Assim que saí do castelo, bem no momento em que a lua deu lugar a um céu manchado de laranja e azul, percebi o quão tola havia sido. Tudo o que eu tinha em mãos era ouro, roupas o bastante para aguentar o clima autunal por cinco pares de dias, e um nome desconhecido em um papel amassado. E, apesar destes objetos serem úteis e valiosos, nenhum deles se remetia a um plano sólido.
E, para piorar, o Reino Fúngi não era exatamente o que eu chamaria de movimentado; depois da meia-noite, poucos eram os sóbrios que vagavam na rua, e os embriagados não seriam de muita ajuda para a minha missão. Por isso, decidi deixar meu sapo em um dos estábulos mais próximos e passar a noite na primeira pousada que vi, apesar de ter noção da impossibilidade de obter uma boa noite de sono.
Meu quarto era nada além de bom o suficiente. Pequeno, alaranjado, com paredes finas o bastante para escutar os rumores da taverna no andar de baixo. Passei o resto da madrugada encarando o quadro em frente à cama dura; um barco retratado no meio de uma tempestade, as ondas batendo violentamente no casco. Quando a exaustão tomou conta do meu corpo, pensei ter visto a pintura se mover.
No momento em que o sol surgiu em meio às montanhas foi quando decidi me levantar e ir à taverna, cobrindo-me com um manto verde-musgo que minha mãe havia costurado para mim, e calçando um coturno invernal. Com sorte, seria o suficiente para esconder minha nobreza; não que fosse muito difícil, já que Rei Bekko pouco contribuiu em minha aparência, e eu duvidava que alguém se esforçaria o bastante para notar minha identidade estampada nos meus olhos.
Só quando vi todos comendo ao meu redor, que notei o quão faminta eu estava. Sentei-me no balcão e, aproveitando para pedir panquecas para a garçonete, perguntei:
— A senhora saberia me dizer se conhece o nome "Viessa Thyme"?
A mulher negou com a cabeça, os olhos pregados no balcão enquanto o limpava com um pano encardido.
— Sinto muito, senhora. Mas talvez possa perguntar lá no porto. Os que trabalham lá costumam conhecer bastante gente.
— E onde seria o porto?
— Do outro lado do distrito, seguindo ao leste. É um pouco longe, mas a senhora pode conseguir uma carona por aqui.
Agradeci com um aceno e, terminando o prato de panquecas em menos de cinco minutos, deixei-lhe uma gorjeta e saí.
A partir dali, eu sabia que a jornada seria longa. Em toda pousada que eu ficava, em todo restaurante ou bar que eu comia, ninguém sabia me dizer quem era Viessa Thyme. Mesmo aqueles que claramente sabiam de quem eu estava falando se recusavam a me responder ou me ignoravam, como se tivessem sido vítimas de uma brincadeira de mau gosto.
À noite, a ansiedade tomava conta de mim e me impedia de dormir, apesar de minha recorrente exaustão e fadiga. Eu deveria ter tirado Primavera do palácio antes de ir embora, pois agora, quatro dias depois de minha partida, comecei a me perguntar se fora uma boa ideia deixá-la desprotegida. Eu poderia, claro, contratar um espião, caso soubesse onde achar um; no entanto, cada moeda que carregava era valiosa, pois eu não sabia por quanto tempo ficaria fora de casa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Fim de Ostara
FantasiQuando a princesa Oleandra descobre uma trágica profecia sobre sua irmã mais nova, ela decide que fará de tudo para evitá-la, mesmo que isso signifique se unir aos piores criminosos do mundo. Pois existe apenas uma pessoa capaz de ajudá-la a salvar...