Personificação - capítulo 5

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Ela desceu as escadas não sentindo mais nada, como se tudo que tinha acontecido a minutos atrás, não tivesse acontecido.

Realmente pra Midiã de agora não aconteceu, virou uma memória desagradável guardada e escondida a sete chaves pelo seu subconsciente.

Se sentou nos sofás de forma sedutora, sorriu para todos que viu, conversou e bebeu com muitos cavalheiros até amanhecer, fez mais alguns clientes na noite e ganhou um dinheiro considerável.

De manhã quando não havia mais ninguém, todas as garotas já estavam dormindo, ela saiu do quarto com seu último cliente. Avistou a cafetina no balcão, ignorou e virou para ir para seu quarto... Porém a mesma a viu e a chamou.

— Como você saiu com um cliente que eu te apresentei, precisa me dar 70% do seu lucro com ele, além do valor já pago pra casa - disse a cafetina.

— Não - disse Midiã.

— Como é? - disse a mulher desacreditando.

— Eu disse não - repetiu Midiã com calma e firmeza.

— Olha aqui sua vadiazinha, não estou pra brincadeira, me paga agora ou terá problemas - disse a pegando pelo cabelo.

Midiã pegou um picador de gelo que estava sobre o balcão, o colocando no pescoço da mulher, a empurrando contra o balcão e dizendo:

— Primeiramente sua puta, meu nome é Laura e em segundo, eu vou te matar se cruzar meu caminho novamente, nunca mais me toque - disse Midiã em personificação de Laura.

A cafetina concordou de modo frenético com a cabeça, ela nunca tinha abaixado a cabeça para garota nenhuma, mas os olhos daquela mulher eram tão frios, a seus olhos pareciam não temer a morte, completamente diferente da garota que entrou mais cedo no bordel. Ela tinha suas cresças, e tudo que seu instinto dizia, era pra não contrariar tal criatura.

Laura a soltou sem esboçar qualquer expressão, subiu as escadas, entrou em seu quarto e dormiu.

Assim que acordou, pegou suas coisas calmamente e saiu do bordel.

Caminhou em direção ao próximo bordel da rua.

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****Quebra de tempo****

Midiã

O bordel seguinte tinha um ar mas rústico, para não dizer pobre, em uma mesa de escritório no canto, se encontrava uma mulher no auge dos seus 70 anos, com seus óculos pendurados no nariz e seus olhos concentrados em livros que parecem de contabilidade.

Estava com um cachorrinho no colo e mais dois em seus pés, fofos.

Entro na sala e chamo a atenção falando bom dia para a senhora, que apenas olha pra cima me encarando por alguns minutos.

Ela a olha de cima a baixo, esboça um sorriso e pergunta se quero tomar um café. Penso em recusar, mas minha barriga ronca na hora me lembrando que não como desde ontem.

Aceito e ela chama alguém, aparece uma senhora na mesma idade da outra, com um sorriso simpático e diz que já traz o café para nós duas.

Quando chega meus olhos brilham de felicidade, e meu estômago também, a bandeja está cheia de frutas e comidas fartas, faz muito tempo que não como uma refeição decente.

Dês que cheguei em Lisboa, tenho feito de tudo para economizar, incluindo comer mal.

A senhora que parece ser a que manda no local se apresenta e diz:

— Olá criança, me chamo Léia, mas pode comer primeiro, depois conversamos.

— Obrigada senhora - disse Midiã

Quando terminei de comer, senti os olhos de Léia me observando, tentei me portar o mais elegante possível, não queria fazer feio.

— Me chamo Laura - disse olhando para a senhora, não sei porque disse isso.

— Muito prazer Laura, és muito bonita, o que te trás aqui no dia de hoje - diz Léia me olhando com um olhar terno.

— Estou aqui para trabalhar, não tenho experiência, nunca trabalhei com isso, mas estou disposta - disse Midiã, não se lembrando das suas experiências do dia anterior.

— É o que importa criança, beleza você já tem e o restante te ensino com muito gosto - Midiã ficou aliviada com a declaração da senhora.

A mesma mostrou para ela toda a casa, tudo muito simples na decoração, mas aparentemente bem limpo, elas entraram no quarto que seria seu e ela ficou satisfeita com o que viu, apesar de dividir com outra colega de quarto, havia bastante espaço para as duas e parecia quentinho.

Ela me deixou sozinha para eu pudesse me acomodar no quarto, minha colega de quarto dormia, então tentei fazer o mínimo de barulho possível.

Quando terminei me senti satisfeita e cai em um sono profundo sem sonhos.

O ABISMO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS Onde histórias criam vida. Descubra agora