Olhe para o Abismo

Capítulo 30 : um olhar para o futuro

Satomi está esperando por ele em um local ligeiramente isolado atrás das arquibancadas - o estacionamento à vista, muitos retardatários da torcida do jogo ainda por perto e escondidos da polícia que trabalha no campo; para minimizar a chance de ser descoberto e levado para interrogatório, provavelmente. E embora Stiles tenha certeza de que Satomi realmente não queria discutir nada muito sensível - não quando eles ainda poderiam ser ouvidos - ele não pode deixar de traçar um simples escudo em torno de ambos. Ele já se acostumou a fazer aqueles na hora mesmo.

"Tudo bem", ele suspira, a mão caindo ao lado do corpo enquanto para diante do alfa, "ninguém deve nos ouvir ou interromper agora."

Stiles tenta não ficar inquieto quando a sobrancelha de Satomi se ergue, apenas ligeiramente, e ela dá uma olhada superficial ao redor.

“Eu não teria imaginado que você fez alguma coisa agora,” ela reflete, seus lábios curvados em um leve sorriso, sabendo, mas não presunçoso, de uma forma que faz Stiles querer se esconder e se enfeitar ao mesmo tempo. Uma faísca bem-humorada surge em seus olhos sábios, mas se desfaz em uma espécie de apreciação, talvez até admiração. “Para um Spark tão jovem, você já alcançou seu poder admiravelmente bem. Posso perguntar há quanto tempo você tem isso?”

O rubor anterior apenas ligeiramente quente no rosto de Stiles é possivelmente escaldante agora, mas apesar do constrangimento, Stiles pode admitir que é incrivelmente bom ser reconhecido - e por um alfa tão experiente também. Mas a pergunta o deixa um tanto inquieto - ele já pode ver a descrença vindo de quilômetros de distância.

"Por... mais de um ano, eu acho." É tudo tão nebuloso na mente de Stiles, aqueles meses pós-separação, quando seu corpo doía e sua mente nadava em dor e autonegação tão profundas que era preciso sacudir uma casa para despertá-lo. A respiração sai de Stiles estremecendo e esvoaçando como uma borboleta. “Eu sei que eu os tinha ativos, mais ou menos, desde o— desde que nos separamos, eu e— e o Vazio, mas eu não trabalhei com isso até mais tarde. É... É difícil, ainda, mantê-lo... contido, eu acho, mas estou conseguindo.

Ele dá de ombros, como se para afastar o peso de suas próprias palavras, e finalmente arrisca um olhar para Satomi - aí está a surpresa esperada, claro, mas a maior parte do choque inicial já deve ter passado, substituída por uma consideração silenciosa. Os olhos dela traçam as tatuagens visíveis em seu braço esquerdo, os pequenos pedaços espreitando sob o colarinho, olhar atento, mas não intrusivo. E Stiles de repente se lembra da curiosidade de Brett naquela festa fatídica - ele se pergunta, com as sobrancelhas franzidas levemente, se Brett contou a seu alfa sobre isso naquela época, ou se ele pensou em alguma coisa sobre isso.

Quando Satomi fala novamente, seu tom é pensativo:

“Parece muito pouco tempo para atingir tais níveis de competência com poder como o seu. Tenho a impressão de que pode ser bastante... volátil.

“Sim...” Stiles lambe o lábio inferior, a magia zumbindo em suas veias com os últimos resquícios de excitação e apressando-se com a antecipação em seu estômago, tão sintonizado com suas emoções e sentimentos que é como se fossem um só. “Sim, é, mas eu – eu tive ajuda. E eu não estaria onde estou sem ele.”

As memórias de todos esses meses são tão vívidas que é como se estivessem permanentemente gravadas em seu cérebro, e com todas elas passando por trás de suas pálpebras como imagens residuais, Stiles não pode deixar de olhar ao redor - procure a silhueta familiar do demônio, mesmo que ele não esteja lá; procurando apenas um vislumbre fugaz no meio da multidão. É infrutífero e decepcionante que o Void esteja longe de ser visto, mas o calor sob sua runa permanece sempre presente.

“Eu não acho que muitos conseguiram fazer um Yako compartilhar seus conhecimentos e viveram para contar a história,” diz Satomi, em tom pensativo, mas quando Stiles olha para ela com surpresa, seus olhos brilham com humor.