Capítulo 14

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— O que conseguiu pegar? — A voz de Viessa surgiu pela primeira vez em bons minutos, assim que avistamos Elly e um par de caixas. Fui a primeira a subir no barco, sentindo o olhar da mulher felina revezar curiosamente entre meu rosto inchado e o cabelo trançado da assassina atrás de mim.

— Nada demais. Farinha, cevada e alguns e ovos são as únicas coisas que tinham nessa época do ano.

— Vai bastar.

— Para alimentar mais de cem bocas? Não tenho certeza.

— Se não der, você sempre pode voltar e roubar algumas cabras. — Os lábios de Viessa se alargaram em um sorriso, e eu não consegui evitar de pensar de que modo aqueles alimentos foram adquiridos.

Elly deu de ombros, sem esboçar reação ao que fuçava em uma das caixas.

— Apesar de que... — Disse. — Eu consegui algumas bebidas para hoje à noite.

— Uísque?

— Não, mas algumas cervejas. E rum.

— Bom trabalho, Elly. — Viessa cruzou as pernas no chão. Em sua voz, pensei ter sentido um resquício de algo que se assemelhava a carinho.

— E o que ela tem? — A mulher felina apontou para mim, seu rabo balançando agitadamente. Eu, que havia me habituado com o papel de observadora daquela situação, sentei-me contra o bombordo do barco.

— Depressão sazonal, suponho. — Respondeu a assassina.

— Estou bem. — Minha voz saiu como um protesto. Pigarreando, tentei mudar de assunto. — Para que precisam das bebidas? Já não temos mais que suficiente?

— Não te contaram? — O olhar de Elly foi direto para a outra mulher. — Hoje é dia de eclipse lunar e lua sangrenta. Nós dizemos que é um tipo de celebração, mas é só uma desculpa para ficarmos todos bêbados e agarrarmos todo mundo no escuro.

— Agarrar? Tipo, dançar?

— Céus. — Riu Viessa.

— É, provavelmente terá dança. — Continuou Elly com um sorriso travesso. — Por que você não vem comigo?

— Eu não sei... — Mordi meu lábio inferior, talvez mais forte do que deveria. Eu não só repudiava a ideia de estar no meio de tantos bêbados, quanto não achava certo procurar me divertir enquanto minha irmã ainda estivesse em perigo.

— Por favor, Oleandra. Terá comida, fogueira, música, dança, muitos lábios para beijar... E, como sua chefe, sei que você nem trabalha à noite, então nem adianta dizer que tem coisas a fazer.

— Eu acho engraçado o modo como você não especificou quais lábios. — Comentou Viessa, arqueando a sobrancelha com um olhar sugestivo em direção à amiga. — De qualquer forma, acha mesmo que a princesa do reino Fúngi aceitaria se misturar com a ralé?

Senti meu rosto esquentar, sem saber se de raiva ou constrangimento. Conforme as duas brincavam entre si e eu, mais uma vez, assumia o papel de observadora, sentia-me como uma criança, inexperiente demais para sequer entender metade do que diziam.

E eu estava tão cansada de me sentir assim.

— Eu quero ir. — Murmurei. — Elly, pode me ajudar a escolher o que vestir?

 — Elly, pode me ajudar a escolher o que vestir?

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O Fim de OstaraOnde histórias criam vida. Descubra agora