24. LAPSOS

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gaslight - Nessa Barrett
"Pego em uma mentira
Eu posso dizer pelo seu olhar."

Any

Bailey estava sentado em um banco da área externa com dois machucados péssimos — Josh encontrava-se verdadeiramente perturbado.

— Você não devia ter o provocado — falei, e logo peguei um algodão do kit de primeiros socorros para limpar um pequeno corte nos lábios.

— É, eu sei... mas ele negou tudo. Não consegui aguentar tantas mentiras — respondeu, coçando uma de suas orelhas.

Vacilei por um segundo. Como a raiva e ódio momentâneo já tinham se acalmado, meus pensamentos se racionalizaram, e assim pude ter certeza de que ter beijado Bailey fora uma atitude precipitada; afinal, eu não tinha provas, apenas algumas palavras.

– Acho que vou conversar com Josh – confessei, ao colocar um pouco de gelo sobre o ferimento. – Sabe... tentar tirar essa história a limpo, e só depois tomar as devidas atitudes. Espero que esteja tudo bem para você.

O garoto bufou.

– Sério mesmo? – Eu assenti, mesmo que não tivesse tanta certeza assim. – Não acha que seria um pouco idiota? Tipo, você já sabe de todas as merdas que ele fez e ainda assim vai atrás dele?

– Eu sei que parece idiota... — iniciei com um suspiro — mas eu não tenho provas concretas de que ele realmente me traiu. Você nem ao menos disse o nome da garota.

Bailey desviou o olhar, e me senti confusa.

— É... por que nem eu sei — justificou. — Josh não seria tão tonto ao ponto de dizer o nome dela à mim.

Até porque ele pode não ser tão confiável quanto eu imaginei — pensei, mas não disse.

— Você tem certeza sobre essas acusações? — perguntei, agora terminando de fazer os curativos e olhando-o fixamente. — São bem sérias, e... eu não quero perder o que eu tinha com Josh se tudo isso for um grande mal-entendido.

— É claro que sim. Por que eu mentiria para você? — disse ele, um tanto quanto desconfortável.

No entanto, eu não acreditei daquela vez.

Notei que as informações não se conectavam e nada ali fazia o mínimo sentido. Algo estranho estava acontecendo, sim, mas por quê seria outra garota? Como acreditara tão facilmente sem ao menos conversar com Josh — que naquele momento, era meu principal confidente?

O motivo era um tanto evidente: a decepção efêmera foi tão grande que, sem muito pesar, procurei desesperadamente por alguém que pudesse preencher a sensação ruim e Bailey era um alvo fácil. Tão fácil, que não poderia ser verdadeiro.

Bailey não fez o mínimo esforço para me enganar e conseguiu.

Senti-me tola e enganada novamente, mas não deixaria aquilo me abalar tanto quanto da outra vez. Eu iria atrás de Josh.

Percebi que o loiro e eu tínhamos uma conexão intensa, e que mesmo não querendo, eu ainda sentia sua falta.

Nosso elo não podia ser quebrado tão facilmente, ainda mais por um cara que acabara de conhecer.

– Por que mentiria para mim? – ironizei sua última pergunta. – Talvez porque eu estivesse tão vulnerável, que acreditaria em qualquer coisa que me dissesse, não?

Ele pareceu surpreso, e indagou:

– Do que você está falando?

– Tchau, Bailey. – Peguei as minhas coisas na cama e fui em direção à porta. Ele tentou ir atrás de mim, mas recuei. –  Você já conseguiu o que queria.

...

Quando cheguei ao 369, Joshua estava deitado na cama e parecia disposto à conversar, pois disse ao me avistar:

– Any! Eu estive procurando por você o dia inteiro. – Ele se levantou e veio em minha direção. – Onde estava?

Eu suspirei, não querendo admitir que estava com Bailey.

– Bom, não importa – ele falou, chegando ainda mais perto. – Precisamos conversar, não?

– Com certeza – afirmei e deixei meus pertences ao lado. – Só me fale a verdade, tá bom? Eu cansei de ser enganada.

Josh assentiu, como se quisesse continuar escutando-me.

– Bom... primeiro, eu ouvi uma conversa sua e de Noah – iniciei, e o corpo do garoto se enrijeceu. – Eu sei, foi errado, mas eu não consegui evitar logo quando ouvi a palavra "ela". Vocês não paravam de falar sobre isso e pelo contexto, eu assumi que estavam discutindo sobre uma garota que você estava ficando e não queria me contar.

Josh pôs uma mão na sua testa e massageou as têmporas logo após.

– Não pode ser – lastimou ele. – E o que Bailey tem a ver com isso?

– É... – pensei em como dar tal notícia lamentável. – ele confirmou tudo. Disse até que a garota era da faculdade e que você estava em dúvida entre eu e ela.

O mundo do garoto pareceu desmoronar um pouco mais. Ele provavelmente desconfiava do "amigo", mas ouvir uma confirmação devia ser um tanto doloroso.

— Eu sinto muito por isso — Josh falou, balançando a cabeça como se estivesse estonteado. — A conversa que ouviu... não tinha nada a ver com outra menina.

Suspirei em alívio, pois dessa vez, ele insinuava sinceridade. Continuei a ouvi-lo, já que ainda queria saber a razão do distanciamento:

— A verdade é que... — Josh começou, mas parou de falar por um instante. Seu corpo tencionou e ele bufou, aparentando estar ainda muito desorientado.

— Pode me contar, Josh. Eu prometo que vou tentar entender.

Depois de algum tempo pensando, o loiro finalmente tomou coragem para confessar:

— Ganhei uma bolsa. Para continuar o mesmo curso, só que em uma faculdade em Toulouse — falou, mesmo ainda parecendo incomodado. — Assim, ficaria perto da minha família, mas longe de você. Não quero ficar longe de você.

Ao ouvir suas palavras, apertei-o em um abraço.

— Então foi por isso?

— É... sim. Me perdoe — falou.

Não sentia completa honestidade, mas imaginei que fosse só mais uma das minhas paranoias.

— Nada disso teria acontecido se tivesse me contado, concorda? E nós vamos dar um jeito... sempre damos — afirmei, com um sorriso. Ele o retribuiu. — Promete que não esconderá mais nada a partir de agora?

Josh assentiu com sua cabeça, e logo deplorou:

– Desculpe se quase acabei com tudo.

– Está tudo bem, Josh. Nós vamos ficar bem agora. Eu prometo.

Room 369 | BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora