O clássico ''Como nos conhecemos''

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As duas raparigas aterraram no pátio do Refúgio. Amity ajudou Luz a descer do cajado e transformou Ghost num gato outra vez.

- Safamo-nos por pouco, Luz!

- Sim, desculpa ter te assustado.

O silêncio constrangedor deixou as duas desconfortáveis. A única coisa que se ouviu foi um movimento nos arbustos. Devia ser um coelho.

Finalmente, Luz teve coragem de perguntar.

- Amity, tu fugiste de casa?

Ela suspirou e respondeu.

- Sim...

- Porquê?...

Amity foi em direção à porta de entrada. Luz achou por momentos que Blight a ia deixar sem resposta, mas ao envés de entrar em casa, Amity sentou-se no parapeito da cabana e fez sinal a Luz para fazer o mesmo.

A humana sentou-se e a jovem bruxa começou a contar a sua história.

- A fábrica que sabotamos hoje é a Fábrica das Industrias Blight - Luz abriu a boca para tentar dizer alguma coisa, mas Amity falou primeiro - Sim, são as industrias da minha família. Eu vivo aqui no Refugio à cerca de quatro meses porque... - inspirou fundo para ganhar coragem - eu fugi de casa.

Amity parou de falar. Notava-se que para ela era desconfortável falar sobre isso.

- Porquê?...

Amity não conseguia falar. Parecia ter medo da reação de Luz. Ela reparou nisso e tentou acalmá-la.

- Amity, eu não te vou julgar, está bem. - pegou na mão de Amity - Confia em mim, eu não vou dizer a ninguém.

Amity sorriu ligeiramente mais aliviada. Alguma coisa naquela miúda a fazia descontrair.

- Eu sou a filha mais nova de uma das famílias mais ricas e influentes das Ilhas. Eu tenho dois irmãos mais velhos gémeos. Edric e Emira. Eles passam o tempo todo a pregar partidas, quebrar regras, essas coisas. Então, a minha mãe decidiu que eu iria herdar as empresas da família assim que eu nasci. E por isso, eu tinha de ser a filha perfeita. Eu tinha de ter uma boa aparência. Eu tinha de ter boas notas. Eu tinha de ter os amigos que a minha mãe aprovasse. Porque senão eu era a vergonha da família...

Amity afundou a cabeça nos joelhos encostados ao peito.

- Foi por isso que eu fugi de casa. Eu não queria ser a "Pequena Miss Perfeita" arrogante que a minha mãe queria que eu fosse.

- Mas tu não tens saudades da tua família?

- Às vezes... Eu gosto da minha família! Mas... eles não me ajuda... Eu... eu nem sei explicar...

Virou a cabeça para o lado.

- Eu percebo-te.

- O quê?...

Luz encostou-se mais a Amity.

- Era suposto eu ir para um acampamento de férias horrível sobre ser normal. Mas depois de ir para este mundo e de ver, o quão incrível era... não voltei quando tive oportunidade e agora estou presa aqui... Longe da minha mãe...

Passou a mão no olho esquerdo para limpar uma lágrima e retomou o discurso, mais animada do que antes.

- Mas eu vou conseguir encontrar uma forma de voltar para casa. E vou ajudar-te a voltares para a tua. Nem que tenha de refazer a cabeça da tua mãe!

Amity riu-se. Aquela humana era tão... querida...

- Obrigada, Luz. Mas não é tão fácil como parece.

Dois criminosos e uma humana: o que pode correr mal? (Um multiverso de TOH)Onde histórias criam vida. Descubra agora