CAPÍTULO 7 - ANTÔNIO.

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Não, ela não podia ter tudo o que queria. Eu não queria que ela escolhesse, não sou retardado nesse ponto, eu só queria que ela, sei lá o que eu queria dela. Eu sentia muito e o pior nessa história de terror que eu havia criado na minha cabeça, eu não sabia e muito menos tinha noção do quanto eu sentia por ela.

Sentado na poltrona do jato particular que o Frederico fez questão de alugar para a nossa volta pro Brasil, eu pensava no quanto eu sentia a falta dela e o quanto eu queria estar perto dela. Foram quatro semanas longe, depois da noite dos dez mil reais Alice virou uma geladeira comigo, como se quisesse me punir por ofender ela e se tinha uma coisa que ela odiava mais do que tudo era quando eu achava que meu dinheiro resolveriam os problemas dela.
Alice tinha uma dívida - sem brincadeira alguma - de meio milhão de reais com o FIES. Aí você me pergunta: Antônio, como ela conseguiu isso? Meu amigo, só Deus sabe! Ela conta que quando fez, não leu o contrato muito bem e no primeiro mês atrasou pra pagar, no contrato tinha uma cláusula que em casa de não pagamento da parcela seria cobrado o valor integral do FIES. Bom, Alice Meirelles não pagou e agora ela tinha uma dívida colossal com o governo. As vezes quando ela bebe, ela tem mania de ligar pro SAC do Banco do Brasil e implorar para que tirem o nome dela do Serasa, é cômico e sempre filmo quando posso. Já ofereci inúmeras vezes pra pagar a bendita da dívida, mas ela deixa? Claro que não. Acha um absurdo, uma ofensa e outros adjetivos que não caberiam aqui.

Eu sei que o lance dos dez mil reais a ofenderia, eu não pensei nisso na hora, eu apenas falei e nem foi por mal.
Certeza Antônio Carlos?
Óbvio que vovó Mariza abriria a boca numa hora dessas, óbvio. Talvez eu tenha falado com um pouco de maldade, mas não foi cem por cento por querer, eu estava bêbado, me da um desconto.

- O que foi, papato? - Fred indagou sentando-se na poltrona de frente a minha.
- Não sei perder Fred. - falei ao encará-lo.
- E o que exatamente você perdeu irmão?
É, o que exatamente eu havia perdido? Eu não iria conseguir verbalizar algo que nem eu mesmo sabia que tinha acontecido. Encarei Fred mais uma vez e ele negou com a cabeça soltando um longo suspiro audível, como se estivesse com o mundo nas costas. Me afundei ainda mais na poltrona diante daquela negativa vinda dele, ele não iria me julgar a essa altura do campeonato não é?
- Porra Antônio. - falou mais uma vez.
- Vai me julgar Fred? - falei puto pra caralho com ele. - Você pega a Donatella!
- Ela não é minha melhor amiga, tampouco minha válvula de escape emocional Antônio. - odiava isso. Odiava quando falavam que Alice era resumida a uma válvula de escape para minhas crises, odiava qualquer coisa que dimuisse ela.
- Larga de ser babaca Fred. Você sabe melhor do que ninguém que ela não é isso.
- Então o que ela é, fala pra mim irmão.
Neguei com a cabeça. Eu não iria falar nada que eu não tivesse certeza.
- Eu ajudo você Antônio. Você quer ela? Me fala que quer cara, eu não vou zombar de você, eu vou te ajudar no que for, mas eu preciso de todo o coração que você me fale a verdade irmão.

Queria eu naquele momento conseguir verbalizar qualquer sentimento que não fosse raiva que eu sentia ao chegar no apartamento dela e dar de cara com ela e Gabriel sentados no sofá abraçados me encarando entrar. Alice abriu o sorriso mais lindo do mundo e se desvencilhou dos braços do moleque que ela jurava pro Deus sentir algo e correu em minha direção pulando em meu colo, a segurei com um braço em volta de sua cintura, o braço esquerdo ao lado do corpo segurando na mão uma jaqueta de couro. Virei o rosto ao fechar o olhos e inspirar o cheiro de seu cabelo.
- Senti sua falta campeão, caramba. - sussurrou. A boca próxima a meu pescoço me enviou ondas de arrepio por toda coluna.
- Também senti Alicinha. - a coloquei no chão e com as duas mãos segurei seu rosto, pela primeira vez em três anos senti vontade de beijar sua boca e xinguei mentalmente o pau no cu sentado no sofá dela nos encarando com curiosidade.
- E aí Antônio. - cumprimentou sempre simpático. Conhecia esse jeito, marcando território e a mulher nem dele era, um babaca.
- Fala Gabriel. - cumprimentei sendo o mais simpático que eu conseguia naquele momento. - Vamos jantar? - me dirigi a Alice. Primeiro ela hesitou, depois ela me encarou, em seguida ela olhou pra trás enquanto mordia a ponta do dedo buscando por alguma deixa do rato branco nos encarando, o mesmo sorriu e concordou com a cabeça - era só o que faltava mesmo, ela pedindo permissão - e por último ela me encarou novamente sorrindo.
- Vamos! - gritou jogando os braços pra cima e em seguida me abraçando rindo, me fazendo rir junto. Top meus sons favoritos: Alice rindo estranhamente.
Concordei enquanto a abraçava e ao solta-la ela correu em direção ao homem no sofá, se jogou em seu colo e o beijou estranhamente íntima o suficiente para me incomodar no fundo da alma, um soco no estômago doeria muito menos do que aquela cena patética não é?

- Bom jantar pra vocês, campeão. - Gabriel disse ao passar por mim, minha única reação foi rosnar pronto pro dar um mata leão nele e deixa-lo desmaiado por horas, mas me contive ao sentir as mãos de Alice em minhas costas.
- Vem, vamos no meu quarto. - sussurrou. - Estava com saudades cara.
Concordei ao me virar em sua direção e caminhei segurando sua mão com firmeza.

Seria hoje? Seria hoje que eu entenderia? Hoje que eu contaria pro Fred? Que inferno!

Quem De Nós Dois #DocShoeOnde histórias criam vida. Descubra agora