Capítulo 02

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     Em sua visão de mundo, Thomaz tinha todos os motivos para repudiar casamentos arranjados. Cresceu em uma família complicada. Seu pai, Lorrence não era o que podemos chamar de bom marido, tão pouco era um bom pai. Era um homem que diante da sociedade mostrava-se gentil e educado e em casa descontava suas frustrações na esposa Edithe. Por vezes estendia sua fúria a filha mais nova, Alicia. Já com Thomaz o tratamento era mais ameno e Lorrence sempre deixava claro que o único motivo disso acontecer é por ele ser homem.

Thomaz não concordou quando o pai lhe quis arrumar uma noiva. Pela primeira vez o enfrentou. Tinha apenas 16 anos e não sentia empatia alguma pela jovem que seu pai tanto queria para sua noiva. Até conversou uma ou duas vezes com ela, no entanto, no seu íntimo a achou fútil e sabia que não era inteiramente sua culpa. Ela simplesmente estava sendo criada como qualquer outra jovem francesa da época.

Diante da resistência do filho, Lorrence o ameaçou. Iria deserda-lo caso não aceitasse. Thomaz então fez o impensável, começou sua própria empresa de exportação e ao 17 já possuía uma boa fatia do mercado em Marselha deixando o pai sem opção a não ser aceitar que a decisão de casar e com quem,  ficaria por conta do filho.

Totalmente desprovido de compaixão, passou a preparar a filha para os bailes de apresentação a sociedade. Meses e meses se empenhando e finalmente Alicia tinha um pretendente. Lorrence deixou tudo nas mãos do filho e partiu a Paris para acertar o dote e os pormenores para a união. Já que a proposta fora feita por um tio do pretendente em seu nome.

— Papai nem ao menos conversamos. Nem nos vimos. Tudo que sei sobre esse senhor Roffman é que ele é inglês.

— E possui um império abundante. Céus! Deveria ficar radiante só com essa informação.

— E se não gostar dele?

— Já disse muitas vezes, o amor é bobagem. Precisa fazer uma boa união financeira. Com uma família de bom nome.

— Mas...

— Chega! - Lorrence gritou,  erguendo a mão, ato que fez Alicia encolher-se amedrontada.

— Não se atreva. - Thomaz impediu o pai antes que ele concluisse o que pretendia.

— Me Solte garoto. Só não o faço por que estragaria a mercadoria. Seu rosto tem que estar impecável. Quando eu voltar, se tudo der certo trarei seu marido comigo. - Foram suas últimas palavras antes de sair batendo a porta.

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     Alicia estava ficando cada dia mais deprimida. Já haviam se passado quase três meses que o pai partira e a cada dia passado ou correspondência recebida sentia seu peito arder. Thomaz já estava ficando muito preocupado com a irmã.

— Vai ficar tudo bem All. Enquanto eu estiver aqui não deixarei que ele lhe maltrate.

—Thomie o problema nem é esse. - A menina lhe deu um olhar penoso. O rapaz lhe deu um afetuoso abraço e a puxou para que se sentassem.

— Quem é o rapaz que tanto lhe interessou no baile? - Thomaz percebeu que a irmã voltara diferente do último baile em que esteve. Seu olhar possuía um brilho diferente.

— Como sabe que... - Alicia começou a questionar, porém parou ao ver o olhar bondoso do irmão. Entendeu que não precisava mentir ou se esconder na presença dele. — Danto Mallet.

— O filho do pintor? - Thomaz perguntou em tom de brincadeira.

— Oh por Deus Thomaz, pare com isso. O senhor Mallet é sim um artista. Papai até gosta de suas obras.

— Sabe muito bem que papai jamais aceitaria. - Thomaz não queria encoraja-la a algo que iria com certeza lhe machucar.

— Por que não pode simplesmente me apoiar? - Alicia levantou-se se livrando do abraço do irmão e correu para fora do cômodo.

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