CAPÍTULO 6 - ALICE.

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2023

Já tinha passado dois dias desde que eu confidenciei pro Antônio que eu queria ter um relacionamento seja lá com quem fosse e caramba, eu não pensei que ele fosse reagir tão mal ao ponto de inventar uma viagem pra Miami que segundo ele, era de extrema emergência.

Eu estava saindo de um plantão de 48 horas na UTI e estava sentindo até os fios do meu cabelo doloridos, era nessas horas que a voz do meu pai vinha na minha cabeça me falando do quão bom advogada eu seria, merda viu! Meu celular vibrou na minha mão, no automático atendi sem nem ao menos ver quem me ligava em plena sete da noite de uma sexta feira, eu só queria a minha cama e nada além dela, absolutamente nada!
- Alô? - falei colocando o telefone no ouvido enquanto apertava com a mão livre o alarme do carro.
- Alicinha. - a voz mole de Antônio soou do outro lado. Respirei fundo. Teste de paciência.
Justa e paciente como era Jesus filha.
Eu sei papai, eu tô tentando viu?!
- Oi Antônio. - falei. Encostei a cabeça no banco, tirei o celular do ouvido colocando o mesmo no viva voz e joguei no painel, fechei os olhos e relaxei o corpo sentada ali.
- Frederico não me deixa voltar para o Brasil! - o tom de indignação na voz dele era perceptível.
- Cala a boca Antônio. - Fred rosnou do outro lado.
- Olá Frederico. - falei divertida.
- Alice, por Deus! - choramingou. - Por que diabos você foi falar pra esse homem que queria um relacionamento com alguém que não fosse ele?
- Ei! - protestou Antônio dando um soluço logo em seguida. Porra ele tava bêbado para um senhor caralho e pra ajudar, estava longe. - Eu não estou assim porque ela quer. - soluço. - Namorar. - soluço. - Aquela porra. - soluço. - Daquele moleque do Fernandes. - soluço.
Rir foi a única reação que tive a aquela palhaçada.
- Ei campeão. - falei mansa. Eu sabia que qualquer contradição faria ele bitolar em níveis estratosféricos e nos últimos tempos ele só conseguia se acalmar em uma crise de ansiedade ou síndrome do pânico se eu estivesse do lado e bom, eu estou no Brasil e ele em Miami, seria um estrago tremendo. - O que você acha de vim para a casa amanhã? - sugeri. - Fred, vocês podem voltar? - perguntei.
- Com toda a certeza, eu não aguento mais cuidar desse bebê chorão.
- Não quero voltar Alice. - resmungou com a voz embolada.
- Estou com saudades, campeão. - manhosa falei pra ele. Ouvi seu suspiro e sabia que tinha vencido aquela batalha.
- E o seu namorado Alice? - perguntou a contragosto. Eu sabia que ele estava torcendo a boca.
- Antônio, ninguém nunca vai ficar em um lugar que é apenas seu. Eu não trocarei você por relacionamento algum. - disse enquanto dava partida no carro, eu não poderia ficar naquele estacionamento vazio a noite toda, além de perigoso, eu poderia facilmente ser sequestrada. - Vem para a casa! Estou com saudades de você cozinhar pra mim e preciso confessar que Donatella não para de encher o meu saco para que eu implore para você liberar o ficante premium dela. - ri lembrando das palavras dela duas noites atrás.
- O que tenho a ver, Alice? - resmungou.
- Caramba você vai ficar mais quanto tempo longe Antônio Carlos? Chega dessa palhaçada. Não sou sua propriedade, você não pode simplesmente me dar as costas por três semanas por pura birra, eu não vou sumir da sua vida, não vou deixar você, qual a dificuldade em entender isso? - rosnei. - Eu tô falando sério, ou vem embora ou eu vou largar mão.
- Você não teria coragem. - desafiou.
- Paga pra ver!
- Dez mil reais.
- O que? - gritei.
- Eu te dou dez mil reais se você tiver coragem de me largar de mão.

É isso, Antônio havia passado dos limites, todos os limites possíveis para uma pessoa em sã consciência, eu não sabia que a nossa amizade havia virado um jogo de interesse financeiro ao ponto de ele me oferecer dez mil reais só pra ver se eu tinha coragem de virar as costas pra ele, que coisa mais ridícula Antônio Carlos.

Dirigi na força do ódio para casa, eu não seu o que passou na cabeça desse homem nas últimas três semanas e muito menos na minha. Eu sentia tanta falta do meu melhor amigo, o que custava ele entender que eu podia ter ele e podia ter um amor.

Eu podia, não podia?

Quem De Nós Dois #DocShoeOnde histórias criam vida. Descubra agora