Capítulo Vinte e Três 🔥

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"Quando percebi que não podia dar mais nada, veio a certeza de que já tinha dado tudo."

Depois de me lavar rapidamente, vesti apenas o robe acetinado e me encontrei com a Maraisa no tapete da Sra. Pereira. Nosso jantar estava servido na mesa de centro, ela não perdeu tempo, fez questão de deixar tudo organizado; o baião de dois, já bem quentinho, exalava um cheiro que me fez lembrar o quanto sentia fome.

Sentei-me do outro lado da mesinha de propósito, mantendo certa distância. Puxei um dos pratos, bem como os talheres, e mandei ver. Não a olhei, mas tinha consciência de que ela também estava comendo – e com a mesma vontade que me dominava. Sexo realmente dá muita fome!

Uns bons dez minutos se passaram, eu até já tinha me esquecido de que não estava sozinha.

– Costuma gozar daquele jeito? – Ela perguntou do nada.

Fiquei admirada com o rumo de seus pensamentos, já que os meus navegavam em direções absolutamente opostas.

– Foi a primeira vez. – Respondi sem olhá-la. – Não achava que fosse possível.

Ouvi seu riso, e nem precisei vê-la para saber que tinha sido um bem cafajeste.

– Claro que é. Só não é tão comum.

– Você sabe mais sobre o assunto do que eu. – Falei com impaciência.

O silêncio voltou bem depressa, percebi que eu estava engolindo a comida quase sem mastigar. Que falta de educação, Marília! Dei uma pausa, tomando um pouco do vinho.

– Não paro de pensar nisso. Ver você daquele jeito... foi sensacional.

Seria estranho se dissesse que fiquei irritada? Apesar de ter vivido uma experiência nova e intensa, não conseguia me livrar da sensação de fracasso. Acho que finalmente entendi que, por mais que eu a atingisse, jamais seria do mesmo modo como ela me atingiu, todos os meus esforços eram em vão.

Nada adiantava, e é por isso que eu estava tão decidida a recuar.

– Marília? – Sobressaltei-me. Nem tinha percebido que não estava prestando atenção em mais nada ao meu redor. Maraisa apenas riu da minha confusão. – No que está pensando?

– Estava me perguntando como seria viver sem amar ninguém, deve ser difícil.

Ainda não me sentia pronta para olhá-la, mas seu silêncio deixou óbvio o descontentamento diante das minhas palavras.

– É muito mais fácil do que imagina.

Bati a ponta da faca na mesa, irritada e muito impaciente.

– É mentira! – Falei alto demais, encarando-a. Maraisa estava segurando sua taça e o prato jazia vazio sobre a mesinha. – Você mente para todo mundo e para si mesma! Não é fácil coisa nenhuma. Você é uma frustrada, Pereira. Perdeu todos que amou, e agora acha que não pode amar mais ninguém!

Ela me olhava admirada, sem conseguir acreditar que tive a coragem de dizer aquilo. Bom, ela não foi a única, eu também não acreditava. Seu rosto começou a ferver de raiva, as expressões se fecharam em uma carranca dura.

– Eu faço as minhas escolhas, Marília.

Bufei.

– Péssimas escolhas.

– Respeito as suas! – Falou um pouco mais alto também, seu rosto ficava cada vez mais vermelho. – Que tal respeitar as minhas?

– Estou treinando, se serei sua amiga, então meu dever é te alertar. Você não vai a lugar algum perdida desse jeito, Maraisa, ninguém chega onde quer sozinha!

A VIZINHA DO 119 | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora