capítulo 6 - Furão de orelhas caídas.

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Draco foi para o banheiro trocar de roupa e tirar o binder, e vestiu uma blusa de dormir bem larga e calças de pijama. Quando voltou ao quarto, deslizou constrangido para baixo das cobertas. Não gostava de ser visto sem binder, ainda mais por Harry. Por sorte, ele pareceu não se importar, ou, no mínimo, estar desinteressado.

- Fantasmas dormem? - perguntou Harry, jogado confortavelmente no chão com as mãos atrás da cabeça.

- Eu não tenho ideia - disse Draco, puxando os cobertores até o queixo.

Harry não sossegava. Draco ficou encarando o teto do quarto escuro, ouvindo os suspiros e bufos de Harry. Eles foram rapidamente seguidos pelas perguntas mais estúpidas que Harry já tivera que encarar às três da manhã.

- Se você virasse um fantasma, onde você ia assombrar?

- Não sei.

- Eu tenho certeza que aquela lanchonete Caldeirão Furado no Beco Diagonal, é assombrada.

- Hum.

- Uma vez, a gente tava passando o tempo no estacionamento de lá e umas coisas bem fantasmagóricas estavam rolando na lixeira.

- Humm.

- Mas acabou que era só um guaxinim.

- Legal.

- Que quase me mordeu.

- Nossa.

- Caramba, qual foi a última vez que você limpou debaixo da sua cama?

E ele continuou, continuou. Quando Draco se recusava a responder, Harry falava sozinho. Draco não sabia que era possível alguém ter tão pouco filtro entre o cérebro e a boca. Quando Harry falava, parecia estar em um eterno fluxo de consciência. Mesmo estando de madrugada, Draco sabia que o sono não viria fácil. Seu relacionamento com o sono sempre fora tênue, na melhor das hipóteses. Os acontecimentos daquela noite ainda o agitavam.

Em um intervalo de poucas horas, ele ganhara o próprio talismã e fora abençoado com os poderes de bruxo pela Senhora Morte. E ainda estava preocupado com Timothy. O luto pelo seu primo ainda não parecia real. Além disso, ele tinha invocado um espírito e agora estava abrigando um menino morto em seu quarto.

Draco não conseguiu dormir até enfiar a cabeça sob o travesseiro e abafar a voz de Harry ponderando se fantasmas ficavam ou não molhados quando chovia. Algumas vezes, sons de alguém revirando o quarto quase o acordaram, mas ele sempre voltava a pegar no sono.

Quando o alarme tocou, de manhã, Draco resmungou com a cabeça apoiada no braço. Sentia-se mais exausto do que antes de ir dormir. Ele rolou na cama, a mão tateando cegamente o celular para apertar "soneca". Com dificuldade, ele forçou os olhos a abrirem. E viu um par de olhos esmeraldas o encarando.

Draco pulou e recuou, batendo a cabeça no parapeito da janela. Em pânico, ele chutou acidentalmente Mia Casso para fora da cama. O alarme continuava a tocar, e Mia miava no chão.

- Finalmente!! - gritou Harry, irritado, mas sorrindo ao se pôr de pé. - Eu estava... cara, para de gritar, eu estava esperando há séculos!

O coração de Draco batia dolorosamente, incapaz de entender o que Harry estava dizendo. Ele pegou seu celular e desligou o alarme. Mia Casso parou de miar indignada e se sentou na cômoda, lambendo a pata. Draco fechou os olhos, tentando fazer o latejar em sua cabeça parar. Procurou escutar qualquer sinal de sua família, se perguntando se alguém havia ouvido seu grito, mas só escutava a batida distante da música tejana de sua abuelita na cozinha.

- Você está me escutando? - perguntou Harry.

- Não. - Draco abriu um olho para encarar Harry. Sob seu olhar sonolento, demorou um momento para se lembrar de que ele era um espírito. Parado no meio do quarto, com os braços cruzados e a testa franzida, Harry parecia muito real e vivo. Mas então ele piscou, focando o suficiente para ver os sinais. A silhueta difusa e a corrente de ar frio ao seu redor.

Cemetery boys - DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora