Capítulo 24 (Final)

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As mãos da criada moviam-se desesperadamente tentando refazer pela quinta vez a maquiagem que Daji arruinava em instantes. Seus olhos estavam começando a ficar inchados de tanto chorar. Era o dia mais feliz da sua vida mas o nervosismo só a fazia rolar copiosamente as lágrimas pela face rosada. Daji olhou para as mãos trêmulas e sorriu pela primeira vez naquela manhã, ela ficou imaginando o que Jiahui teria dito se a visse nesse estado. Certamente a repreenderia ou talvez não. Depois que a criada saiu, aliviada por ter conseguido concluir a maquiagem, Daji inspirou e expirou algumas vezes até se acalmar e seu coração aos poucos voltar a bater no ritmo normal. A porta se abriu e Yuexiu entrou saltitante com seu vestido verde água e um arco de flores na cabeça.
- Como está? - perguntou sentando-se na cama ao lado do vestido alisando o tecido com a ponta dos dedos. - Vejo que conseguiu parar de chorar.
- Como você sabe? - indagou girando o corpo na cadeira para encará-la.
- Encontrei a criada que saiu a pouco daqui e ela me contou.
Daji abaixou a cabeça um pouco envergonhada do seu comportamento, Yuexiu levantou e se aproximou dela apoiando a mão em seu joelho para reconfortá-la.
- Não fique assim. É normal ficar nervosa, eu também fiquei.
- Em qual dos dois? - a pergunta não passava de provocação para aliviar o clima.
- Hhmm - gemeu Yuexiu, se afastando. - Não mencione o primeiro. É constrangedor lembrar que já fui casada com seu futuro marido.
Daji não conteve uma risada alta e genuína com o comentário da amiga que cobria o rosto ruborizada.
- Aliás, ele está uma pilha de nervos. Shizhen me disse que ele mal dormiu a noite e não para de andar pelo salão conferindo cada detalhe. Melhor se apressar.
- Certo. Me ajude com a roupa - disse pegando o vestido sobre a cama.
- Claro, é por isso que eu vim. Sabia que você dispensaria as criadas - respondeu sorridente.
Os sapatinhos vermelhos com traços dourados foram feitos na medida exata e combinavam perfeitamente com o enfeite que Yuexiu tentava prender no lugar certo.
- Como é que... Isso parecia tão fácil quando você fazia - falou engatando um dos lados.
- Deixa eu ajudar.
- Tudo bem, eu consigo. Prontinho, terminei - disse prendendo a outra parte.
Ela ficou de pé e deu uma boa olhada para o seu reflexo no espelho. O vestido vermelho com listras em azul turquesa a deixava ainda mais estonteante. Suas mãos não tremiam nem suavam mais e seus olhos chocolates brilhavam confiantes. As duas saíram da pequena mansão do pavilhão Xiangyou em direção ao pátio próximo ao jardim. Eles preferiram optar por um espaço aberto para a cerimônia dessa vez.
- Estou ansiosa pelo primeiro beijo oficial do casal - falou dando um pulinho.
Curiosamente uma pergunta se fez na cabeça de Daji com o que Yuexiu disse.
- A propósito você nunca me contou como foi o seu primeiro beijo com Shizhen - lembrou parando no portão de entrada do pavilhão.
- Ah. Não? - Daji balançou a cabeça. - Devo ter esquecido de mencionar. Aconteceu no dia em que ele se declarou para mim.
No caminho Yuexiu narrava os detalhes do que tinha acontecido no encontro com Shizhen. Ela contou que ele parara diante dela tão repentinamente que a fez tropeçar nos próprios pés mas que a segurá-la em seus braços no mesmo instante. Tudo o que ele dissera era que tinha algo para lhe falar porém a proximidade o deixou sem reação.
A beleza de Yuexiu era de deixar qualquer nobre ou plebeu encantados. Sua pele pálida como a neve o fazia lembrar da história de uma princesa, que sua mãe contava para ele antes de dormir. Gostava de escutar como as histórias de romance nasciam, já que nunca esperou ter isso na sua vida de aventuras. Em meio à sua divagação esqueceu-se da falta de espaço entre eles. Os lábios dela eram rosados e estavam entreabertos, Shizhen viu o mesmo desejo em seu olhar e a trouxe para mais perto fechando os olhos.
