Capítulo 19 - A história de Tahirah Donkhor

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Eu nasci em um dia em que a lua estava cheia e azul no céu

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Eu nasci em um dia em que a lua estava cheia e azul no céu. Umama dizia que a luz purificava todas as coisas e trazia esperança a todos os corações. Que a lua era um lembrete de que mesmo na noite mais escura, ainda havia um pouco de luz.

Meus pais haviam decidido tentar a sorte em Mukantagara quando umama engravidou pela primeira vez, mas sempre falavam sobre as tradições e o jeito dos Mamba Chou. No fim de cada dia sofrido, umama fazia uma prece e nos ensinava a contemplar o céu e saudar nossos antepassados, que nos permitiram estar ali.

Umama me nomeou Tahirah, que queria dizer "pureza", na esperança de que assim como a lua, eu pudesse trazer luz para os Mamba Chou. E durante um bom tempo, fomos felizes, vivendo uma vida simples, mas tranquila. Até o dia em que upapa foi capturado, e vendido como escravo. Em todo seu orgulho, ele quis resistir até o fim, e após matar muitos de seus captores, morreu na mão deles, nos deixando para trás. Dois meninos e uma bebê recém-nascida.

Umama não sabia o que fazer, e decidiu fugir conosco, cruzando o deserto na esperança de encontrar novamente o caminho pra casa. Ela dizia que na noite escura, a lua e as estrelas se apiedavam dos viajantes.

Como se uma deusa da noite a escutasse, um caminho iluminado se abriu diante de nós como mágica, e conseguimos encontrar a cidade dourada dos Mamba Chou. Ninguém fez perguntas, mas nos receberam como se sempre tivéssemos pertencido àquele lugar. Eu me lembro, porém, de terem dito que poucos eram os que conseguiam voltar uma vez que deixavam o deserto.

E assim os anos se passaram e eu cresci com as histórias de Xebaba e os treinos dos guerreiros do deserto. Os Mamba Chou pareciam estar sempre treinando para uma guerra invisível. Sempre afiando suas armas, sem nunca ter um inimigo contra quem lutar.

Lembro-me de perguntar a Xebaba o motivo daquilo e ela responder com uma expressão melancólica no rosto:

— O inimigo sempre chega.

Na época, eu não era capaz de lhe entender. Talvez por isso que decidi partir. Eu tinha sonhos... Queria conhecer o mundo e viver várias aventuras longe das areias do deserto e da vida monótona da vila.

Xebaba ficou decepcionada comigo, dizendo que era meu dever cuidar dos meus irmãos e levar adiante o legado dos Donkhor. Mas eu não queria nenhuma daquelas coisas... Umama era o único motivo que me fazia ficar, e já havia um tempo que ela havia falecido.

Baira prometeu cuidar de Sahaja e eu joguei tudo que tinha sobre um camelo e parti, esperando deixar o deserto para trás. Minha aventura durou muito pouco, pois na mesma noite em que cheguei ao porto, fui atacado e capturado por escravistas. Pensei em lutar e tentar fugir, mas me lembrava de forma vívida como upapa havia fracassado e morrido, e eu não estava pronto para morrer, mesmo que tivesse que viver assim. Afinal umama dizia que apenas quando se está vivo é que se pode vencer e ver a vida mudar.

A Guerra dos Impérios - Volume III: As Crônicas dos Guardiões do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora