Capítulo Dois

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"Só queria dormir em paz, mas a paz não foi feita para pessoas como eu."

Arranjei uma desculpa qualquer para não prolongar o jantar na casa da Srta. Maraisa Pereira. Ela ainda tentou me empurrar uma taça de vinho, mas neguei e fiquei só com a torta alemã que havia preparado mais cedo. Estava uma delícia. Ela cozinha muito bem. E fisgaria qualquer mulher pelo estômago se não tivesse a capacidade de fisgá-las por outras partes do corpo.

A primeira noite dormindo sozinha na minha casa foi bem esquisita. Não consegui pregar o olho direito, pois estava estranhando tudo. As sombras do meu quarto escuro, o colchão novo – e duro demais para o meu gosto –, o cheiro, os ruídos. Ou a ausência deles. Não estava acostumada a dormir em meio a tanto silêncio. Liguei a TV em um volume baixo para ver se melhorava, mas ainda assim tive dificuldade para dormir.

Vi o sol nascer e um galo cantar bem distante, e então consegui dar um cochilo. Não foi grande coisa, visto que precisava me acordar exatamente às sete horas. Não podia me atrasar para ir ao trabalho, visto que o meu chefe era um porre com relação aos horários. Adorei acordar e não ter que esperar uma fila enorme para conseguir tomar um banho. Consegui me arrumar em menos de meia hora, coisa quase impossível na minha antiga casa. Meu irmão demorava horas se masturbando logo pela manhã no banheiro, a minha irmã dava banho na minha sobrinha – mesmo podendo fazer isso mais tarde, pois é uma desocupada que não trabalha e só sabe falar mal dos outros –, a minha avó inventava de lavar a sua dentadura e os meus pais ficavam gritando ordens feito loucos enquanto faziam o café da manhã. Um inferno na terra.

Não me importei com o fato de não ter conseguido dormir quando saí de casa quinze minutos mais cedo do que o normal. Atravessei o jardim com um sorriso enorme estampado no rosto. Não havia comido nada, mas, por incrível que pareça, ainda estava satisfeita com o nhoque do dia anterior. Sabia que teria fome mais tarde, por isso decidi ir atrás de algum mercado ou padaria por conta própria.

– Bom dia, vizinha! – A voz de Maraisa me assustou, tirando-me dos devaneios. Eu estava prestes a abrir a portinha da frente. Olhei para os lados, fazendo caretas, mas não encontrei a garota em parte alguma. – Aqui, ao lado da roseira!

Espremi os meus olhos e a procurei pelo jardim. Havia uma roseira, que dava rosas vermelhas, um luxo! Perto do muro gradeado, no extremo esquerdo do terreno. Vi a safada do 119 empunhando uma tesoura enorme. Ela estava cortando alguns galhos da roseira, eu acho.

– Bom dia, vizinha! – Saudei, sentindo-me um pouco envergonhada. Por incrível que pareça, Maraisa estava vestida com um short bem recatado e uma camiseta de manga comprida. Nunca a tinha visto com tanta roupa. Tudo bem que estava fazendo um frio bem gostoso àquela hora da manhã, mas achei que a pele dela tivesse desenvolvido características da pele de um jacaré, e andasse parcialmente nua durante vinte e quatro horas por dia.

 Tudo bem que estava fazendo um frio bem gostoso àquela hora da manhã, mas achei que a pele dela tivesse desenvolvido características da pele de um jacaré, e andasse parcialmente nua durante vinte e quatro horas por dia

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– Você está muito gata... toda importante e inteligente. Bom dia de trabalho! Corei de imediato. Precisava me acostumar, precisava me acostumar, precisava me acostumar...

A VIZINHA DO 119 | MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora