Prólogo

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Camille

A primeira coisa que eu vejo ao abrir os olhos é um teto branco. Em seguida, eu sinto meu corpo inteiro doer. Tento me remexer na cama, mas sinto a minha perna esquerda imobilizada. Levanto a cabeça por alguns míseros segundos, para tentar observar a minha perna e concluo o óbvio: minha perna esquerda está engessada. Não consigo ficar com a cabeça levantada por muito tempo, porque dói. Tudo dói. Eu respiro fundo, me sentindo frustrada.

O que aconteceu?

De repente, uma madeixa acobreada atravessa o meu campo de visão. Meu coração salta do meu peito quando eu reconheço em questão de segundos, aquela madeixa acobreada. Eu reconheceria aquela cor tão característica em qualquer lugar, até no meio de milhares de pessoas.

Minha mãe.

— Você finalmente acordou. – mamãe se aproxima de mim beijando a minha testa, afastando o meu cabelo do meu rosto em um gesto característico só dela. Eu pisco algumas vezes, me sentindo atordoada.

Ela está aqui, na minha frente. Parece tão real.

Não pode ser.

É um sonho. Só pode ser um sonho.

— Mãe?

— Sim, meu amor? – ela abre um sorriso de ponta orelha, ao mesmo tempo que me encara.

— Como... como você é real?

Ela começa a rir. Aquela risada que parece uma espécie de sinos para os meus ouvidos, dando mais indícios de que ela é real. Mas no fundo, apesar de eu estar iludida com ela em carne e osso na minha frente, eu sei que é um sonho. Mamãe não está aqui. Ela não é real. Ela só é real em meus sonhos e no meu coração. Para sempre no meu coração.

— Eu sou mais real que você possa imaginar, Mimi. Você me deixou tão preocupada! Achei que fosse perder você. – mamãe comenta, se sentando ao lado da minha cama, suas mãos acariciando meu antebraço.

— Eu senti tantas saudades... Meu Deus, mãe! – eu tento abraçá-la, mas a dor forte em todo o meu corpo me impede de fazê-lo. Ela parece perceber, já que se aproxima ainda mais de mim e toma a iniciativa de me abraçar forte. Eu fecho os olhos, aspirando o cheiro dos seus cabelos, o seu perfume natural.

— Mas eu sempre estive aqui, meu amor.

— Me desculpe por tudo. E-eu fui tão irresponsável, eu... – eu digo, minha voz embargada ao mesmo tempo que seguro fortemente as suas mãos.

— Ah, Mimi... – mamãe beija os meus cabelos. — Esqueceu que eu já tive a sua idade? Quer dizer, eu engravidei alguns anos antes que você, mas na época eu não poderia imaginar que eu estaria ganhando o meu maior presente. Você foi o meu maior acerto por toda a minha vida, minha filha. E você sempre será. – ela responde, um sorriso emocionado transparecendo em seus lábios.

A essa altura, lágrimas escorriam pelas minhas bochechas. Minha mãe limpou algumas delas, seus olhos marejados encarando os meus, mas nunca sem o seu sorriso emocionado e feliz em seus lábios.

— Eu quebrei a nossa promessa, me perdoa. – eu digo, depois de alguns segundos em silêncio.

Mamãe cerra os olhos na minha direção, ao mesmo tempo que solta uma risadinha.

— Sim! Você quebrou, senhorita! – ela gesticula com as mãos, como quem tivesse me dando um esporro. — Mas tudo bem, minha querida. Faz parte do seu destino. Assim como foi o meu. Demorei um pouquinho para perceber isso e hoje, quem deve se dar conta disso, é você.

— Como assim? Eu... eu não entendo.

— Um dia você irá entender.

Minha mãe solta um suspiro ao mesmo tempo que checa o relógio em seu pulso.

— Eu preciso ir. – ela se levanta rapidamente, olhando fixamente para a porta do quarto. Parecia que de alguma forma, ela sabia de algo. O que é? Eu não sei.

— O que? Mas... eu...

Ela se aproxima de mim de novo, suas mãos posicionadas em cada lado das minhas bochechas, olhando bem no fundo dos meus olhos. Seus olhos voltaram a merejar de novo, um sorriso contido e emocionado também voltou a transparecer em seus lábios.

— Eu realmente achei que você fosse me dar um neto. – ela comenta entre um riso emocionado, me deixando completamente sem palavras. — Mas... não era o momento. Nunca foi o momento.

— Mãe, eu estou confusa. Como...?

— Um dia você irá entender, meu amor. Um dia... – ela responde, antes de beijar repetitivamente os meus cabelos. Em seguida, volta a me encarar intensamente, seus olhos observando cada detalhe do meu rosto. — Você está cada vez mais parecida comigo, cada vez mais autêntica, mais independente, mais bonita... – completa, voltando a ficar emocionada.

— Mãe...

Ela se afasta de mim bruscamente, caminhando em passos firmes até a porta. Sua mão toca a maçaneta, antes se virar na minha direção, me lançando um último olhar.

— Eu sempre vou estar com você, Camille. Nunca se esqueça disso.

Foram as suas últimas palavras antes dela atravessaraquela porta, sumindo por completo da minha vista

POR TODA MINHA VIDA | Charles Leclerc & Mason MountOnde histórias criam vida. Descubra agora