"Quando percebi que não podia dar mais nada, veio a certeza de que já tinha dado tudo."
Depois de me lavar rapidamente, vesti apenas o robe acetinado e me encontrei com a Maraisa no tapete da Sra. Pereira. Nosso jantar estava servido na mesa de centro, ela não perdeu tempo, fez questão de deixar tudo organizado; o baião de dois, já bem quentinho, exalava um cheiro que me fez lembrar o quanto sentia fome.
Sentei-me do outro lado da mesinha de propósito, mantendo certa distância. Puxei um dos pratos, bem como os talheres, e mandei ver. Não a olhei, mas tinha consciência de que ela também estava comendo – e com a mesma vontade que me dominava. Sexo realmente dá muita fome!
Uns bons dez minutos se passaram, eu até já tinha me esquecido de que não estava sozinha.
– Costuma gozar daquele jeito? – Ela perguntou do nada.
Fiquei admirada com o rumo de seus pensamentos, já que os meus navegavam em direções absolutamente opostas.
– Foi a primeira vez. – Respondi sem olhá-la. – Não achava que fosse possível.
Ouvi seu riso, e nem precisei vê-la para saber que tinha sido um bem cafajeste.
– Claro que é. Só não é tão comum.
– Você sabe mais sobre o assunto do que eu. – Falei com impaciência.
O silêncio voltou bem depressa, percebi que eu estava engolindo a comida quase sem mastigar. Que falta de educação, Marília! Dei uma pausa, tomando um pouco do vinho.
– Não paro de pensar nisso. Ver você daquele jeito... foi sensacional.
Seria estranho se dissesse que fiquei irritada? Apesar de ter vivido uma experiência nova e intensa, não conseguia me livrar da sensação de fracasso. Acho que finalmente entendi que, por mais que eu a atingisse, jamais seria do mesmo modo como ela me atingiu, todos os meus esforços eram em vão.
Nada adiantava, e é por isso que eu estava tão decidida a recuar.
– Marília? – Sobressaltei-me. Nem tinha percebido que não estava prestando atenção em mais nada ao meu redor. Maraisa apenas riu da minha confusão. – No que está pensando?
– Estava me perguntando como seria viver sem amar ninguém, deve ser difícil.
Ainda não me sentia pronta para olhá-la, mas seu silêncio deixou óbvio o descontentamento diante das minhas palavras.
– É muito mais fácil do que imagina.
Bati a ponta da faca na mesa, irritada e muito impaciente.
– É mentira! – Falei alto demais, encarando-a. Maraisa estava segurando sua taça e o prato jazia vazio sobre a mesinha. – Você mente para todo mundo e para si mesma! Não é fácil coisa nenhuma. Você é uma frustrada, Pereira. Perdeu todos que amou, e agora acha que não pode amar mais ninguém!
Ela me olhava admirada, sem conseguir acreditar que tive a coragem de dizer aquilo. Bom, ela não foi a única, eu também não acreditava. Seu rosto começou a ferver de raiva, as expressões se fecharam em uma carranca dura.
– Eu faço as minhas escolhas, Marília.
Bufei.
– Péssimas escolhas.
– Respeito as suas! – Falou um pouco mais alto também, seu rosto ficava cada vez mais vermelho. – Que tal respeitar as minhas?
– Estou treinando, se serei sua amiga, então meu dever é te alertar. Você não vai a lugar algum perdida desse jeito, Maraisa, ninguém chega onde quer sozinha!
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A VIZINHA DO 119 | MALILA
FanfictionA analista de sistemas Marília Mendonça aos 28 anos finalmente compra um imóvel e realiza o sonho de morar sozinha. Assim que ela se muda para a casa de número 120 descobre que sua nova vizinha, Maraisa, é uma chef de cozinha bonita, jovem e safada...