Verde 🍀

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- Então, quer dizer que seu pedido para Deus foi um beijo meu? - Jenne sussurrou, rindo baixinho, deitada na cama de Emmy, de frente para ela. Ana já tinha ido dormir, Jenne deveria estar dormindo no quarto de hóspedes, com Lily e Leah, mas escapulira durante a noite, um convite de Emmy.

- Foi - Emmy confirmou, a voz baixa - será que é como o pedido da vela?

- Tenho certeza que sim - Jenne disse, chegando perto de Emmy e fazendo um beijinho de esquimó - mas vamos combinar uma coisa?

- Uma coisa? - Emmy repetiu ou perguntou, Jenne não soube distinguir.

- Sim. Quando sentirmos vontade de beijar uma à outra, não vamos esperar grandes eventos para isso, se nós duas sentirmos vontade, podemos só nos... beijar. Pode ser?

- Parece esplêndido - Emmy sorriu.

Jenne colocou a mão entre os cabelos da garota, acariciando.

- Posso te beijar agora? - Jenne se atreveu.

- Seu pedido é tudo que eu mais quero.

Jenne tomou os lábios de Emmy num beijo casto, sentindo o gosto doce dos lábios da outra. O beijo foi lento e dessa vez, mais demorado. Não tinham pressa alguma. Se pudessem, se demorariam ali por uma vida inteira.

- É, eu realmente gosto de você - Emmy concluiu - de acordo com o dicionário, gostar também significa achar saboroso, lembra? Eu disse que nunca tinha te provado, mas agora que provei, sei que você tem um sabor docinho, que é provavelmente meu sabor preferido no mundo inteiro.

- É? Pois eu sempre soube que gostaria muito de você - Jenne confessou, num cochicho.

- Então, você se imaginava me beijando, huh?

- Desde a primeira vez em que meus olhos bateram em você - Jenne suspirou - você estava lá no refeitório, sentada de pernas cruzadas, desenhando alguma coisa, os cabelos cor-de-rosa caindo no rosto e você colocando atrás da orelha. Você colocava o lápis na boca para pensar e eu quis muito te beijar, não sei o que foi aquilo...

- Talvez a gente tenha uma ligação quântica - Emmy colocou a mão em cima de onde fica o coração de Jenne.

- Uma ligação quântica?

- Sim, quando dois objetos estão tão ligados que um não pode ser descrito sem que a sua contra-parte seja mencionada, mesmo que os dois estejam separados por milhões de anos-luz. Einstein chamou de ação fantasmagórica à distância.

- Com certeza, temos uma ligação quântica, então - Jenne colocou as mãos por cima da mão de Emmy.

- Eu vi você me olhando nesse dia - Emmy riu - ninguém sentava naquele lugar que você sentou há muito tempo, assim que você sentou lá, eu te vi. Você me olhou rapidinho e eu desviei o olhar, mas aí você ficou só olhando. Eu gostei, sabia? Não senti medo de você, ao invés disso, eu gostei. Senti bondade nos seus olhos.

- Eu deveria ter falado com você naquele dia - Jenne bufou - enrolei por meses.

- O que te fez ir falar comigo naquele dia?

- Nina, ela me encorajou. Quer dizer, tipo isso.

- Me lembre de agradecer a ela depois

- Vou lembrar sim - Jenne beijou a testa de Emmy - agora tenho que ir. Não quero pagar para ver a reação da sua mãe ao me ver deitada à noite com a filha dela.

- Me dá um beijinho antes? - Emmy pediu, a voz manhosa - na boca.

- Sempre - Jenne tomou os lábios da outra, beijando-a suavemente. Dessa vez e pela primeira vez, sua língua pediu passagem, que com deleite Emmy concedeu. Diferentemente das outras vezes, esse beijo tinha urgência. Sentiam uma urgência para algo que nem ambas sabiam descrever.

- Ah, eu não quero que você vá embora - Emmy choramingou, estava deitada na grama do jardim de casa, ao lado de Jenne.

- Eu tenho que ir. Amanhã você tem terapia. Sem falar que Lily e Leah já foram. Eu já deveria ter ido, se não fosse insistência de uma certa pessoinha - Jenne riu, virando para acariciar o rosto de Emmy.

- Você não queria ficar? - Emmy perguntou, tristemente.

- Claro que eu queria, só estou brincando com você.

- Eu não gosto de fazer terapia - Emmy sussurrou - me leva com você.

- Eu não posso, meu amor - Jenne continuou acariciando o rosto da outra - e você precisa das terapias, mesmo que não goste, são necessárias.

- Hmm - Emmy fez beicinho - está bem - e virou-se para o outro lado, dando as costas para Jenne.

- Hey - Jenne a abraçou pela cintura, trazendo-a para perto de si - não fica brava. Não queremos uma Emmy mal porque não fez as terapias, não é?

- Não é? - Emmy se limitou a responder, os olhos fechados, aproveitando cada segundo daquele contato, que lhe causava sensações inenarráveis.

Passaram minutos apenas em silêncio, aproveitando a companhia uma da outra. Quando abriu os olhos, Emmy viu de longe uma folhinha verde, apertou mais os olhos para ver o que era: um trevo-de-quatro-folhas.

- Olha, Jen! - apontou, seu humor havia mudado completamente.

- Um trevo-de-quatro-folhas! - Jenne exclamou - wow, é um sinal de boa sorte. Aproveita, faz um pedido!

- Um pedido? Hmm... - Emmy pareceu ponderar - por favor, trevo, que eu possa namorar a Jenne - falou, em alto e bom som, como se fosse a coisa mais comum para se pedir em voz alta - hey, sabia que o nome trevo-de-quatro-folhas é contraditório, porque a palavra trevo deriva do latim trifolium, que significa três folhas?

- O que... o que você disse? - Jenne perguntou, abismada.

- Que o nome trevo-de-quatro-folhas é contraditório, porque a palavra...

- Antes disso - Jenne a cortou, nem um pouco interessada na origem do nome"trevo"-de-quatro-folhas" naquele momento - o que você pediu ao trevo?

- Que eu possa namorar você - Emmy repetiu, como se fosse algo banal.

- Você realmente quer isso? - perguntou, atônita. Achou que fosse a única a querer aquilo. Achou que pensar aquilo fosse apressar as coisas. Querer demais. Mas, pelo jeito, não...

- Quero.

Jenne pensou. Tomou coragem. Não precisava de coragem, pensou, era o que as duas queriam. Sentou-se na grama verdinha, ajudando Emmy a fazer o mesmo.

- Emmy Miller - começou - você aceita namorar comigo?

- Você aceita namorar comigo? - Emmy sacudiu as mãos no ar - sim! Sim! Sim! Eu posso repetir sim um milhão de vezes!

Para selar a promessa, deram um beijo apaixonado e, é claro, cruzaram os mindinhos. Que sorte tinham, afinal. Velas de bolo, orações, trevos-de-quatro-folhas, tudo estava a seu favor. Se não estava, elas dariam um jeito de colocar. Porque se apaixonar é isso, no fim das contas, usar o que tem para tornar a seu favor. Afinal, tinham uma ligação quântica, foram feitas irremediavelmente uma para a outra.

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