MARIA LUIZA BITTENCOURT.
Joga tua verdade toda na minha cara Mas antes de ir embora, eu te impeço, para E me beija com raiva, me beija com raiva Jão – Me Beija com Raiva
Minha perna não parava de balançar, assim como minha respiração, que teimava em não normalizar. Naquele dia, depois de quatro semanas, eu finalmente tinha que entregar meu primeiro trabalho. O único que foi resignado a mim até o momento e eu diria que o mais importante da minha carreira.
Era com ele que eu iria mostrar a todos os diretores da MB o meu potencial, sendo que o principal diretor a me avaliar era o mesmo ao qual eu pedi para que tirasse minha virgindade. O mesmo que passava alguns minutos do meu trabalho atazanando minha paciência e me jogando olhares dominadores.
Um homem que andava rondando minha cabeça mais do que eu gostaria de admitir.
— O projeto tem falhas, pai... — falei, colocando o meu terninho verde água. Seria humilhada, mas, ao menos, estaria arrumada para tal momento memorável.
— Eu olhei seu projeto, minha filha, e está incrível. Muito melhor do que qualquer primeiro projeto que eu já tenha visto.
Ele era meu pai, não confiava em sua avaliação.
Dante Bittencourt era aquele tipo de pai que achava tudo o que os filhos faziam incrível, inovador e praticamente revolucionário.
— Você sabe como o Augusto é. Ele não aceita nada menos do que a perfeição, e eu sei, não sou burra, que o projeto não está perfeito. —
Suspirei, finalmente me virando para os meus pais, que estavam sentados na cama do meu bom e velho quarto.
Ele ainda pertencia a uma Maria Luiza adolescente. As paredes eram todas azuis e tinha uma decoração toda florida. Eu era obcecada por flores, inclusive, escolhi arquitetura porque combinava minhas duas paixões: plantas e desenhos.
— Está se pressionando demais, não precisa disso. — Papai afirmou, tão calmo que fez meu sangue ferver de raiva. — Augusto não seria capaz de te humilhar. Nem mesmo se o projeto estivesse ruim, o que não está.
— Ele não vai mexer com você. — Mamãe jogou um olhar para meu pai, o qual eu conhecia muito bem. Se o amigo fizesse alguma gracinha, iria se ver com ela. — E, como seu pai disse, o projeto está ótimo.
— Olha, filha... — Papai me puxou pela mão, para que eu ficasse entre suas pernas. Quando estava perto dele, ainda me sentia a mesma menininha de sempre. Além de me sentir protegida de qualquer coisa do mundo. — Ainda me lembro dessa apresentação. Eu tive que fazê-la, e o Augusto também. Seu avô e Lorenzo nos avaliaram e, por mais que tivessem nos tirado o sono, tudo deu certo. Entregamos os melhores projetos daquele ano. Você também vai fazer isso. É uma Bittencourt. Está no seu sangue.
— Sem contar que é mais talentosa do que seu pai e Augusto juntos. — Mamãe enfatizou, e meu pai concordou com ela. — Confie em você, minha filha. Vimos como deu duro por esse projeto. Ficava na empresa até de madrugada e refez a fachada inteira em duas semanas. Tudo vai dar certo.
Abracei meu pai e minha mãe, caindo na cama e levando-os juntos comigo.
— Amo vocês. São os melhores pais do mundo.
— Amamos você, querida. E estamos orgulhosos de tudo o que já faz. — Mamãe disse no meu ouvido.
Eu só esperava que, depois daquele dia, eles continuassem a se orgulhar de mim.
Naquele dia, eu teria que ser perfeita.
"Acho que você poderia ter se esforçado bem mais. O projeto é bom, mas é..."
Ele passou os dedos compridos pelo maxilar.
"Ordinário. Comum. Não sei se era minha expectativa, mas, para alguém formada na Universidade de Crownford e na USP, eu esperava algo mais elaborado. Diria que revolucionário. Mas foi importante para ver que você é como qualquer estagiário daqui. Precisa aprender muitas técnicas e elaborar seu raciocínio em relação à solução de problemas."
Suas palavras ainda ecoavam na minha mente, rasgando pouco a pouco minha respiração, ao passo que eu saía da sala com um sorriso congelado no rosto, tentando, a todo custo, não chorar. Já bastava ter sido humilhada, não poderia chorar na frente de todo mundo.
Saí do auditório o mais rápido que consegui e dei as costas para meus pais, meu avô e Senhor Mancini, o pai de Augusto. Completamente envergonhada.
Todo mundo teve um primeiro projeto elogiado, já eu tive um praticamente desdenhado. O sentimento de rejeição fazia meus dentes irem direto o interior da bochecha, mordendo de nervoso.
Nunca tive um único trabalho tão mal avaliado antes. Era como se tivesse dado um comando para minha cabeça que ela não dava conta de processar. Por mais que fosse insegura, sabia das minhas potencialidades. Nunca reprovei. Passei no processo para tirar um duplo diploma com uma facilidade absurda. Os professores me amavam.
Definidamente, nunca tive que lidar com o gosto amargo da frustração de não ser boa o suficiente, e isso estava me sufocando.
Subi três andares de escada, ignorando os elevadores. Precisava chegar na minha sala sem falar com ninguém. Quando eu abrisse a boca, a única coisa que sairia seriam soluços.
Doloridos e profundos soluços.
O mais louco era pensar que eu confiei nele.
Burra! Por que eu confiei nele?
Augusto tinha sugerido a merda da entrada de uma forma diferente do
que eu tinha pensado. O que aconteceu? Ele detonou a entrada. Eu tinha certeza de que ele havia sugerido de propósito. Quis apenas me foder!
Como um cretino desse ainda ousava colocar as mãos em mim? Como ele aceitou tudo que eu propus se, claramente, só queria o meu mal?
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Nossas primeiras últimas vezes....
FanficSINOPSE. Ela era tudo o que eu jamais poderia querer. Quinze anos mais nova. Minha estagiária. Filha do meu melhor amigo. Maria Luiza Bittencourt era apenas uma menina quando entrou no avião rumo a Crownford para fazer faculdade de arquitetura. Doi...