Capítulo 15

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A luz do sol atravessou minhas pálpebras, forçando-me a acordar. Minha cabeça parecia pesar cem quilos, resistindo a qualquer esforço de levantar da cama, mas, superando minha própria crença em mim mesma, consegui me mover.

Minha visão estava turva, mas sorri em ver a janela ao meu lado, de onde entrava o canto dos cucos e noitibós. As tábuas que antes escureciam o cômodo agora pousavam delicadamente no chão, e eu não precisava usar muito do meu cérebro para saber quem foi que as tirara da janela.

Ao levantar, troquei as roupas do luau pelo suéter que minha mãe me dera. Gostaria de tomar um banho, mas o único banheiro da taverna ficava no mínimo inutilizado quando os clientes chegavam. O jeito era tomar banho de lago ou mar, mas a mísera ideia de ficar nua ao ar livre em pleno inverno me fazia estremecer.

Por conta disso, apenas amarrei meu cabelo com um laço e torci para não estar cheirando a rum.

— Alguém tem algum chá para dor de cabeça? — Abafei um bocejo ao descer as escadas velhas da taverna.

— Alguém acordou de ressaca. — Uma voz rouca me fez abrir os olhos. Viessa, sentada em uma das cadeiras em frente ao balcão, equilibrava um cigarro em seus lábios curvados, sem se importar o suficiente para olhar para mim. Ela bebera tanto quanto eu, talvez até mais, mas, ao contrário de mim, estava bonita como sempre: sua franja escura estava presa para trás com o mesmo laço que minha irmã usara para prender a trança de seu cabelo, dando um aspecto quase infantil a Viessa, ainda que suas roupas escuras expressassem o completo oposto.

— Não estou de ressaca. Só dormi pouco ontem.

Apesar de ser manhã, a taverna estava estranhamente movimentada. Enquanto a assassina estivesse no balcão, porém, eu sabia que ninguém faria nenhum pedido; aproveitando tal privilégio, permiti-me pegar uma fatia de pão frio e duro.

— Você dormiu até meio dia —, comentou Elly, enquanto secava um copo.

— Até meio dia?! — Minha boca ainda estava cheia de pão quando respondi. — E ninguém foi ver se eu estava viva?

— Vendo você sair da festa com Viessa —, começou Meirel, bebericando o líquido do pequeno copo em suas mãos (patas?). — Supomos que você já estava bem acompanhada.

Elly riu baixinho, de costas para o resto do grupo, enquanto continuava a secagem da louça.

— Que nojo, seu velho impotente. Eu nunca transaria com ela. — Disse Viessa, subitamente séria, embora suas sobrancelhas estivessem arqueadas com sarcasmo.

Eu não saberia dizer se fora o comentário de Meriel, a resposta de Viessa, ou a imagem mental que me proporcionaram, mas as palavras saíram de minha boca antes que eu as notasse.

— Precisava? — Cruzei os braços. — Eu também nunca me deitaria com você.

O que era para ser um comentário afiado saiu como um murmúrio constrangido. Os três riram, intensificando o rubor em minhas bochechas.

— Vocês são tão estúpidos.

— Falando em pessoas que você não se "deitaria" — a morena apagou o cigarro no cinzeiro à sua frente. — Caeda pediu para te lembrar que você deve passar lá. Tipo, agora.

O Fim de OstaraOnde histórias criam vida. Descubra agora