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A angústia dominava Harry, a sensação de não saber o que o futuro reservava a ele tornava o momento ainda pior. Sob julgamento, ele observava a audiência correr.

Tom havia apresentado várias provas e argumentos ao decorrer da hora em que estavam ali, mas até então, sequer havia mencionado a situação psicológica de Harry.

A acusação se levantou novamente

— Na noite em questão, o réu presenciou um assasinato em sua frente, segundo ele, sem ter ideia de que John mataria a vítima.

Harry havia mantido fielmente sua versão, disse a Tom e todos os demais, que não sabia de modo algum que o companheiro mataria Peter.

— Mas a questão é, porque o réu os acompanhou até o beco lateral da boate? Não imagina que aquilo fosse acontecer? E se imaginou se dali sairia uma briga, porque não o impediu?

Harry engoliu em seco, o promotor parecia bastante calma ao ditar as acusações encarando-o diretamente, como se só houvesse eles dois.

— Harry sabia que John estava saindo para brigar com Peter, segundo o réu, por puro ciúmes. Mas a questão é, uma briga pode dar em morte, estou errado? — disse — se sabia que John estava com raiva, por qual motivo o viu pegar uma corrente, mas não o impediu?

— Protesto, meritíssimo — Tom se colocou de pé — a acusação está usando da dedução e persuasão para se afirmar sobre a falta de provas.

— Eu vou chegar no meu ponto, vossa excelência — Laurence, o promotor, disse ao Juíz.

— Prossiga.

Tom voltou a se sentar, ajeitando a gravata que, por um acaso, havia se tornado apertada ao redor de seu pescoço.

— Se o réu é apenas uma vítima, por qual motivo ele permaneceu naquele local? Alguém em pânico não faria outra coisa, a não ser correr para longe. O meu trabalho não é defender o outro acusado, mas sim ser justo com aqueles que tiraram a vida de Peter. Harry também estava na cena do crime, porque permaneceu ali? Por acaso se sentiu mal? Sentiu remorso, quem sabe? Por ter ajudado John a cometer o assassinato?

— Protesto — Tom voltou a dizer — ainda está usando deduções, falando com propriedade inexistente sobre uma suposição subjetiva.

— Tudo bem, já terminei — Laurence levantou as mãos.

Harry tentava não transparecer o pânico, embora ele quase exalasse por seus poros. Suas mãos moviam-se nervosamente em seu colo. Sua mente gritava, porém não tão mais alto e grave do que o barulho das batidas em seu peito, quase como se o esmurrasse.

Ele olhou lentamente por cima do ombro, seu olhar em foco no casal sentado na segunda fileira, na pequena sala.

Anna o olhou de volta, o óculos escuro dentro do local fechado, remetendo a ela a ideia que sempre adorava passar: indiferença e superioridade.

Harry olhou um pouco mais ao lado, pressionando os lábios um no outro ao ver como Andrew lhe observava diretamente. O homem mantinha uma neutra e um ar falso de quem havia sofrido muito para estar ali.

Como se ele não fosse um dos maiores culpados e um motivo pelo qual Harry estava naquele local, sob as acusações, naquela hora.

— Como todos sabem, o meu cliente estava presente no momento em que a vítima foi morta. A promotoria em questão disse, por meio de deduções, que como o meu cliente estava lá no momento, ele obrigatoriamente tinha noção do ocorrido.

Harry sentia o peito arder, pelo ar preso em seus pulmões.

— Mas, não deve ser de conhecimento a todos, que o meu cliente foi diagnosticado, a anos atrás, por uma boa psicologia e igualmente com reafirmação do psiquiatra, com transtorno maníaco-depressivo, mais conhecido como transtorno de bipolaridade.

CELA 028Onde histórias criam vida. Descubra agora