"Admitir a carência é um passo importante para qualquer mulher que não pretende manter relações com a vizinha safada."
Não adiantou muito o fato de eu ser uma mulher independente e livre de qualquer responsabilidade que me ligasse à minha antiga casa; acordei morrendo de torcicolo mesmo assim. Deve ter sido praga jogada pela Mary, a minha irmã. Mamãe deve ter lhe dito a história da dor no pescoço, ou então dormir no colchonete fininho não havia sido uma boa ideia. Seja como for, trabalhei como um zumbi na terça-feira. Não vi sinal algum da Srta. Maraisa Pereira pela manhã, e fiquei muito grata por isso, do contrário certamente teríamos a nossa primeira discussão. O motivo iria me deixar envergonhada por toda a vida, mas, sinceramente, a minha vontade de chamá-la de tudo o que não presta foi grande quando me levantei e constatei que mal podia virar o pescoço para os lados.
Depois de uma manhã repleta de dor e "ai, ai, ais", resolvi comprar alguns analgésicos na farmácia. Acabei explicando o meu problema, e o farmacêutico me indicou um anti-inflamatório bem bom. A dor melhorou muito durante a tarde. Mediante o meu pescoço começava a se mover, mais eu percebia que a Maraisa não tinha nada a ver com aquilo. Quero dizer, se eu levasse alguém para a minha casa ia querer gemer sem ter que medir o volume. Já bastavam os anos infindáveis em que tive que gozar em silêncio quando resolvia levar alguem a à minha antiga casa.
Não que eles dormissem no meu quarto; papai só permitia que os namorados(as), tanto meus quanto os da minha irmã, dormissem na sala. Mas nada nos impedia de fazer uma visitinha durante a madrugada, né? Sendo assim, perdoei a safada do 119 internamente, antes mesmo de ter uma oportunidade para lhe dizer que medisse o volume do sexo animal que fazia com as vadias que visitavam sua casa durante a madrugada. Decidi nunca o fazer. Na verdade, prometi a mim mesma jamais tirar a liberdade que ela tinha de fazer o que quisesse em sua casa. Só assim eu teria a minha própria liberdade. Afinal, não posso tirar de alguém o que quero para mim.
Quando cheguei à minha casa, às sete horas da noite, novamente não havia sinal algum de Maraisa. A casa dela estava escura, e de novo fiz o favor de ligar as luzes do jardim. As rosas vermelhas ainda estavam lá, no mesmo vaso presenteado por ela. Estavam mais cheirosas do que nunca, exalando um perfume adocicado que adorei. Achei estranho, pois não havia me lembrado de colocar um pouco de água para mantê-las. Supus que a Pereira tivesse feito isso mais cedo. Sorri ao tirar aquela conclusão; ela realmente era uma moça prendada, como já havia me dito.
Fiquei feliz por não ter entrado em uma briga desnecessária com ela. Nossa relação daria super certo, desde que mantivéssemos o bom-senso e o diálogo. Renovei as minhas promessas antes de entrar na minha querida casa; prometi ter calma e paciência nas situações em que pudesse realmente ficar chateada. Dormi cedo mais uma vez – até porque tive preguiça e jantei macarrão instantâneo –, logo após tomar mais um comprimido do anti-inflamatório. O descanso foi muito bem-vindo e, graças aos céus, não tive surpresa alguma durante a madrugada.
Acordei com o pescoço quase cem por cento. Fiz um café da manhã reforçado, deu tempo, e tomei um banho demorado, que deu tempo! Me arrumei tão devagar que nem parecia que ia trabalhar. O bom humor tomou conta de mim novamente. Agradeci por mais um dia pelo menos umas trezentas vezes, até inspirei o cheiro de rosas da minha varanda antes de cruzar o jardim. As luzes já estavam desligadas, sinal de que a rotina entre mim e a Pereira havia se estabelecido: eu ligaria as luzes à noite, ela as desligaria pela manhã. Caminhei lentamente até um pé de goiaba. Estava enorme e carregado, realmente muito bonito. Retirei uma fruta, que estava tão madura que ganhava uma cor meio amarelada. Sorri. Nunca tinha reparado que o jardim era realmente lindo e bem cuidado. Havia um pé de pitanga e uma bananeira, além da goiabeira. O resto eram flores e plantas que não davam frutos. Não era um jardim muito grande, mas tinha uma variedade legal, com as plantinhas disponibilizadas de um modo bem organizado.
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A VIZINHA DO 119 | MALILA
FanfictionA analista de sistemas Marília Mendonça aos 28 anos finalmente compra um imóvel e realiza o sonho de morar sozinha. Assim que ela se muda para a casa de número 120 descobre que sua nova vizinha, Maraisa, é uma chef de cozinha bonita, jovem e safada...