Preto II 🖤

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Entre ficar na UTI e ficar na enfermaria, mais um mês havia se passado desse que Emmy acordara. A garota se sentia aflita, ansiava ir para casa mais que tudo. Nas manhãs, sem Jenne, sentia tédio, monotonia e saudades, como se as horas se arrastassem perversamente até chegar a tarde.

Quando a tarde chegava, a felicidade de Jenne em ver Emmy acordada contagiava qualquer um. Jenne lia para Emmy, contava sobre os acontecimentos de Saint Eilish, trazia e levava mensagens de Lily e Lea, colocava filmes para passar, levava jogos, deitava na cama com Emmy, embora as enfermeiras afirmassem com veemência que a cama fosse feita para os pacientes, apenas. Emmy se sentia feliz, embora cansada.

Fora os esforços de Jenne para ocupar o tempo de Emmy, tinham também as terapias: fisioterapia, psicoterapia, fonoterapia. Emmy avançara bastante nas terapias, já estava andando relativamente bem, falando bem, lidando bem com seus sentimentos. Você precisa de paciência, todos diziam.

E, assim como uma plantinha, ela cultivou sua paciência, até chegar o dia de sua alta.

- Como você está se sentindo? - Jenne perguntou, não lembrava da última vez que estivera tão animada quanto hoje.

- Eu estou feliz - Emmy sorriu, deitada na cama. Esperavam o doutor para dar a alta - sabia que você vai dormir na minha casa hoje?

- Não - Jenne riu - eu não sabia.

- Pois é - Emmy cochichou - eu insisti para a mamãe falar com a diretora Lucy.

- E o que ela disse?

- Que "diante da situação extraordinária..." - Emmy imitou - "eu posso dar esse apanágio".

- Apanágio? O que diabos é isso?

- De acordo com o dicionário, apanágio significa vantagem particular, privilégio ou regalia.

- É realmente um apanágio poder dormir na casa de Emmy Miller - Jenne concluiu.

- À noite você vai para o meu quarto - Emmy voltou a cochichar - escondido.

- Um belo de um apanágio.

- Um belo de um apanágio - Emmy repetiu.

- Ah, estão falando sobre a diretora Lucy? - Ana entrou no quarto, sem nem ao menos sonhar que estavam planejando dormir juntas escondidas.

- Estávamos falando... - Emmy começou.

- Sobre como ela foi gentil em deixar que eu dormisse na casa de vocês hoje - Jenne cortou, sabendo que Emmy diria a verdade se deixasse.

- Sim, ela foi - Ana concordou - ela tem sido bem compreensiva desde que Emmy sofreu o acidente.

- É, ela tem - Jenne consentiu, sem jeito.

- Boa tarde, senhoritas - o médico entrou no quarto, trazendo na mão o prontuário - quem aqui está animada para ir para casa?

- Eu! - Emmy levantou a mão - eu estou!

- Eu sabia! - o médico disse - por isso vim aqui o mais rápido possível, porque você precisa ir para casa tomar a sopa da sua mãe.

- A sopa da sua mãe? - Emmy repetiu, derrotadamente - não, eu preciso tomar sorvete com a Jen!

- Ah, então por isso a animação?

- Sim!

- Um sorvete com senhorita Jenne, então. Eu só preciso que você se certifique de repousar e tomar os remédios que passei a receita para sua mãe, combinado?

- Combinado - Emmy ergueu o mindinho, fazendo o médico olhá-la confusamente.

- É uma promessa, é só cruzar seu mindinho com o dela - Jenne explicou.

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