come out and play - Billie Eilish
"Mas eu adoro quando está terrivelmente quieta."Josh
— Noah, podemos parar de falar sobre isso? — pedi encarecidamente. — Por favor.
Noah assentiu, limpando seus olhos. Tentando quebrar o péssimo clima, perguntei:
— Quando você vem para Nova York?
— Ah... — ele começa, limpando a garganta. — acho que vou aproveitar O Spring Break*. Passarei as duas semanas inteiras enchendo o seu saco aí na Juilliard.
— Esperarei por você, então — disse animado, mas percebi que a expressão de meu amigo não demonstrava a mesma animação. — E... Noah, você ainda parece triste.
Ele suspirou.
— Claro que ainda estou triste. Não esperava que isso acontecesse tão rápido... — Referiu-se à nossa conversa anterior.
Eu entendia que a notícia que eu havia contado não era nada boa e, honestamente, inesperada.
— Noah, eu já te disse qu-
A porta se abriu de repente.
Claro, Any Gabrielly estava atrás dela.
Desliguei a chamada com Noah sem me despedir. Abaixei o celular e um pouco tenso, perguntei-a:
— Você estava atrás da porta o tempo todo?
Ela me encarou, e logo depois mirou a porta.
— Não! — disse.
Nada convincente, se quer saber.
— Claro que não! — Any repetiu ao perceber que eu não acreditei em suas palavras. — Tá, eu ouvi algumas coisas sim... mas não entendi nada. Tem certeza de que está tudo bem?
— Eu já falei que está, sim — afirmei. — E isso não tem nada a ver com você.
Ela arregalou os olhos na defensiva.
— Mesmo assim, se eu puder ajudar...
— Não, Any! — falei em um tom firme. — Pensei que você odiasse pessoas insistentes.
Estava sendo um pouco rígido, sim, mas Any não tinha nada a ver com a minha vida pessoal. Não éramos nem amigos e muito menos confidentes.
— Então... tá, irei ficar quieta.
Agradeci mentalmente pelo seu esforço. Não importava o quanto ela insistisse, eu não iria desabafar com a garota sobre algo que nem era tão importante.
Dramáticamente, Any não falou nada durante a noite inteira. Mesmo quando preparei o jantar, o que era raro.
— Você não vai nem agredecer? Ou falar se a comida está boa?
Não querendo me glorificar, mas a refeição estava divina, e a garota normalmente reconhece quando faço algo de bom. Não dessa vez. Como uma criança, Any fingiu não me escutar.
Entretanto, não insisti. Terminei a minha refeição, levantei e após deixar o prato na pia, murmurei, sem esperar uma resposta:
— Ok, Any. Boa noite.
...
Acordei às 5 da manhã me preparando para o dia longo que estava por vir. A Juilliard era uma faculdade incrível, mas também muito cansativa. Provas e trabalhos aconteciam constantemente e eu ainda estava me acostumando com a rotina insana.
Diferente de muitos, eu necessitava de um bom café da manhã para iniciar o dia bem, então comecei a prepará-lo. Eu não conseguia tomar café nas lanchonetes da faculdade pois as comidas eram todas americanas, e eu não as suportava. Acordar comendo bacon não era nada legal.
Assei alguns croissants, tirei a manteiga e geleias de geladeira, preparei um suco de laranja e os coloquei à mesa. A refeição estava pronta e perfeita.
Ouvi alguns passos vindo do corredor e já pude imaginar de quem se tratava.
— Já acordada? — perguntei à Any, que estava descabelada e parecendo estar de péssimo humor.
— Claro. Você não para de fazer barulho, bater panelas...
Realmente, eu não conseguia cozinhar sem que a cozinha parecesse um campo de guerra.
— Desculpa — disse. — Pelo menos, agora temos um café da manhã fresquinho...
Any não respondeu. Apenas sentou-se à mesa e analisou a comida.
— Como posso ter certeza de que não está tentando me envenenar? — ela indagou.
— Acho que só pode descobrir de uma forma — respondi. — Prove.
Desconfiada, ela pôs o croissant à frente da boca e o mordeu. Não querendo me elogiar, ela fingiu desinteresse.
— Está bom, né? — perguntei.
— É... dá pro gasto.
A cacheada nunca iria admitir que tinha feito algo bom, ainda mais depois do dia anterior.
Ela comeu rapidamente e em alguns momentos deixou escapar uns suspiros de satisfação. As receitas da minha mãe francesa sempre conquistavam a todos.
Any levantou-se abruptamente e ao sair, despediu-se:
— Tchau, Josh. Ainda bem que não nos veremos durante o dia.
Ri com sua tentativa de provocação.
— Tchau, Any. E... de nada pelo café da manhã.
Ela apenas esboçou um sorriso falso e fechou a porta na minha cara. Quanta educação...
...
(*Spring Break é um termo muito utilizado nos Estados Unidos para se referir às férias universitárias, que neste caso, duram 2 semanas. Em tradução literal, "Férias de Primavera.")
NOTA DA AUTORA: Quais são suas opiniões sobre ROOM 369 até agora?
Obrigada por ler e até o próximo capítulo (nessa quinta-feira, às 18h)!
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Room 369 | Beauany
Hayran Kurgu𝐁𝐄𝐀𝐔𝐀𝐍𝐘+ │ Any Gabrielly é, aparentemente, apenas uma garota rica nova-iorquina. Com seu futuro traçado e uma vaga garantida em uma faculdade de Direito na França, nada pode dar errado em sua vida. Aparentemente. Em Room 369, a garota perceb...