Capítulo 17 - Constelação

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Bill estava entediado. Ele havia encontrado este reino e agora estava apenas esperando.

Ele odiava esperar!

Era sempre um incômodo, mas ele tinha todo o tempo do mundo. Bill suspirou, movendo-se pelo mundo. Os humanos eram uma desgraça, com certeza eram fáceis de manipular e controlar, mas eram tão horríveis em tudo! Não sabiam escrever, demoravam séculos para falar.

Bill odiava as pequenas sanguessugas selvagens. Ele se divertiu bastante na Ásia e decidiu ir para o norte. As pessoas de lá eram ainda mais primitivas. Ele encontrou uma pequena aldeia, não mais do que quarenta pessoas e decidiu vigiá-los por um tempo. Eles não eram nômades, o que Bill achou estranho, essas pessoas sabiam como cultivar e até mesmo construir casas. Não demorou muito para ele perceber algo, porém, eles não sabiam ler ou escrever.

Corrigindo, eles pensaram saber isso era mau.

Bill ficou perplexo com isso, pois para um demônio da mente, conhecimento e leitura andavam de mãos dadas. Ele continuou assistindo, depois de algumas décadas, ele notou o início de uma caça às bruxas. Um ancião, de quem Bill gostava, foi expulso da aldeia. Seu irmão o pegou escrevendo e delatou.

Que idiota.

Ele assistiu por mais uma década, quase pronto para seguir em frente quando algo o puxou. Foi um forte sentimento de curiosidade e de caça ao conhecimento. Bill moveu-se lentamente pela aldeia, invisível na dimensão tênue em que permanecia. Ele podia sentir a falta deste humano, a frustração, a luxúria intelectual. Bill se moveu pela floresta que cercava a cidade.

O demônio ficou surpreso ao encontrar dois humanos. Um macho, uma fêmea. A garota andava de um lado para o outro, ansiosa e assustada.

- Você não deveria estar fazendo isso. - Ela avisou. - Você vai ser exilado também. E se eles descobrirem?! A mãe e o pai já estão procurando uma desculpa para se livrar de você!

O menino estava em silêncio, com as costas curvadas sobre o que quer que estivesse fazendo. Bill se moveu e ficou surpreso ao descobrir que o menino estava escrevendo. Não apenas o alfabeto, mas frases completas! Ele estava fazendo observações sobre a flor diante dele, esboçando a flora e anotando as cores.

- Por favor. - A garota implorou. - Vamos voltar.

O menino olhou para ela.

- Vá embora se quiser, Saulė. Voltarei em breve. - Ele então se voltou para a flor.

A garota suspirou.

- Tudo bem, esteja em casa antes de escurecer e não seja pego! - Ela correu de volta para a aldeia, deixando o menino para trás.

Bill sentou-se ao lado da criança, bem adolescente, agora que estava olhando mais de perto. O menino, tinha um livro encadernado em couro, o papel era velho e manchado. Ele escreveu com uma caneta improvisada. Bill reconheceu o livro. Ele observa silenciosamente por um tempo, o adolescente desenhando e anotando coisas.

O demônio decidiu que queria falar com o garoto. Ele agarrou o espírito do menino e entrou no reino do outro.

O menino engasgou quando viu Bill se materializar, as mãos apertando o livro. Seus grandes olhos castanhos olharam para o demônio.

- Oi!

O adolescente gritou, um tom muito mais alto do que Bill pensava ser humanamente possível. Ele apertou a mão sobre a boca do menino.

- Ok, isso foi rude. - disse ele. - Especialmente para alguém que só quer falar com você.

O adolescente sacudiu a mão.

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