03. UMA CHANCE

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like that - Bea Miller
"E se eu for mais
Do que aquilo que pode ver?"

Any

— Any, pelo amor de deus, você está exagerando — Shivani fez questão de me repreender, enquanto bebericava um pouco de seu cappuccino.

O ambiente em que estávamos era definitivamente um dos meus favoritos do campus da faculdade até aquele momento. A cafeteria Bibble and Sip era aconchegante e moderna, servia cafés e chás sofisticados, além de uma variedade de assados e doces com aparência ótima.

Era o primeiro dia de aula, e combinamos de tomar café da manhã juntas para nos prepararmos. Planejávamos fazer isso mais vezes, já que as nossas aulas eram, na maioria das vezes, diferentes. Assim, teríamos um momento juntas pelo menos uma vez ao dia.

— Não estou! — me defendi. — Ele estava mexendo nas minhas coisas. E ele pegou justamente aquela foto nossa no parque de diversões, sabe?

O sorriso de Shivani se transformou em uma expressão que não consegui decifrar.

— Mas como ele iria saber que essa foto é tão pessoal? Tenho certeza de que esse tal de Joshua não é tão ruim quanto você diz. Desde que o conheceu, não para de falar dele. — Revirei os olhos.

— Não paro de falar dele porque ele foi um babaca intrometido — afirmei com tanta convicção que soou como uma ironia. Eu estava doida para mudar de assunto. — E sua colega de quarto? Vocês se deram bem?

— O nome dela é Heyoon — comentou. — Nós conversamos muito, e ela é super simpática e gente boa. Acho que nos daremos bem.

Sorte a dela, já que aquele não era meu caso com o loiro.

De repente, o sinal da faculdade ecoou por todo lugar e terminamos de comer em questão de segundos.

— Vamos, Any! — Shiv me apressou. — Não podemos nos atrasar no primeiro dia!

...

O primeiro dia foi desgastante. Conhecer professores e ambientes novos, e o pior: dar de cara com Joshua Beauchamp em literalmente todos os lugares que eu ia. Meu cerébro corroía só de lembrar do momento em que fomos sorteados como dupla no projeto de apresentação a faculdade, que inclui todos os cursos.

E não bastava esse desastre, claro. Eu ainda tinha que encontrá-lo ao voltar para o apartamento e dormir no mesmo ambiente que esse... cara.

Eu tinha certeza de que era a pessoa mais azarada de todo o planeta. Porque naquele momento, eu estava frente a frente à imagem desagradável de um certo garoto loiro em uma poltrona, digitando algo em seu celular e rindo como um idiota.

— Com licença — falei ao abrir a porta. Joshua estava provavelmente paquerando outra garota por aplicativos de relacionamento, e eu arruinei o seu momento.— Te atrapalhei?

— Não. Pode entrar, ué.

Ele percebeu que minha expressão desprezível não havia mudado, e com certeza notou que eu não havia o perdoado.

— Pelo amor de deus — lamentou. —, você ainda está brava por eu ter derrubado água em seu caderno hoje? Já disse que irei comprar outro para você. E o caderno estava vazio.

— Não importa. Era importante para mim. — Não, não era. Mas eu precisava que ele se sentisse culpado de alguma forma.

— Um simples caderno azul? — Beauchamp riu ironicamente, dando-me nos nervos. — Me perdoe, eu juro que não irei mais andar com garrafas de água por aí, já que sou uma ameaça para humanidade e principalmente, para cadernos muito importantes.

Bufei e deitei na minha cama sem paciência. Joshua saiu de sua cadeira e veio para mais perto, um pouco decepcionado.

— Hm... — Ele pensou um pouco. — Você vai à festa de inauguração hoje?

Eu havia esquecido desse detalhe. Os alunos da faculdade organizaram uma pequena festa no salão principal para dar as boas-vindas aos novatos. Eu realmente estava pensando em ir, já que eu precisava de uma distração e Shivani, como uma boa festeira, também estaria lá.

— Sim — respondi. — Por quê a pergunta?

— Pensei que poderíamos ir juntos. — Arregalei os meus olhos e ele se defendeu: — Não, não do jeito que está pensando. Mas como colegas.

— Não, obrigada.

Então, Joshua se ajoelhou na frente da minha cama e apertei meus olhos, não querendo acreditar que aquilo estava acontecendo.

— Vamos, Any. Pode ser uma oportunidade para começarmos a aturar a presença um do outro. Não precisamos ser amigos mas, se vamos morar juntos, não podemos ser desconhecidos — ele explicou, juntando suas mãos em súplica. — Só me dê uma chance.

Pensei que, se eu não aceitasse, o loiro me atormentaria pela próxima semana. Não estava afim de mais estresse.

— Você promete que, se não der certo e eu continuar te odiando, você não irá mais falar comigo? Vai fingir que eu não existo e vai viver sua "melhor vida" sozinho?

Ele se levantou, esperançoso e dando um sorriso animado.

— Sim, senhora. Eu prometo. — Se ajeitou e voltou a falar: — E então? Podemos tentar?

Sem perceber que estava prestes a cometer uma burrada, falei:

— Sim. — Joshua ficou radiante ao ouvir-me, porém fiz questão de cortar seu barato. — Mas só tentar.

Room 369 | BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora