Capítulo 3

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O ancião então queimou um pedaço de madeira e espalhou sua fumaça pela barraca com as mãos. O cheiro de fogueira invadiu minhas narinas e senti a súbita urgência de tossir, mas, por um motivo desconhecido para mim, não o fiz, contendo a tosse na garganta até a vontade cessar.

— O controle —, foram as últimas palavras que me disse. — É uma coisa engraçada. Quanto mais se tem, mais se deseja.

As lembranças de horas atrás invadiam minha cabeça e martelavam minha paz, impedindo-me de dormir

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As lembranças de horas atrás invadiam minha cabeça e martelavam minha paz, impedindo-me de dormir. Observei a pequena menina-cogumelo pacificamente apagada em meus braços e chequei sua respiração, posicionando o dedo cuidadosamente em frente ao seu nariz.

Uma parte de mim ainda não conseguia acreditar no que havia escutado do velho Volva. Vera não parecia um semideus: ela não possuía uma partícula sequer de liderança em seu corpo, e com certeza não se interessaria em reinar. Então, por quê?

Movi meu braço de debaixo de sua cabeça e me sentei na cama. O quarto, iluminado apenas por uma vela na mesa de cabeceira, era bem menor que o meu quarto no castelo, o que ironicamente o tornava mais confortável. Os quadros que minha mãe pintara, ou os bordados que pendurara nas paredes emadeiradas de meu quarto, tinham sempre tons fortes de verde, pois ela sabia que era minha cor favorita.

Levantei-me, deixando uma cavidade vazia onde antes estava meu corpo, e peguei um xale vermelho do armário. Quando me direcionei à varanda, pude ver uma figura se balançando na rede, provavelmente observando as estrelas. Não que tivesse muito a observar, mas, ainda assim, abotoei meu robe até o pescoço e sentei-me na escada para fazer o mesmo.

— Você parece inquieta. — Disse ela.

— Você também.

Minha mãe riu de minha réplica, virando-se para mim com olhos brilhantes, ainda que na escuridão.

— No que está pensando, minha frostiana?

— Eu recebi uma previsão ruim de um Volva. — Admiti com facilidade, percebendo naquele momento que realmente estava precisando desabafar aquilo com alguém. — Eu não sei o que fazer. Até algumas horas atrás, eu estava profundamente insatisfeita com tudo, e parecia que nada nunca seria bom o suficiente. Mas, agora... — Só percebi que estava chorando quando gotas salgadas invadiram meus lábios. Enterrei minha cabeça em meus joelhos, deixando o resto das lágrimas escorrerem livremente pelo tecido branco sem que minha mãe as notasse. — Eu só quero que nada mude.

— Oh, minha querida. — Sua voz parecia uma faísca quente em meio a um inverno cruel. A escutei sentar-se ao meu lado, e, quando subi o rosto para enxergá-la, senti sua mão no meu ombro. — Uma coisa que sei com certeza é que o destino nunca é certeiro. Veja, eu mesma recebi inúmeras profecias que nunca se concretizaram. Os Volvas se enganam, às vezes, sabe? Acredito que os deuses não falam como nós, e muitas coisas saem erradas na tradução.

O Fim de OstaraOnde histórias criam vida. Descubra agora