40. (IN)FINITOS

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Mona Lisa, Mona Lisa - FINNEAS
"Quando tudo fica em silêncio
Consigo ouvir sua mente correndo
Ela está encarando o teto
Como se estivesse vendo o espaço
Ela poderia ser a Mona Lisa
Se a Mona Lisa tivesse um rosto mais bonito
Isso poderia ser o paraíso
Se ele fosse um lugar real"

Tarde da noite, me deitava no colo de Josh no sofá do 369. Estávamos passando um tempo de muita qualidade assistindo a nossa série preferida acompanhados de um pote de sorvete muito maior do que o necessário: em outras palavras, perfeito.

Bom, a situação de Josh não era a melhor possível, mas ele estava se virando. Eu sabia que os sintomas estavam piorando, mas o garoto fazia um grande esforço para escondê-los.

Entretanto, aquele momento em específico parecia ser um dos melhores da semana. Claro, ele ainda estava se sentindo mal, mas nada comparado aos outros dias onde ele não saía da cama.

Haviam dias bons e dias ruins e... aquele era definitivamente um dia bom. Era o que eu pensava, pelo menos.

A risada sincera de Josh, provocada pela fala de um personagem, foi interrompida de repente.

— O quê foi? — perguntei, encontrando-o de olhos fechados e com um semblante desconfortável.

Ele passou uma de suas mãos na cabeça e logo pegou um dos remédios que sempre carregava no bolso e tomou.

— Já passou — respondeu com um sorriso. — Vamos assistir.

De início, eu apenas continuei o que estávamos fazendo sem muitas preocupações, mas logo percebi a mudança em seu comportamento. Josh, que amava comentar cada segundo do episódio, se silenciou.

Eu pausei a televisão.

— Josh, está tudo bem? — perguntei encolhendo as sobrancelhas.

Ele tentou se livrar daquilo com um sorriso e apenas disse:

— Não se preocupe, bijou.

Assim, no mesmo segundo, o desconforto pareceu atingi-lo mais uma vez. Minha apreensão se aumentou, e tentei procurar em sua expressão algo a mais do que me dissera.

— Joshua... isso não parece normal.

Ele pareceu ser pego de surpresa, pois hesitou: com certeza já percebera a piora, mas não queria que eu também o fizesse. O silêncio pesou por um momento, mas depois, disse:

— Faz parte, Any. Não quero que se preocupe com cada "dorzinha" ou sintoma novo.

Da mesma forma, eu não me satisfiz com sua resposta. Claro, ele percebeu.

— Ok, se você quer honestidade, é isso que vamos ter — falou, e eu finalmente suspirei em alívio. Meus ombros deixaram de tensionar e eu parei com um tique nervoso. — Está ficando pior do que eu imaginava e... bom, lembra do checape de ontem?

Assenti. Ele teve uma consulta, mas eu não quis acompanhá-lo, já que nos últimos dias o que mais tentei fazer foi esquecer a palavra câncer.

— Vá direto ao ponto — pedi, esperando o pior.

— Meus médicos não sabem dizer quanto tempo tenho, mas... eles sabem que não é muito.

Aquilo doeu como um tiro no peito.

Não consegui respondê-lo; apenas encarei-o com um olhar desesperado, pedindo silenciosamente para que ele admitisse que tudo foi uma brincadeira e que ele não tinha câncer e seríamos felizes para sempre.

Room 369 | BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora