Amarelo II 🌼

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- EMMY, NÃO!! - Jenne gritou, com tudo que havia em si.

Mas fora em vão, no meio duma festa de bolhas de sabão, lá estava o corpo de Emmy, jogado no chão.

- Não, não, não! - Jenne correu para se aproximar do corpo desacordado de Emmy, juntamente com algumas pessoas curiosas que estavam ao redor - não, não, não - repetia, fervorosamente, como um mantra, como se aquilo pudesse cancelar o dia de hoje e levá-las de volta para a cama quentinha e segura.

O carro que bateu em Emmy não parou para ajudar, muito pelo contrário, fugiu, deixando apenas os efeitos colaterais para trás.

- Filha!! - Ana correu e se juntou ao corpo de Emmy - alguém chama a ambulância! - gritou.

- Amor - Jenne sussurrou, fora de si, pegando a mão de Emmy e acariciando - levanta, passarinha, por favor.

- Filha - Diana abaixou perto de Jenne - ela está desacordada.

- Não! - Jenne praticamente gritou, estava fora de si - isso não pode estar acontecendo!

- Ela vai precisar ir ao hospital, filha - Diana explicou, enquanto Jenne chorava - preste atenção, filha, você precisa ser forte por ela, ok?

- Meu amor - Jenne chorou ainda mais, prostrando-se sobre o corpo de Emmy - vai ficar tudo bem, ta? Lembra quando você adoeceu e eu precisei ir com você na enfermaria, para você tomar uma injeção? Você ficou com muito medo, mas eu estava lá com você e você disse que isso ajudou, não foi? Então, sua mãe e eu não vamos te deixar só, tudo bem?

- A ambulância está chegando! - alguém avisou. Ao longe, Jenne ouviu o som da sirene se aproximar, lhe causando agonia.

Tudo parecia passar em câmera lenta e ela sentia que podia quebrar, de tão frágil que estava se sentindo.

Em questão de segundos, eles já desciam com a maca e colocavam o colar cervical em Emmy. Jenne assistia tudo debilmente, como se fosse ínfima diante daquela situação.

- A saturação está caindo - um dos socorristas gritou - ela precisa de oxigênio.

E lá estava Emmy, sua Emmy, imobilizada e usando uma máscara de oxigênio. As maõzinhas totalmente paradas pela primeira vez na vida. De repente, Jenne sentiu raiva. Emmy era boa, pura, por que justo com ela?

- Você é a mãe? - um socorrista perguntou à Ana, que chorava copiosamente.

- Sim, sou.

- A senhora pode nos acompanhar na ambulância.

- Não se preocupe, Ana - Diana se aproximou - vamos estar de carro logo atrás.

- Seja forte, meu amor - Jenne segurou a mão de Emmy, sentindo-a ser levada para longe. A última coisa que viu antes da porta da ambulância fechar foi seu all star amarelo, presente de Jenne de dia dos namorados, porque Emmy dizia que amarelo a deixava feliz. Mas nada naquele momento parecia minimamente amarelo ou feliz.

Eram 2h:52 da manhã. Jenne esperava no hospital de Jericho. Como o hospital era pequeno e haviam poucas ocorrências, o caso de Emmy já havia virado notícia.

- Já fizeram de tudo - Jenne ouvira as enfermeiras cochichando em algum momento.

- Dizem que ela não está respondendo - outra cochichou de volta.

Jenne pensou nas vezes em que negou sorvete à Emmy antes da janta, na certeza de que a janta viria, como se tivesse o controle sobre a vida. Ou quando estava cansada demais para levar Emmy ao Starbucks, ela disse que nunca tinha ido, que queria ir, mas Jenne deixou para depois e preferiu ficar no internato, certa de que teria um depois para ir. Tudo aquilo pareceu tão pequeno agora. Por que não tomar sorvete na hora que ela quis? Ou ir no Starbucks na hora que ela quis? Por que não comprar as malditas bolhas de sabão e soltar para ela num lugar seguro?

Pendeu a cabeça para trás, passando a mão no rosto, os olhos inchados de tanto chorar. Lembrou de quando ouvia a voz de Emmy chamar ecolalicamente "amor, amor, amor" e a risadinha doce no final, as mãozinhas teimosas. Daria tudo para ter tudo aquilo outra vez.

- Talvez seja hora de entubar - olhares médicos preocupados, nenhum ousava olhar para Jenne ou Ana.

Se você pudesse escolher só uma coisa para fazer hoje, o que faria?

Jenne voltaria para a manhã anterior, daria ouvidos à sua intuição, ficaria abraçada e segura com Emmy, ouvindo-a falar poesias sobre tudo, sentindo o quentinho da vida dela. O quentinho que agora se esvaia de seu corpo.

- Ana Miller? - um médico de meia idade apareceu na sala. A família de Jenne e Ana se levantaram para receber a notícia, torcendo para que fosse a melhor possível.

O médico entregou uma caixa com os pertences de Emmy: as roupas, o all star amarelo. Disse que era procedimento padrão a paciente vestir a bata do hospital.

- Como ela está, doutor? - foi Diana quem se atreveu a perguntar.

- Bem, felizmente Emmy não teve nenhum fratura exposta - o médico fez uma pausa - porém, sinto informar que ela sofreu um traumatismo craniano - todos na sala pareceram desabar, lágrimas rolavam nos rostos de Jenne e Ana.

- É muito grave? - foi Diana novamente quem ousou perguntar o que todos estavam se perguntando.

- Bem, esse traumatismo causou o aumento da pressão dentro do crânio, e uma das formas de reduzir essa pressão é através do coma induzido.

- Não - Jenne colocou a mão em cima da boca, as lágrimas descendo automaticamente, sem pedir mais sua permissão.

- A gente deu um sedativo potente para que o cérebro tenha menos metabolismo. As células do cérebro vão ter menos atividade, e isso reduz a pressão intracraniana.

- Ela está em coma? - Jenne perguntou, num fio de voz.

- Sim, mas não se preocupe, ela está estável e o coma é temporário. Às vezes a gente deixa o paciente sedado em coma induzido por algum tempo, apenas para melhora do quadro.

Se você pudesse escolher só uma coisa para fazer hoje, o que seria?

Jenne tomaria sorvete napolitano antes do jantar e iria no Starbucks comer e ouvir Emmy falar sobre coisas das quais Jenne sequer imaginava que existiam. Depois compraria uma maldita bolha de sabão e soltaria na segurança do quarto, só para ver Emmy sorrir. Sorrindo, acordada, amarela.

Porque o resto, o resto é perda de tempo, de significado, de afeto.

- Volta para mim, amor - Jenne sussurrou, como se orasse - tem tanto amor te esperando aqui.

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