Capítulo 4

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Havia uma lenda antiga sobre a Primeira Guerra de Rag, bem antes dos reinos estabelecerem um tratado de paz. A lenda dizia respeito a um príncipe, Corian, cuja força superava o maior dos soldados; carregava animais gigantes como se fossem sacos vazios, e era amado e admirado por toda a população do reino Mammalia. Habilidades poderosas como a dele, no entanto, sempre nos torna alvos da ambição de outrem.

E foi o que aconteceu. Um alquimista – antes, é claro, da alquimia ter se tornado crime – decidiu sequestrar o príncipe Corian e tomar seus poderes para si, mas não imaginava que o mataria no processo. E não apenas isso, mas sua ofensa aos Deuses foi tão grave que tal habilidade o tornou um alvo também; foi morto em questão de dias, e assim seu poder foi passado de assassino para assassino por toda a eternidade.

Poderes sempre soaram como maldições para mim.

Minha obstinação a pedir desculpas ao rei Bekko era maior que meu orgulho, ainda que eu não considerasse minhas atitudes erradas

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Minha obstinação a pedir desculpas ao rei Bekko era maior que meu orgulho, ainda que eu não considerasse minhas atitudes erradas. Entretanto, os riscos de manter uma relação ruim com ele poderiam vir a me prejudicar mais tarde; o rei possuía plena capacidade e motivação necessária para me cortar da vida de Primavera, e, como uma parcela da profecia do Volva estava certa, eu tinha de ser capaz de protegê-la da outra parcela.

A ocasião perfeita surgiu quando, na noite seguinte ao nosso retorno da cidade, avistei meu pai sozinho na longa mesa de jantar. Não era incomum que jantássemos a sós, mas o clima pesado me fez hesitar antes de entrar.

— Oleandra. — Disse ele, como se pressentindo minha presença no arco dourado ao seu lado, enquanto levava o lenço branco à boca.

— Pai. — Respondi com o mesmo tom, e sentei-me no lado oposto da longa mesa. — Onde estão Yrhena e Primavera?

Talvez eu tenha sido muito direta, ou muito indelicada. De qualquer modo, o rei desviou os olhos do prato para meu rosto, expressando cautela em suas feições.

— Estão ocupadas com seus afazeres. — Respondeu. — Mas, se não me engano, Teodas está voltando de viagem hoje.

— A viagem demorou, desta vez.

— Ele teve de se reunir com os regentes do Reino Amphibis.

— Entendo. — Uma criada adentrou a sala com uma bandeja antes mesmo de eu terminar a palavra. Quando ficamos sozinhos novamente, o cheiro de sopa invadindo minhas narinas e me fazendo salivar, continuei: — Pai, sobre Primavera...

— Esquentei minha cabeça ontem. — Disse ele, para a minha surpresa. Se não fosse a leve tensão em seus lábios, eu diria que estava depositando toda a sua atenção na comida. — Minha reação foi exagerada.

Sua fala massageou meu orgulho e estampou um sorriso involuntário em meus lábios. Meu pai nunca pedia perdão. Não era normal que reis e rainhas pedissem por algo ao invés de ordenarem, então não o condenava por isso; era o suficiente saber que ele tinha noção do quanto errou.

O Fim de OstaraOnde histórias criam vida. Descubra agora