Capítulo 7

27 8 32
                                    

— Eu poderia andar. — Sugeri, em uma tentativa medíocre de parecer calma após ter sido jogada por cima do ombro ossudo de Viessa Thyme como um saco de batatas.

Ela, no entanto, apenas me ignorou. Apesar de eu me considerar acima do peso, Viessa começou a andar como se estivesse carregando penas.

No momento em que saímos do bar, encontrei-me sob um céu escuro. A neblina ao nosso redor fazia com que fosse difícil identificar os arredores, mas eu podia ver pedaços de metal enterrados no solo úmido e pinheiros cheios de musgo. Lixo estava espalhado por todo o canto, e as poucas luzes acesas piscavam incessantemente ao nosso redor. Algumas poucas pessoas andavam por ali como fantasmas, sem parecer notar nossa presença.

O que era aquele lugar?

— Sério, me põe no chão. — Aumentei meu tom de voz. — Por favor.

— Você nunca cala a boca? — A assassina resmungou, mas teve a decência de acatar ao meu pedido. Com meu coturno no chão, pude então observar o céu sem estrelas.

Seguimos por uma trilha escura, isolada de toda e qualquer civilização. O único som que conseguia escutar era o de cigarras cantando. Viessa me empurrava com a palma da mão, forçando-me a andar à sua frente. Seu empurrão me fez tropeçar algumas vezes, então foi de grande alívio quando finalmente paramos de andar.

— Chegamos.

Olhei ao redor, tentando identificar algo na escuridão.

— Onde?

— Ali. — Ela apontou para uma grande e longa carruagem de metal abandonada, cujos tecidos nas janelas cobriam qualquer sinal de movimento na parte de dentro. As trepadeiras trançavam seu caminho desde as rodas até o teto, invadindo inclusive a porta de vidro.

Antes que eu pudesse analisar melhor, Viessa voltou a me empurrar, mas dessa vez para dentro do veículo estranho.

— Caeda, trouxe uma coisa para você.

Os degraus na subida davam para um corredor comprido e cinzento. De um lado, podia-se ver um banco velho e o que parecia ser um timão de navio à sua frente; outro lado era coberto por luzes coloridas. A parede era quase toda revestida de papéis, cujos rabiscos eu não tinha tempo de desvendar. Tive de tomar cuidado para não pisar em nenhuma das estranhas peças que estavam soltas no chão.

— Não me chame de Caeda. E por que estamos falando em Fungii? — Uma voz infantil respondeu por trás de uma cortina rubra que servia de divisória do local. Ao contrário de Meriel, Elly e Viessa, ele não tinha sotaque nenhum; falava em um Fungii perfeito, até na entonação.

Assim que passamos pela cortina, pulei de susto ao ver uma espécie de boneco de metal avançando rapidamente em nossa direção. Ele começou a usar seus braços, que mais pareciam pregos gigantes, para atacar Viessa, que não parecia nem um pouco surpresa. Após um bam, pude ver apenas a cabeça do boneco voando para a parede e quebrando em pequenos estilhaços. De seu pescoço, uma fumaça escura saiu, e seus braços pairaram mortos no chão.

Viessa havia destruído aquela coisa com apenas um soco.

— Filha da puta. Eu demorei de construí-lo.

— Se prezava tanto pelo seu robô, não deveria ter feito ele tentar me matar.

A criança à minha frente assentiu, genuinamente pensativo.

— Justo.

O menino-coruja estava sentado em frente a uma escrivaninha bagunçada, no que parecia ser um laboratório improvisado. Deveria ter uns doze anos, mas algo me dizia que ele tinha bem mais que isso. Onde deveria ser branco, a esclerótica de seus olhos era negra como a noite lá fora, mas sua íris tinha um lindo tom de dourado. De sua pele escura saíam penas pontudas, e pequenas orelhas se mexiam em cima de sua cabeça. No entanto, o rapaz não tinha asas, e seu corpo, escondido em um manto largo e escuro, parecia ser humano.

O Fim de OstaraOnde histórias criam vida. Descubra agora