O mosteiro

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- Alguns homens devem se render ao pecado por conta de sua fragilidade humana, aquela que chamam de necessidades carnais e aquelas as quais alguns humanos se prendem como se fosse o ar pelo qual respiram, ou como se fosse algo mais importante do que os céus. Eu não julgo, eu sei como é selvagem a natureza humana, mas alguns homens nasceram para a castidade, aquela que se apega a alma e que a faz permanecer sempre pura e capaz de compreender os mandamentos de Deus.

Assim disse o frade Hortêncio, em sua divina missa todos os domingos sagrados para o reino de Ribe. Sua interpretação em relação à carne humana, não se assemelha em nada com as interpretação de Dom Valmir, o bispo que consideravam muito sábio. Mas que, por ser muito jovem, pensava o clero que ele ainda não tinha se fundado totalmente a vida religiosa a que lhe cabia.

- Imagino eu que a carne humana tem sua missão nesse mundo, não existe mal nesse universo pior do que não compreender o amor humano que para uns é levianidade e para outros apenas necessidade, quando, na verdade é mais um complemento para os seres e mais uma razão pela qual existem vidas.

Dom Valmir tinha uma interpretação bem diferenciada, e por isso alguns o consideravam como um ser ainda não puro, mas sim sábio.

Naquela noite enquanto os freis e sacerdotes discutiam esses diversos assuntos, um monge gregoriano entrava pela porta após encarar a terrível tempestade, assim que entraram todos silenciaram e o miravam com curiosidade, havia na sala um som de criança bem fino e o monge se aproximou dizendo:

- Trago comigo um presente divino - Disse ele olhando um por um.

- O que está a nos dizer?- Perguntou o frade de mais idade.

- Deus em sua misericórdia salvou essa criança de ser consumida por uma maldição de eras.

Os sacerdotes e frades se ergueram e o encaravam tentando compreender. O monge tirou a criança do manto branco e o ajeitando em seus braços o mostrou aos fies de Deus.

- Por que ele usa um véu?

- Porque ele é santo - Elucidou o monge.

- Mas, quem seria essa criança?

- O filho do conde Sehun. O conde do norte de Ride.

Rapidamente todos se ergueram e lançaram a ele um olhar de incredulidade e assombro.

- Mas que absurdo! Como ousa a trazer essa criança a este santo lugar? Terá no mínimo uma punição de três dias e isolamento penitencial.

- Francisco, o que acaba de fazer é uma afronta a todos nós. Acaba de me deixar sem qualquer escolha, terá que ser punido. — Disse o Frade chefe.

- Uma criança com uma maldição dessas deveria já ter tido seu destino. O que ele ainda faz vivo?

- Mas essa criança não pode morrer.- Disse Francisco.

- Já não basta afrontar a Deus, quer também desobedecer nosso rei?

- Não sabe que se essa criança viver todos nós teremos que morrer?

- Isso não é verdade! - Articulou o monge com grande convicção.

- Já chega Francisco! Leve essa criança para o poço.

- Não Frei, Veja.

Francisco tirou o véu da criança mesmo com todo o pavor dos outros em sua volta. E mesmo ao ouvir as ameaças de suas punições, ele estava certo do que fazia, e então tirou o véu mostrando a todos o rosto da criança.

- Vejam. — Disse ele ao mostrar o rosto pequeno e alvo, como se fosse uma porcelana.

Todos olhavam com certo receio, mas olhavam. E quando se deram conta de que a marca não estava mais ali ficaram atônitos.

O padre - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora