Capítulo 10 - Aceitação

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Foi o sonho mais estranho

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Foi o sonho mais estranho... Fazia Sol e minha mãe assistia ao pasto enquanto sacolejava na cadeira de balanço. Eu jurava que já havia me esquecido de seu rosto, mas lá estava ela com seus cabelos castanhos longos e soltos, sacudindo com o vento. Seus olhos escuros se amiudaram e quase sumiram entre as bochechas sardentas.

— Eleonor... — A voz do meu pai chamou minha atenção e o vi parando ao lado dela na varanda. Seus olhos pareceram surpresos ao notar algo: — O tempo está bom hoje!

Ele era um homem robusto e atlético. O vento bagunçou seus cabelos rebeldes e ele sorriu de canto, como se apreciasse a brisa. Estava bronzeado de tanto trabalhar no campo, mas isso lhe conferia muito mais charme e combinava com sua feição marota e galante, que devia ter quebrado muitos corações em seu tempo. Ainda assim, seus olhos fitavam minha mãe com quentura, como se poucas coisas no mundo fossem tão queridas quanto ela.

— O que acha de comermos do lado de fora? É tão raro que faça Sol. O tempo deve fechar logo. — Mamãe sugeriu.

— Acho uma boa ideia. Onde está Issachar?

Mamãe apontou pra mim, parado no meio do campo. Seus olhos me fitaram de forma tão vívida que eu parecia estar realmente ali.

— Vá lavar as mãos. — Papai ordenou.

Hesitei no lugar por um instante, confuso, mas me apressei pela varanda e abri a porta da casa. Quando adentrei, tudo a minha volta desapareceu e eu estava de repente nas ruas de Zalim.

Senti a mão miúda envolver meu braço e me virei para ver os cabelos loiros e os olhinhos verdes de Nina me encarando.

— Hoje foi um dia bom. Você viu a cara dos guardas? Deixamos eles completamente perdidos. Bando de idiotas!

— Nem eles são páreo pro Ratel. Hoje vamos comer como reis. — A voz esganiçada chamou minha atenção. Ergui meus olhos e a minha frente o rosto magro e sujo de Furão me encarava. Éramos tão pequenos...

Era uma lembrança vívida. E me recordo de que na época em que aconteceu eu lhes sorri um pouco, mas ao reviver a mesma situação em meu sonho, eu não conseguia. Talvez porque eu não podia me esquecer de que aquilo era apenas uma memória... E me sentia mal por eles, por saber que morreram não muito tempo depois.

— O que foi? — A Nina do sonho perguntou, confusa ao notar minha expressão conflitada.

— Espero que um dia possam me desculpar.

— Mas de que bobagem você está falando? — A voz feminina me surpreendeu e me virei para ver Anna parada atrás de mim, com um sorriso pequeno no rosto.

No meio do sonho maluco que se destrinchava entre mil memórias, notei a Serpente da Tempestade voando pelo céu chuvoso de Zalim e de repente, Nina e Furão desapareceram e agora estava apenas Anna ali, em pé na minha frente. Aquela parte, porém, não era uma memória e me causou grande estranheza.

A Guerra dos Impérios - Volume III: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora