Culpa

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— Eu não entendo. — Ryan reclama, andando de um lado para o outro.

— Se você não entende, imagine eu.

— Não é possível que ela tenha voltado a ser humana com um passe de mágica!

— Como mágica... é isso! Ryan, seu gênio!

— O quê? O que eu fiz?

— Me deu a peça final do quebra-cabeça.

  Saio de seu quarto.

Bato na porta de Melanie, ouvindo ela me pedir para entrar.

— Oi, Dimie. Precisa de algo?

— Se lembra do que aconteceu na noite passada?

— Na verdade não. A única coisa que lembro é de ter bebido demais e usado drogas, então acordei nua na minha cama.

— Bom, não foi sobre isso que vim falar. Preciso de algo, sim.

Ando para dentro do quarto e fecho a porta. Vejo que a loira parece ficar envergonhada.

— E o que seria?

— Melanie, sejamos francos agora... foi você, não foi?

Ela me olha, os lumes demonstrando certa defensiva.

— Não entendi o que quis dizer, do que está falando? O que eu fiz?

— Melzinha — jogo baixo —, sabe muito bem do que estou falando. Conheço você bem mais do que deveria... foi você quem fez Ludo voltar a ser humana, não é?

Seus olhos escurecem. Por um momento, sinto que Melanie que conheço desapareceu, deixando alguém desconhecido diante de mim.

Melaine Alice Conrad... é um prazer finalmente conhecê-la.

— Há quanto tempo tirou essa conclusão?

— Foi um palpite... por que fez isso?

Ela cruza os braços, o jeito que me olha é diferente de todas as vezes que já me olhou antes, deixando bem claro que não conhecia sua verdadeira personalidade.

— Acho que sabe muito bem os meus motivos.

— Não, não sei. É por isso que estou aqui. Para entendê-los. Acha mesmo que acreditei quando vi você e Ludo tão amigas na festa à toalha que James deu? Foi naquele momento que eu desconfiei que algo estava errado. Fora que esse negócio de "meu nome é Ludovica Allen" não ajudou muito a não ter suspeitas, muito menos ela dizer que está doente. Doente da mesma doença que tinha antes de morrer muitos anos atrás.

Melanie me escuta atentamente. Ela senta em sua cama, me vendo fazer o mesmo ao seu lado.

— O que acabei tomando como certo foi que você não só a fez voltar à vida, como trouxe-a do passado. Então ela ainda está com a mentalidade de antes de sua morte. Estou certo ou errado?

Ela não responde. Noto que pela primeira vez desde que entrei dentro de seu quarto, Melanie parece calma, entretanto sua guarda está extremamente alta.

Parece que vou ter que dar meu jeito...

— Está me olhando assim porque leu a minha mente... ou porque está imaginando alguma de suas fantasias? — Provoco, sabendo exatamente como conseguir o que quero.

Melanie desvia o olhar, as mãos caem sobre as coxas.

Olho para o chão, me culpando por ter olhado para o decote de sua blusa. Sua saia curta acaba por deixar as coxas bem à mostra.

Merda... eu sou realmente insaciável...

Me inclino, chegando mais perto.

— Melanie... olhe para mim. — Peço, vendo sua cabeça virada para o lado, a franja comprida loira escondendo o rosto.

— Mel...

Ela cede, virando para mim. Vejo seus lumes em um tom violeta me analisarem.

— Por que fez isso? É só o que quer saber. Me dê o motivo...

— Por quê? — Ela se pergunta, deixando o silêncio no ar por alguns segundos. — Porque...

Apoio minhas mãos na cama, olhando para seu rosto que logo se desvia para o lado, sendo escondido pelos belos e compridos cabelos louros, novamente.

O silêncio permanece por mais tempo, dessa vez. Não pretendo forçá-la, pois sei que desse jeito não irei conseguir respostas.

Fecho minhas mãos, apertando o edredom.

Ela parece indisposta a falar, como se por um mísero segundo sentisse culpa. Sentisse culpa por perceber o que acabou causando.

Meus olhos não desviam dela por nenhum momento e a ansiedade começa a me deixar alterado.

— Alice...

Ela me olha de imediato. Nunca havia sido chamada assim antes, pelo menos não por mim.

Silêncio...

...É agora ou nunca...

Miro meus lumes também da cor violeta em seus olhos.

— Se eu te foder, você abre o jogo?

A Paixão do Imortal 2: Sombras RetornamOnde histórias criam vida. Descubra agora