Há pessoas que, em momentos dificeis, se assemelham a remédios na nossa vida. É necessário apenas algumas poucas palavras, ou sua presença, para que toda a dor se dissipe. São revigorantes. E como o yin e yang, há também aqueles que te adoecem e roubam sua energia vital. Mensageiros do quarto do pânico que possuimos na mente.
Uma rocha se alojou entre minhas cordas vocais ao ver o nome na tela. Meu corpo aprendeu a reagir sempre que mensagens ou ligações como essas surgem para tomar a minha paz, entretanto, é estranho ver as duas pessoas que roubaram o lugar de protagonistas da minha vida, me procurarem no mesmo dia. Eu não quero atender, realmente não quero, mas não há outro jeito.
— Eu não tenho tempo para lidar com você...
— Tantos anos se passaram, e você ainda não aprendeu a falar direito comigo, Leônie Venturi.
A voz é doce, calma, como a mais leve brisa da manhã em um dia sem nuvens, mas quem o conhece, sabe que há tempestades escondidas por aquela entonação suave. Esse é Robert Venturi, dono de uma das maiores empresas de tecnologia do Brasil. E o fator menos importante: meu pai.
— E, por favor, troque este idioma. Eu sei muitas coisas, mas o idioma coreano não é uma delas.
Ser um pai de verdade também não.
— O que você quer? — suspiro, cansada.
— É, sua educação parece ser seletiva — ele suspira — como anda as coisas com a sua mãe?
— Ah, claro que tinha que ser sobre isso. Pelo menos faça as perguntas com as palavras corretas, pai. — digo friamente — vamos lá, diga: você já entregou as ações que a sua avó te deixou para a sádica da sua mãe?
Por um instante a linha fica em silêncio. Eu toquei em um ponto sensível, sei disso e não me arrependo.
Meu pai não é muito diferente de muitos jovens ricos do Brasil e do mundo. Ele gosta de ser um pássaro, sem amarras, sem restrições. Uma ave de rapina que está acostumada a conseguir tudo que deseja.
Eu não fui planejada, sequer desejada. Quando nasci, foi a primeira vez que ele experimentou estar amarrado; uma criança era muito. Uma corrente. Era demais para Robert Venturi suportar.
— Você já fez isso?
Uma risada sem humor me escapa, entretanto, uma parte do meu coração sempre se quebra, pois isso é tudo que eu recebo dele. Não há amor, uma mensagem de boa sorte ou sequer um bom dia repleto de carinho, apenas... isso.
— Não vou entregar absolutamente nada para ela. Nem agora, nem nunca. A minha avó sabia que... — eu suspiro, controlando o nó na garganta — sabia que estava morrendo e não queria me deixar desprotegida. Eu tenho o maior número de ações porque ela achou que deveria ser assim.
— A sua avó foi uma tola quando ignorou o fato que a filha estava se tornando uma mulher que deixou a ganância subir à cabeça e faria de tudo para obter mais poder. Ignorou, e te tornou um alvo.
— Não ouse abrir a boca para falar mal da minha avó! — exclamo, deixando a raiva me consumir — ela amava a minha mãe!
— O amor tem limites, Leônie.
— Me poupe de seus discussões filosóficos, você não tem moral para falar sobre esse sentimento! Minha avó pode ter me tornado um alvo, mas me deu as armas necessárias para lutar, e sabe por quê? Porque sabia que estava me deixando em um mundo perigoso. Porque eu não tinha uma mãe para me proteger... eu não tinha um pai. — sussurro — eu não tenho ninguém.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Broken Secret
Fanfiction"Segredos... até onde eles são prejudiciais para nossos passos? Eu só soube quando cheguei ao limite. Quando as consequencias, enfim, me encontraram." Há mais de quatro anos, Leônie Bianchi Venturi, uma garota de dupla nacionalidade, aos 24 anos - f...