheios.
Lindos. Absolutamente estonteantes.
As roupas também não eram como as que eu me recordava. Antigamente, em festas de família, ela sempre estava com alguma camiseta, calça jeans e seu velho All Star vermelho, que parecia querer sair andando sozinho de tanto que era usado.
Naquele dia, ela usava um vestido todo florido e curtinho, que ficava preso ao seu corpo. Tudo bem, em minha defesa, eu não era cego.
Maria Luiza Bittencourt era uma garota gostosa, mas, ainda assim, uma garota. Nunca tive muita paciência para meninas mais novas e não seria agora que iria ter.
Além do mais, por Deus, ela era filha do Dante. Eu a vi crescer.
Que merda eu estou pensando?
— Seu pai tinha que te obrigar a dirigir. Quanto mais você treinar, melhor vai ficar — comentei, desviando meu olhar para a rua.
— Fiz oito provas do Detran. Sabe quantas horas de aula eu tive? Milhares! Está na hora de aceitar que não sou boa no volante — argumentou, no mesmo segundo em que, de repente, pisou no freio para parar o carro em frente à doceria.
— Só é desatenta.
Desatenta e apressada.
— Você volta dirigindo. Meu pai quem mandou. — Ela falou, sem
nem olhar para mim.
Precisava confessar que eu achava engraçadinho quão inibida ela
ficava perto de mim.
Depois da discussão na quinta-feira passada, nossa relação ficou ainda
mais distante. Se era que isso fosse possível.
Dante era inteligente e muito atento às suas meninas, e bastou um
jantar com a filha mais velha para que sacasse que eu tinha feito alguma merda. Obviamente, menti, mas precisava arrumar aquela situação antes que Melinda viesse me encher o saco.
Contornar Dante era fácil, difícil era contornar Melinda.
— Foi para isso que eu vim. — Abri a porta da loja para ela, que me olhou como se estivesse vendo um milagre bem na sua frente. — O quê?
— Você sabe ser cavalheiro. Estou impressionada.
A fuça era de princesa, mas a língua... Ah, aquela língua.
— Na empresa, sou seu chefe. Aqui, não.
— Nunca foi educado antes, Augusto. — Soltou uma risadinha. —
Sempre me tratou como uma pedra no seu sapato.
— Mas você é uma pedra no meu sapato.
— Você é muito mimado.
— Você também, querida. Não se esqueça de que somos farinha do
mesmo saco — rebati.
A loja era bonita, mas o cheiro me deixou enjoado de imediato. Odiava
coisas doces. Nem me recordava da última vez que tinha comido umbrigadeiro, sequer. Contudo, Maria Luiza, ao contrário de mim, parecia ter chegado ao paraíso. Eu lembrava bem da sua obsessão por doces e das birras homéricas que ela dava por conta deles quando era criança.
Malu sempre foi um nojo para comer. Não foi à toa que voltou dos Estados Unidos com gastrite.
Como sabia disso? Aguentei Dante reclamando no meu ouvido por dias que a garota estava com dores no estômago. Além de superprotetor, o idiota ainda era carinhoso e cuidadoso ao extremo.
Resumindo: um chato!
— Sou uma ótima pessoa — resmungou, me fazendo revirar os olhos. — O quê? Eu sou, sim, uma ótima pessoa!
— Não disse nada.
— Mas você pensou.
— Maria Luiza, o bolo. Estamos atrasados.
Melinda iria comer os nossos cus, isso sim.
Tudo bem que a culpa daquilo tudo era de Dante. O infeliz esqueceu
de pegar o bolo de aniversário da própria filha, mas isso não importava para sua mulher. A culpa iria cair em mim, como sempre.
— Ai, tá bom! Já estou indo. — E foi rumo ao caixa, batendo os pés como uma criancinha.
— Insuportável... — murmurei.
— Eu escutei isso! — disse, de costas para mim.
— O bolo, caralho! — Meu rugido a fez se apressar.
Ela era doida, mas não burra. Eu já estava puto por ter que passar
cinco horas dentro de um ambiente com várias crianças gritando no meu ouvido. Além disso, teria que me envolver em conversas maçantes com pessoas que não tinha muita paciência.
Aquele não era um bom dia para Maria Luiza me estressar; já bastava fazer isso durante toda a semana.
A loirinha pediu o bolo, passou o pagamento no cartão e finalmente conseguiu pegar o que buscávamos. Quase tive um AVC quando a vi se aproximar com o bolo de três andares todo rosa e com decoração de dinossauros.
Quão incrível uma criança tinha que ser para pedir uma festa com o tema de dinossauros?
— Me deixe levar o bolo — pedi, andando em seu encalço até o lado de fora da loja.
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Nossas primeiras últimas vezes....
FanfictionSINOPSE. Ela era tudo o que eu jamais poderia querer. Quinze anos mais nova. Minha estagiária. Filha do meu melhor amigo. Maria Luiza Bittencourt era apenas uma menina quando entrou no avião rumo a Crownford para fazer faculdade de arquitetura. Doi...