Os lábios dela era tão macios quanto aparentavam. O beijo era lento e cheio de incertezas mas que ganhava ritmo à medida em que adquiriam confiança. Até o momento nunca precisaram beijar ninguém daquela maneira e foi simplesmente a melhor sensação que tiveram.
- Desculpe - pediu encostando sua testa na dela. - Sinto que fiz tudo errado. Planejava primeiro me declarar e depois... se aceitasse meus sentimentos eu...
- Shizhen, no amor não há certo ou errado. Também estou nervosa, eu nunca senti isso mas você é o único que fez meu coração errar as batidas - sua voz ficou levemente embargada mas não queria chorar, queria poder ver nitidamente o rosto de seu amado.
Ele colocou uma madeixa do cabelo de Yuexiu atrás da orelha e respirou fundo, ainda precisava dizer a ela como estava se sentindo.
- Desde que nos encontramos em meu quarto eu não paro de pensar em você. Daquele momento em diante, todos os dias que passaram, meu coração não tem nada além de você - disse olhando em seus olhos cheios de lágrimas.
Mesmo relutante uma lágrima rebelde escorreu pelo rosto dela.
- Eu te amo, minha pequena Xue - disse lhe beijando outra vez.
Yuexiu soltou um suspiro quando cruzaram o portão que dava acesso ao pátio ornamentado com peônias que harmonizavam com as faixas douradas e vermelhas.
- Xue!? - gritou Daji surpresa. - Você ganhou um apelido e não me falou nada!?!
- Estava tão contente que eu meio que me esqueci - respondeu encolhendo-se.
- Só sendo você mesmo - comentou rindo. Sabia melhor do que qualquer pessoa o quanto ela conseguia ser desligada.
Yi apareceu na frente delas em segundos e deu um beijo no topo da cabeça de Daji.
- Não via a hora de chegarem - falou aliviado. - Obrigado por trazê-la cunhada.
- T-tá - respondeu claramente envergonhada pelo o que ele disse sem embaraço algum.
- Xue! - chamou Shizhen animado ao vê-la, chamando a atenção de alguns olhares.
Corada ela pegou a sua mão e o tirou dali.
- Xue? - perguntou Yi intrigado.
- Nem me pergunte - retrucou Daji.
- Isso não significa neve? - falou ainda pensativo. - Espere... é um apelido de casal?
Daji o encarou sem certeza se deveria responder aquela pergunta.
- Qual combinará melhor com você? - provocou Yi.
- Melhor irmos casar antes que eu me arrependa - falou fugindo do assunto.
Yi cobriu a boca para esconder um sorriso.
O imperador Fang deu início a cerimônia coroando Yi como o novo imperador e fez um curto, porém belo discurso para que Yi e Daji prestassem homenagens ao Céu, à Terra, a seus antepassados e ao deus Tsao-Chün. Em seguida os criados trouxeram bandejas com um chá e dentro duas sementes de lótus para serem servidos aos pais dos noivos. Ambos não tinham mas mãe, o que tornou essa parte mais rápida. Os noivos se cumprimentaram como uma reverência que concluia a cerimônia.
Com Yi ocupado andando pelo pátio servindo baijiu, uma bebida a base de arroz, que os convidados homens tinham que beber com o noivo em forma de tradição e cortesia, ela aproveitava para conversar com pai. Ele lhe contara que voltaria a morar em sua antiga mansão no império Liang mas que sempre viria para visitar à ela e ao duque Zheng.
Mesmo com o braço que quebrara imobilizado, o lorde ainda mantinha a sua postura. Ele se aproximou deles levantando um copo de bebida brindando com o conde.
- Hoje entreguei Daji para você, a pessoa que mais amo no mundo, portanto cuide bem da minha menina - disse o conde Song Yu.
- Tenha a certeza de que cuidarei.
Ele apertou a mão do conde que se afastou. O lorde passou para trás de Daji e apoiou a cabeça no ombro dela.
- Ansiosa pela noite de núpcias? - sussurrou para que ele não ouvisse enquanto se distanciava.
Daji se engasgou com o suco que bebera o que a fez tossir.
- Como você pode dizer essas coisas assim? - perguntou levantando o copo para esconder suas bochechas vermelhas.
- Nunca imaginei dizê-las a alguém - falou, sinceramente. - Espero que a minha falta de experiência no amor não lhe decepcione. Não sou muito bom em expressar meus sentimentos.
- Você faz isso melhor do que imagina, apenas para de se cobrar - falou docemente e encarou o copo dele - Quantos desses você já bebeu?

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