Foi na Copa do Mundo - Imagine

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"Tem mãe que é mãe de anjo e tá tudo bem!" eu já estava no sexto mês, já usava as roupas mais largas, a barriga já estava ali, já havia sentido mexer, já me sentia a própria mulher maravilha, os presentes já estavam vindo em rosa para a Luiza, minha guerreira ilustre.
Eu estava no quarto do hospital olhando para o teto, eu não sabia muito bem o que pensar, Cristiano estava do meu lado e também não tinha falado nada, eu sabia o quanto ele queria essa menina, eu não conseguia sequer encara-lo. Estávamos assim há mais de três horas, eu olhando para o teto deitada na cama e ele na poltrona estofada olhando para fora pela janela.

-Meu mundo já estava ficando rosa - ele disse com a voz baixa - Já estava pensando que eu teria que aprender a ser mais delicado para tratar com ela, que com certeza eu odiaria cada namorado, que eu iria querer protege-la para o resto da vida e iria sair por aí apenas para desfilar com ela pra lá e pra cá e mostrar pra todo mundo a minha princesa.

-Eu não sei nem o que dizer... - falei engolindo o choro ainda olhando para o teto - Eu sinto muito por não ter conseguido segurar essa gestação.

-Como o médico disse, às vezes essas coisas acontecem e não tem o que fazer - Cristiano disse suspirando

-Vai fazer a cremação dela? - perguntei o olhando

-Sim! - ele disse colocando as mãos no rosto 

-Qualquer roupinha que for colocada nela vai ser grande demais, ela só tem vinte e oito centimetros.

-Eu sei, pedi para a minha mãe cuidar disso pra mim 

Peguei meu celular, olhei e vi uma mensagem da minha mãe dizendo que já estava a caminho de Paris, olhei para Cristiano ele sequer conseguia me olhar, ele ali estava me deixando mais nervosa ainda.

-Cris, vai pra casa - falei 

-Não, vou ficar aqui com você - ele disse olhando pela janela 

-Cris, eu preciso de um tempo sozinha - falei honesta - Por favor, vai pra casa.

Ele finalmente me olhou, eu podia ver a amargura em seus olhos, sem dizer nada ele pegou as coisas, deu um aceno e saiu do quarto.

Foi nesse momento que eu me permiti chorar e chorei muito, eu me permiti sentir aquele vazio, a impotência e a culpa, eu tentava buscar na minha mente o que eu tinha feito de errado, eu só queria manter as minhas emoções sob controle, não queria culpar o médico e nem a minha família, muito menos a minha família, eles não tinham culpa de nada, afinal, quem estava carregando a Luiza era eu. Meus pensamentos foram interrompidos quando uma mulher entrou no meu quarto.

-Olá - ela disse entrando - Sou Claire, psicóloga aqui do hospital, vim conversar um pouquinho com você! 

-É claro! - falei - Pode se sentar - indiquei a poltrona que Cristiano estava sentado antes.

-E onde está o pai? - ela disse me olhando após se sentar

-Ele teve que ir para casa - falei - Preparar o funeral da Lulu.

-Qual o nome? 

-Luiza - falei - Luiza Aveiro.

-Que nome lindo - ela disse sorrindo - Eu soube que você é médica.

-Sim, sou pediatra - falei suspirando - Já tirei bebês de situações complicadíssimas, não consegui fazer o mesmo quando o bebê era meu.

-Isso estava fora do seu alcance, não acha? - ela disse me olhando com carinho

-Eu sou médica, nada deveria estar fora do meu alcance - falei, mas eu sabia que aquilo iria soar insano.

A mulher me olhou com tranquilidade.

-(S/n), estou aqui para te falar como possivelmente será nessas próximas semanas.

-Certo, vamos lá! - falei  

-É possível que você leve a vida normal como se a Luiza ainda estivesse viva, deixando o quarto intacto ou lavando as roupas que estavam preparadas para ela, isso é normal, só não fique parada nesse período por muito tempo. É comum que haja a dor, é até desta forma que você irá se conectar com as mudanças internas e externas que você terá que viver. O ato de chorar nessa primeira fase é muito importante, já que ele libera a tensão acumulada e ajuda, inclusive, a prevenir doenças. Fale tudo o que vem na sua cabeça, é normal você pensar no que gostaria de ver sua filha se tornar ou fazer, é bom externar isso, claro, dentro do seu limite. Não pare de comer, é importante uma alimentação equilibrada, você é médica, acredito que saiba disso, é bacana fazer reposição hormonal já vai ajudar bastante no seu humor. Mas chore e fale sempre que tiver vontade!  

-Certo! - falei forçando um sorriso para a mulher 

-Quer me falar sobre alguma coisa? - Ela disse me olhando

-Por enquanto não - suspirei - Mas é possível que eu volte a te procurar.

-Pode vir sempre que precisar - ela disse sorrindo sem mostrar os dentes - Tudo vai ficar bem, tudo vai ficar muito bem! 

-Certo! - sorri, mas tinha lágrimas nos olhos 

-Tem certeza que não quer falar nada agora? - ela insistiu

-Tenho sim! - falei enxugando as lágrimas traiçoeiras.

Ela se levantou e saiu, foi então que voltei a chorar a dor me corroía por dentro. Naquela noite eu não consegui pregar o olho nem por um segundo, olhei e meu celular estava cheio de mensagens, eu sabia que isso iria acontecer, já tinha virado notícia. Uma das mensagens que estava lá era do Messi.

L. Messi

"Como você está?"

Eu

"Nada bem e você?"

L. Messi

"Acordada a essa hora?" 

Eu

"Eu poderia falar a mesma coisa" 

L. Messi

"Touché! Tem toda a razão! Nem tenho argumentos para isso"

Eu

"Eu acho que preciso falar com alguém"

L. Messi

"Fala pra mim, o que foi?"

Eu

"Cristiano não olhou na minha cara desde que tivemos a notícia da morte da Luiza"

L. Messi

"Ele só deve estar nervoso, amanhã já estará bem melhor, tenho certeza!"

Eu

"Eu espero..." 

L. Messi

"Eu posso ir te visitar aí amanhã?"

Eu

"Melhor não, a imprensa vai inventar mil e uma história por causa disso"

L. Messi

"Tudo bem, mas eu queria estar aí com você!" 

Eu não falei, mas eu também queria.

Eu

"Tudo vai ficar bem, vai ficar muito bem"

L. Messi

"Vai sim, mas não precisa se obrigar a ficar bem agora. Não foi sua culpa!"

Eu

"É..."

"Eu sei"

L. Messi 

"É sério, não é culpa sua!" 

Eu

"Tá bem..."

"Eu vou tentar dormir, boa noite Leo"

L. Messi

"Boa noite, meu anjo"