CAPÍTULO 8 - ANTÔNIO.

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Eu digo com propriedade dos fatos que Alice Meirelles era sem dúvida alguma a mulher mais bonita de todo o planeta, principalmente quando usava vermelho e a maneira como a cor realçava sua pele extremamente branca. O recorte do vestido tinha uma fenda no quadril que mostrava perfeitamente a tatuagem que ela tinha fazia a ponta dos meus dedos queimarem tamanha vontade de tocar o escrito tatuado na pele branca. As sandálias pretas de tirar amarradas na panturrilha deixavam aquela mulher perfeita, eu já havia reparado em tudo o que fosse detalhe que a Alice tivesse no como, mas não como hoje, hoje eu a venerava de um jeito estratosférico.

- Você está linda. - falei sorrindo.
- Você acha? Comprei esse vestido tem um mês, coloquei ele dia desses e Gabriel disse que era pra eu repensar minha escolha, que eu não estava na minha melhor forma. - sorriu magoada. - Nunca mais coloquei, na verdade nem sei por que coloquei ele hoje. É melhor tirar você não acha? - as mãos passavam na própria barriga, ansiosa e insegura.
- Tá louca? - indaguei exasperado, achando absurdo aquela ideia, aquele papo. - Por que você deixa esse moleque falar isso? Por que você faz isso? - num movimento rápido segurei seu rosto com as duas mãos fazendo com que ela não tirasse os olhos de mim, tampouco tentasse hesitar com qualquer coisa que eu falasse. - Ninguém tem o direito de fazer você se sentir menos que você é. Você é uma mulher foda, uma médica foda, você é gostosa pra caralho! - puta que pariu Antônio Carlos. Nossos olhos se fixaram, meu pomo de Adão se movimentou quando engoli a seco após ver suas pupilas dilatarem com as últimas palavras saídas da minha boca, com a boca entreaberta ela soltou um suspiro, as mãos que estavam na própria barriga subiram imediatamente para as minhas que seguravam seu rosto, por dois segundos desviei os olhos pra suas mãos, as unhas pintadas com um branco bem claro me chamaram atenção, eu achava os dedos da Alice lindos, eram cumpridos assim como as unhas tinham um formato alongado, eram gordinhos de um jeito engraçado e quentes, muito quentes. Todas as vezes em que ela me tocava eu sentia a alma queimar como o inferno, era delicioso.
- Quando você fala assim eu até acredito. - riu sem jeito após sussurrar. - Você é meu brother, a maneira que você me enxerga é diferente da que o Gabriel enxerga. - meu Deus!
- E como ele te enxerga?
- Como mulher. - sussurrou.
- E eu não te enxergo como mulher, Alice? - questionei, o tom de voz afetado pela irrigação me entregaria. - Eu te enxergo pra caralho cara. Não tem um só dia que eu não te veja e não queira te sentir, foda-se se eu tô falando isso em voz alta. Eu quero sentir você, quero pra caralho. - respirei fundo aproximando o rosto do dela. O cheiro de morango em evidência me fez rosnar ao passar o nariz pelo dela.
- O que é isso? Antônio o que é isso? - a voz falha ao me questionar a entregou, ela também sentia.
Neguei com a cabeça. Assim como não havia conseguido verbalizar sequer uma palavra para o Fred, para ela era ainda mais complicado. Não saber de fato o que eu sentia era difícil, eu sentia muito, só não sabia o que era.

Eu amava a Alice mais do que eu imaginava, ela foi a primeira pessoa que vi quando abri os olhos naquele hospital, ela ficou firme e forte na minha reabilitação, me acompanhava nas consultas com o psicólogo, estava presente nas mais diversas crises de ansiedade que eu já tive. Ela participou de lutar sentada com os meus patrocinadores e gerenciadores, ela ganhou o coração de cada um deles enquanto dançava estranhamente, levei ela pra conhecer um pouco do mundo ao meu lado e mesmo as vezes não podendo, ela dava um jeito de sempre estar presente. Era óbvio que eu iria amar ela! Ela era a melhor amiga que qualquer pessoa pudera ter e eu tive essa sorte do caralho de ter sido presenteado por Deus pra ter ela.

Mas em alguma parte ao longo dos três anos, alguma coisa dentro de mim mudou e era extremamente desesperador não saber o que era, o que sentir e o pior de tudo: não saber falar.
E se eu a perdesse? E se a gente se afastasse? Como seria a vida sem ela? Eu vivi vinte e nove anos sem ela, mas desde quando a encontrei, eu não queria mais um dia sem que ela estivesse ao meu lado.

Quem De Nós Dois #DocShoeOnde histórias criam vida. Descubra agora