Capítulo 8 - O lugar de cada um

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A carta veio durante a tarde com as notícias sobre as novas taxas que haveriam de ser implementadas

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A carta veio durante a tarde com as notícias sobre as novas taxas que haveriam de ser implementadas. No dia seguinte, eu planejava viajar até a capital para minha reunião mensal com Issachar, onde poderíamos discutir mais sobre aquele assunto.

Graças aos esforços de Pietá no último ano, eu havia aprendido as letras e as palavras mais complicadas do idioma antariano, e conseguido dar vazão ao trabalho de condessa da Parede de Pedra.

Ainda assim, boa parte do trabalho consistia em garantir que os poderes locais se mantivessem equilibrados, mesmo na linha entre a legalidade e a ilegalidade.

Naquela noite, saí sem ser percebida e me encontrei com os corsários no Porto. Muitos piratas haviam aceitado a proposta do império de trabalharem como corsários, mas muitos ainda atacavam nossos navios nas águas rumo ao Sul.

Depois de ver de perto o funcionamento de um navio pirata, do tempo que passamos com Água Negra, negociar com aqueles tipos era um tanto mais fácil do que eu havia imaginado e consegui colocar um mínimo de ordem, mesmo quando piratas não licenciados esgueiravam-se frequentemente nas águas do meu condado. Ao menos agora evitavam fazer bagunça e passavam mais despercebidos.

Retornei pra casa após conferir a entrega das mercadorias e da taxa que adicionei aos navios que ancoraram no Porto, caminhando pelas ruas escuras com meu capuz alto. Poderia ter ido de dia, com uma carruagem e acompanhada de cavaleiros, mas não queria que o povo me visse nas docas.

Eu havia conseguido criar a imagem da perfeita nobre dama, então tratar com homens sujos e com subornos na calada da noite não cairia bem com a minha imagem.

Também não poderia sair acompanhada de um cavaleiro, pois sir Leonel sempre fazia um furdúncio para que as coisas fossem feitas de forma burocrática e certinha.

Atravessei o portão sem ser parada, pois os guardas já conheciam meus hábitos noturnos e eu havia lhes pagado generosamente para que ficassem quietos. Mas como poderiam haver servos acordados no Forte, decidi escalar até minha janela.

Me aproximei da videira que descia pelas sacadas e a qual eu havia usado muitas vezes como auxílio. Porém, quando quase alcançava o segundo andar, errei o passo e acabei ralando meu corpo na parede de pedra, antes de cair com o traseiro no chão.

Torci de mal jeito a perna e grunhi baixinho. Me pus de pé com esforço e decidi repensar minha estratégia de entrar em casa assim. Estava ficando cansativo.

Me esgueirei pelo escuro do jardim e senti arder também meu cotovelo enquanto mancava, me sentindo estranhamente patética. Consegui adentrar o Forte pela entrada da cozinha, sem ser notada, e subi as escadas, avançando pelos corredores escuros rumo ao meu quarto.

Removi o manto e as roupas escuras e vesti minha camisola. Observei meu cotovelo ralado e ergui a saia para notar o pé inchado. Apesar de ser uma adulta, senti uma súbita vontade de chorar e meu primeiro pensamento foi Pietá. Talvez eu tivesse me tornado estranhamente dependente da figura severa, mas maternal de Pietá.

A Guerra dos Impérios - Volume III: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora