Capítulo Vinte e Sete

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"Medindo os limites da minha paciência, da minha esperança e da minha capacidade de articular planos cruéis para conquistar a safada."

Acho que a Maraisa não acreditou muito quando adentrei o quintal do Sr. Pereira pai, desfilando o meu biquíni branco e a minha canga da bandeira do Brasil, estava prontíssima: tinha a pele protegida pelo protetor solar que coloquei em casa mesmo, uma garrafa térmica com caipirinha pronta bem geladinha e o ânimo renovado. Acordei realmente disposta naquela manhã.

A safada sorriu com ar de surpresa durante todo o meu trajeto até a mesa, que já exibia carnes temperadas, prontas para irem à churrasqueira, e verduras recém-cortadas. Peguei dois copos, sem nada falar, e nos servi da caipirinha do mesmo modo como ela havia feito na noite anterior.

Fizemos um pequeno brinde, e só então reparei que Maraisa estava trajando um avental branco de cozinheira por cima do biquíni branco e da velha sunga vermelha. Sinceramente, vê-la daquele jeito me fez entregá-la mentalmente o prêmio de mulher mais sexy do ano.

- Pensei que não viria... - Falou depois de alguns goles enormes e de passar as mãos no cabelo o deixando de um jeito mais sexy.

- Por que eu não viria? - Fui desamarrando o nó da minha canga sob seu olhar curioso, fingi que estava pouco me lixando.

- Sei lá, você está triste, sei que se esforça para estar aqui...

Coloquei a canga em cima dos bancos, sentindo-me ótima por ter conseguido sua total atenção para o meu corpo, e parei para lhe oferecer um sorriso amigável.

- "Um amigo me chamou para cuidar da dor dele, guardei a minha no bolso, e fui..." - citei com ar divertido.

- Você é impressionante, vizinha.

- Obrigada, você também é. - Pisquei um olho só para provocar, Pereira prendeu os lábios, novamente analisando a minha pele exposta. - Por falar nisso, qual é o cardápio de hoje?

Nem consegui conter o tamanho da minha fome. Cabiam dois planetas terra dentro dela. As minhas tripas estavam fazendo um barulho esquisito desde que acordei. Ouvi seu riso animado, era o que sempre soltava quando falávamos sobre comida, cozinha e afins.

- Fiz aquela farofa que você gostou!

- Oba! - Ergui os braços, procurei a bendita farofa pela mesa e a encontrei dentro de uma vasilha. - E os tomates?

- Aqui! - Maraisa riu e me ofereceu uma pequena travessa de vidro, peguei um tomate com a mão mesmo e o levei até a minha boca.

Como previsto, estava bem temperado; o troço derretia na boca e explodia de um jeito viciante. Sério! Até os tomates da vizinha eram suculentos, estavam sempre bem madurinhos, vermelhinhos e saborosos. Eu nunca conseguia comprar frutas e verduras de qualidade, é um saco fazer feira sem entender muito do assunto.

- Delícia! - Exclamei, percebendo que a cretina acompanhava os movimentos da minha boca.

- Isso é porque ficou faltando um tempero especial neles. - Ergueu uma sobrancelha.

- Mesmo? Qual? - Perguntei na maior inocência.

- A minha saliva.

Eita, caralho! Fiz cara de besta enquanto ouvia seu sorrisinho safado perturbar o meu juízo, peguei um pano de prato, que estava em cima da mesa e o joguei na cara dela. Maraisa gargalhou alto, sacudindo o pano de volta. Dei língua, ela num instante parou de rir.

- Ainda bem que você não cuspiu nos tomates. Eca!

- Oh, não, não... a minha saliva precisa se unir ao tomate enquanto ele estiver na sua boca. - Gesticulou como uma profissional dando aula de gastronomia. - É assim, e somente assim, que funciona.

A VIZINHA DO 119 | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora