Lilás ☂️

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- Emmy? - Jenne atendeu o telefone - tudo bem?

- Tudo - a voz doce soou do outro lado da linha - queria saber se você não podia passar aqui no meu quarto agora.

- Agora? Eu posso, claro - Jenne se apressou, colocando as coisas na mochila - estou saindo da aula da professora Florence. Passo aí daqui a pouco.

- Lily não vai estar no quarto - Emmy sugeriu.

- O que você quer dizer? - Jenne perguntou.

- Vamos ficar com o quarto só para nós duas - Emmy continuou.

- E o que isso significa? - Jenne estranhou o rumo da conversa, não se surpreenderia se fosse outra pessoa falando, mas Emmy?

- Podemos dormir a tarde inteira, sua boba! - Emmy concluiu, fazendo Jenne rir.

- Podemos, né? - Jenne se achou uma idiota por ter pensado bobeira.

- Igual naquele outro dia - Emmy continuou - dormimos a tarde inteirinha.

- Você dormiu - Jenne corrigiu - eu fiquei velando o seu sono.

- Eu fiquei velando o seu sono - Emmy repetiu - você já está vindo?

- Quase na sua porta.

- Quando chegar, é só entrar, ok? Não precisa bater.

- Ok.

- Te vejo.

- Te vejo.

Jenne continuou andando a passos largos pelos corredores, estava animada para ver Emmy, animada para passar a tarde com ela.

- Emmy, estou entrando - Jenne avisou, quando chegou na porta.

- Pode entrar, Jen!

Jenne entrou, encostando a porta, se deparando com uma Emmy de pé, com as mãos para trás.

- O que você está escondendo aí, huh? - Jenne riu.

- Um pedido para você - Emmy revelou um cupcake lilás com uma velinha acesa em cima - hoje fazem três meses desde que nos falamos pela primeira vez.

- Wow, sim! Isso é verdade! - Jenne sorriu, se aproximando - parece que te conheço a tão mais tempo.

- Vai - Emmy incentivou - faz um pedido, sua boba!

Jenne pensou, mas não muito, porque não era muito difícil adivinhar o que ela queria.

Um beijo.

E soprou a velinha, desejando que o pedido se concretizasse.

- O que você pediu? - Emmy cochichou, como se houvesse mais alguém no quarto além delas, deixando o cupcake em cima da mesinha do quarto.

- Se eu contar, não se realiza - Jenne puxou Emmy para um abraço - e eu quero muito que se realize.

- Então você tem que comer o cupcake, mas antes tem que oferecer o primeiro pedaço para alguém - Emmy saiu do abraço, sorrindo notavelmente - olhe a faca ali do lado, é só partir em dois.

Jenne se abaixou ao lado da mesinha, pegando a faca e partindo o cupcake em dois pedaços. Levantou, ficando de frente para Emmy.

- Meu primeiro pedaço vai para uma pessoa muito especial - anunciou, num tom teatral, como se estivesse falando para uma plateia - antes mesmo de estar na minha vida de fato, essa pessoa já estava na minha vida e sequer sabia, estava nas minhas manhãs, nos meus pensamentos, nos meus desejos - Jenne sorriu - essa pessoa especial colore os meus dias, em todos os sentidos, tanto quando estou vendo-a desenhar e colorir de manhã no refeitório, como quando meus dias estão cinzas e ela chega com suas mãozinhas inquietas, como o bater das asas de um passarinho, fazendo tudo parecer policromático.

- Sou eu? Sou eu? Sou eu essa pessoa? - Emmy balançou as mãos animadamente, numa afirmação óbvia de que era ela a pessoa.

- Você tem que esperar até o fim do meu discurso para adivinhar.

- Para adivinhar - Emmy se conteve - ok.

- Essa pessoa é a razão pela qual eu saio apressada de toda aula, só para ter tempo de ganhar um abraço com cheirinho de lavanda. Também é a razão pela qual eu demoro a dormir, porque estou sorrindo, pensando em tudo que fizemos durante o dia. E é segredo - Jenne cochichou a última parte - mas meu pedido foi sobre essa pessoa especial, espero que se concretize - e entregou o pedaço de cupcake a Emmy.

- SOU EU! - Emmy pegou o pedaço de cupcake, dando uma mordida imediatamente, ficando com a boca suja de lilás. Jenne riu.

- É você!

- Posso fazer meus votos? - Emmy pediu.

- Suas palavras são tudo que eu quero ouvir - Jenne pegou seu pedaço de cupcake, dando uma mordida, prestando a detida atenção em Emmy.

- Hoje fazem três meses que conheço essa pessoa que me deu o primeiro pedaço de cupcake, então sinto que devo dizer umas palavras - Emmy imitou Jenne, como se estivesse falando para um público - eu nunca olho nos olhos de ninguém, mas essa é a única pessoa a quem eu me atrevo a dar uma espiada rápida nos olhos. E aí tudo meio que borra e os olhos dela me distraem, me impedindo de processar o que estava ouvindo ou terminar de falar o que estava dizendo. Os olhos dessa pessoa são tão lindos, e por isso não tem como olhar demais nos olhos dela sem ficar com os sentidos hiperestimulados, mas, ainda assim, eu adoro a ideia de poder ver os sapatos ou a roupa dela, porque assim eu sei que ela está ali, pertinho. Eu também gosto de ouvir a voz e a risada dessa pessoa e até gostaria de poder segurar na mão dela, mas nunca o faço, porque minhas mãos iriam começar a tremer muito, eu sei. Mas, mesmo sem segurar a mão, assim como um banho, destes longos e quentinhos, eu sinto o calor que emana dos toques rápidos contra minha pele e isso faz com que eu me sinta real - Emmy sorriu, concluindo seu raciocínio.

- Emi - Jenne chamou - segura minha mão - e estendeu as duas mãos.

- Mas eu...

- Eu não me importo se suas mãos tremerem, as minhas vão estar segurando elas para acalmá-las - Jenne ofereceu as duas mãos novamente. Emmy segurou. De fato, suas mãos tremiam um pouco.

- Eu não me importo com seus comportamentos diferentes, são minhas coisas favoritas em você, é o que te faz única, é o que te faz você e você, Emmy Miller... - Jenne soltou uma das mãos, levando à nuca de Emmy, juntando sua testa à testa de Emmy - é uma pessoa extraordinária.

- Jenne, eu... - Emmy gaguejou - você tem uma moeda?

- Tenho - Jenne respondeu e, como magia, pegou a deixa que a outra garota deixara no ar - uma moeda por seus pensamentos.

- Eu... eu quero te beijar... - Emmy sussurrou - na boca.

Jenne fechou os olhos, absorvendo a informação, seu coração maltratando seu peito.

- Tem certeza? - Jenne perguntou, não querendo que Emmy se arrependesse depois.

Ao invés de responder, Emmy juntou seus lábios aos de Jenne. Jenne foi pega desprevenida, mas logo retribuiu o beijo, acariciando a nuca de Emmy, puxando-a para mais perto. Tinha gosto de cupcake.

As mãos dadas se apertaram, numa confirmação de que aquilo realmente estava acontecendo. O beijo foi apenas um roçar de lábios e durou apenas alguns segundos, o suficiente para acelerar os corações e confirmar: aquela paixão já estava estabelecida. E algo estabelecido era concreto, permaneceria para sempre.

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