Capítulo Vinte e Nove

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"Suas qualidades só me trouxeram a paixão, foram os seus defeitos que me trouxeram o amor."

Acordei assustada na manhã de quarta-feira. Meu sono nunca foi muito pesado, por isso tive a sensação de que havia alguém circulando pelo meu quarto. Só depois me lembrei de que quase sempre havia alguém no meu quarto, já que aquela parede e nada eram a mesma coisa.

Ouvi gemidos e congelei no tempo. Maraisa não tinha levado nenhuma de suas vagabundas para casa durante aquela semana, e eu estava achando ótimo dormir na minha cama sem imprevistos, fiquei na esperança de que ela tivesse mudado um pouco depois da nossa discussão, mas, pelo visto, estava enganada. Só para variar.

Olhei o relógio do meu celular meio sonolenta. Constatei que faltavam cinco minutos para as sete da manhã, horário em que o meu despertador comumente toca. Desliguei-o antes que fizesse, soltei um bocejo e agucei a minha audição, tentando saber o que exatamente acontecia no quarto ao lado. Sou curiosa mesmo, me processem por isso.

Os gemidos cessaram, porém, consegui ouvir um soluço curto seguido por uma fungada. Sentei-me na cama prontamente, com o coração já batendo muito forte. Estava me transformando em uma mulher nervosa, prestes a dar chiliques. É fogo!

Ouvi mais fungadas e gemidos curtos, por fim, outro soluço. Demorei a compreender que o que eu escutava não eram ruídos de sexo, mas sim alguém que tentava controlar o choro.

- Maraisa? - Minha voz saiu meio rouca, limpei a garganta. - Maraisa, é você?

Ninguém respondeu, mas não precisava. Eu sabia que era ela.

Alguns segundos de silêncio se passaram, até que uma sucessão de soluços deixou claro que ela tinha desistido de tentar se controlar. Entrou em um desespero completo, compreendi o porquê de a Maraisa estar tão arrasada: era o seu aniversário.

- Maraisah...

- Pare de me chamar assim! - Meu Deus, ultimamente estava ouvindo cada timbre estranho partindo dela! Aquele era novo também, foi um rosnado que juntava raiva e a mais completa tristeza, a voz comumente doce se tornou uma amargura só.

Engoli o nó na garganta, tentando controlar os meus batimentos cardíacos. Estava cansada de tantas emoções confusas... minha cabeça não aguentava mais tanta instabilidade emocional, não via a hora de todo aquele inferno acabar.

- Eu não sei o seu nome completo... - Murmurei.

Preparei-me para ouvir o nome inteiro daquela mulher. Bom, na verdade, fechei os olhos e prendi a respiração como se fosse dar um longo mergulho. Esperei tanto por esse momento que a minha curiosidade havia adormecido, no entanto, a maldita acordou super depressa, e me vi louca da vida. Ensandecida para conhecer a última coisa que precisava sobre ela.

Mas alegria de pobre dura pouco, Maraisa não apenas não disse seu nome completo, como também foi profundamente grosseira.

- Você não sabe de nada... nada!

Quanta aspereza! Foi horrível ser tratada assim, principalmente por ela. O pior é que não era só ignorância, parecia uma espécie de desprezo, dor, sei lá! Só sei que quase tive um infarto, a minha vizinha ia me fazer parar no hospital algum dia, anote o que estou falando.

- Sei que está sofrendo.

- Quem liga? - Mais soluços, coitada!

Deu muita pena, pois a Maraisa começou a chorar pra valer, mesmo que estivesse tentando abafar o choro. Acho que com um travesseiro ou lençol.

- Eu ligo. - Admiti.

Bufou, não respondeu nada. Tentou evitar mais alguns soluços, parecia fazer a maior força para isso, e mesmo assim não conseguia. Fiquei chateada por ela duvidar da minha capacidade de me importar com seu estado emocional, resolvi dar um desconto. Afinal, quando estamos tristes funcionamos de um jeito exagerado.

A VIZINHA DO 119 | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora