Draco subiu os degraus com cuidado, Adri e Harry o seguindo de perto. Uma luz azul bruxuleava atrás das cortinas rendadas.
Pelo menos o pai de Draco ainda estava fora, o que era um alívio não apenas pelo fato de estar prestes a esconder um espírito bem debaixo do nariz dele, mas também porque, depois da briga de mais cedo, Draco ainda não se sentia pronto para encará-lo. Seu estômago revirava pensando na tentativa inevitável e constrangedora que seu pai faria de pedir desculpas.
Harry, na verdade, era uma distração bem-vinda, e uma desculpa para evitar sua família. O garoto morto estava vagando pela varanda, se aproximando demais das janelas, como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo. Harry tentou pegar o sino dos ventos pendurado no toldo, mas seus dedos atravessaram as peças de vidro.
- Ei, vem pra cá! - sibilou Draco, acenando para ele voltar. Na ponta dos pés, Adri conseguia espiar pela pequena janela em cima da porta da frente.
- Ela está dormindo - disse ela com um olhar arrogante. - Eu falei! - Draco abriu a porta devagar, e ela soltou um pequeno rangido. Ele esperou por um momento, mas quando ouviu roncos pesados e retumbantes, soube que estava tudo bem. Passou pela porta, seguido de perto por Adri e Harry.
Lita estava na poltrona em frente à TV, a cabeça recostada e a boca aberta. Dracol fechou a porta o mais silenciosamente possível. Enquanto isso, Harry avançou pela sala.
- Uau, quando é a festa? - Ele riu, olhando em volta para as pilhas de decorações.
Um ronco de Lita fez Draco e Adri se sobressaltarem. Draco congelou, o coração batendo forte, mas ela só se remexeu um pouco antes de voltar a dormir tranquilamente. Uma telenovela passava na TV.
- Santa Muerte - sussurrou Adri, colocando a mão na testa.
- Harry, fica quieto! - Draco olhou irritado para ele, gesticulando para que ficasse em silêncio. Harry se abaixou, levantando as mãos em sinal de concordância.
Draco guiou o caminho até a cozinha, acenando para os dois o seguirem. A pequena cozinha ainda estava quente e cheirando a canela, pão doce e pozole. Uma grande panela descansava perto da pia. Bandejas de pan de muerto e conchas coloridas ocupavam todo o espaço da bancada. Um bule de barro estava no fogão, da última leva de café de olla.
Os olhos de Harry se arregalaram e ele inspirou profundamente, mas, antes que pudesse fazer qualquer comentário, Dracol o fuzilou com os olhos, levando um dedo aos lábios. Harry assentiu, seus olhos perpassando toda a comida.
- Sério mesmo, isso tudo é para quê? - perguntou ele em um sussurro. Ou no que Harry considerava um sussurro, embora o resto do mundo não considerasse.
- Día de Los Muertos - disse Draco enquanto começava a pegar comida. - É um grande evento para nós.
- Ah, claro, claro, claro. - Ele assentiu. Adri foi até o fogão e espiou dentro da panela.
- Tem alguma coisa vegana aqui? - perguntou ela, cheirando o pozole.
- Eu acho que tudo tem frango no meio. - Adri torceu o nariz.
- Eu vou ficar de vigia - disse ela, voltando para a sala. Harry rondava o pan de muerto, praticamente babando nos pães doces redondos. Cada um era adornado com detalhes em formato de osso. Alguns eram cobertos com açúcar e canela, e outros, com granulados cor-de-rosa. Draco imaginou que aquela fosse a única comida que Harry poderia comer. Ele deixou o pozole de lado. Duvidava que dar sopa para o espírito comer funcionaria.
- A sua família comemora? - perguntou Draco enquanto pegava alguns pães. Ainda estavam quentinhos. Seu estômago roncou.
- Nada, não somos religiosos - disse Harry, dando de ombros, rondando umas balas de alcaçuz em um canto. Draco foi até a geladeira e colocou alguns cubos de gelo em um copo vazio. O corte em sua língua estava inchado e começando a latejar.
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Cemetery boys - Drarry
FantasiㅤEle estava sem saída, Draco concorda em ajudar Harry e, em contrapartida, ser apoiado na busca pelo espírito de seu primo recém-assasinado. Assim, ambos sairão ganhando. Ou é o que ele espera. ㅤNo entanto, quanto mais tempo Draco passa ao lado de...