Capítulo 17

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   Até o momento Bai não havia aparecido para o serviço quando Yi levantou-se, e ficou de molho na banheira pelo que pareceram horas. Depois de dez longos minutos na mesma posição, ele saiu enrolando-se na toalha. Enquanto encarava suas opções no guarda-roupa, ouviu a porta abrir-se.
   — Está atrasado – disse sem olhar para trás.
   — Acabei perdendo a hora graças a você que me fez ir dormir tarde – respondeu ajeitando a espada em sua cintura.
   — Não tenho culpa. E aposto que dormiu melhor do que eu – escolhendo o que vestir, ele jogou as peças sobre a cama. — Vem, me ajuda a colocar essa roupa. Rápido.
   — Aonde vai tão cedo? – perguntou o guarda, o ajudando a colocar a última parte do hanfu roxo com traços dourados sobreposto ao azul-marinho.
   — O imperador quer me ver.
   Yi prendeu o cabelo deixando algumas mechas soltas.
   — Tenha calma ao falar com ele – aconselhou Bai.
   — Eu tentarei.
   Bai sabia que nenhum deles teria.
   O lorde arrastou a porta contra o batente fechando-a. O sol realmente parecia não ter consciência de que mais uma discussão estava prestes a começar no palácio, pois brilhava com mais intensidade naquele verão. Yi seguiu pelo caminho mais curto até a sala do imperador. Ao passar pela área coberta, alguns criados que passavam por ali o cumprimentaram e ele retribuiu.
   Quando as colunas de ônix ficaram para trás, Yi viu um homem saindo da sala de seu pai. Apesar da aparência maltrapilho ele tinha um excelente porte físico. A sua postura carregava até um certo ar de nobreza, mas um nobre jamais se vestiria daquela forma. O lorde imaginou então, que podia se tratar de mais um camponês pedindo favores ao seu soberano. Ele observou de longe o homem ir embora pelo outro lado, e semicerrou os olhos confuso.
   Wu Fang aprumou-se na cadeira ao ouvir as batidas em sua porta. Tirando alguns papéis da gaveta, ele os espalhou sobre a mesa.
   — Pode entrar – autorizou simulando distração.
   Ao passar para dentro Yi pigarreou para que ele notasse que se tratava dele.
   — Ah! É você Yingge – disse fingindo surpresa. — Que bom que veio.
   — O imperador queria me ver? Imagino queira me dizer alguma coisa – falou desejando encerrar a conversa. Tinha algo que despertara a sua curiosidade.
   — Certo – falou virando-se para ele. — Vamos direto ao assunto. Os nobres anseiam por conhecer o rosto de vossa esposa.
   Os olhos de Yi se arregalaram.
   — Eles o quê!? – exclamou pasmo. — Com qual objetivo?
   — Eles alegam que Zheng Yuexiu era a garota mais bonita de Dang, porém nenhum deles pôde constatar isso. E nos acusam de sustentarmos um casamento falso.
    — E ele é verdadeiro por acaso? Eu não me importa a opinião deles – respondeu andando de um lado ao outro da sala.
   — Na verdade eu também não – falou quase em sussurro.
   — O que você está dizendo?
   — Nada – mentiu. — Apenas que uma festa será organizada para que todos possam vê-la sem o véu.
   — Que seja. Acho que isso acabaria acontecendo de qualquer maneira.
   Yi finalmente havia se acalmado e sentou-se de frente para o pai. Wu Fang não fazia ideia do que mantinha o filho ali. Normalmente ele já teria saído.
   — Se está querendo fazer alguma pergunta, simplesmente a faça.
   — Hm – murmurou em concordância. — Quem era o homem que estava aqui mais cedo?
   O imperador engoliu em seco. Seu rosto ficou pálido como as folhas de papel sobre a sua mesa. As perguntas iam surgindo em sua mente à medida em que ele ponderava o que teria acontecido entre os dois.
   — Por que o interesse nisso agora? – indagou tentando fugir do assunto.
   Yi só estava curioso, mas seu jeito impassível denotava que Wu Fang deveria ter cautela ao falar.
   — Nem um motivo específico. Só achei estranho ele ter saído pelos fundos se era um mero camponês.
   Se isso fora tudo o que Yi tinha visto, não seria um problema para seu pai explicar. A tensão em seu corpo desapareceu e ele se permitiu relaxar.
   — Acontece que nem todos ficam confortáveis em sair pelo portão principal – mentiu descaradamente.
   — Mas todos no palácio sabem que o outro portão é menos vigiado – retrucou Yi.
   — Justamente. Ele fica um pouco incomodado com tantos guardas – ele aproveitou a situação para mudar de assunto. — Não precisa ficar preocupado comigo, ele é um velho conhecido meu.
   Yi o encarou fazendo uma careta.
   — Quem disse que estava preocupado com você? – perguntou retoricamente, levantando-se.
   O imperador comprimiu os lábios para esconder a vontade de rir. Quando Yi chegou à porta ele o chamou.
   — Yingge!
   Se detendo na soleira da porta ele esperou para ouvir o que o pai queria. O imperador disse o que Yi menos esperava escutar.
   — Esqueceu de fazer a reverência – lembrou, mas era um gesto que ele dispensava.
   O lorde apertou os dedos contra a palma da mão e respirou fundo, fazendo um esforço para não cair na provocação do pai. Yi colocou o braço esquerdo para trás contrariado, mas Wu Fang interrompeu o movimento.
   — Tudo bem. Não precisa fazer. Você é meu filho afinal – replicou com um sorriso.
   Yi abriu um sorriso irônico e saiu batendo a porta. Retornando ao seu quarto ele pediu para que Bai o acompanhasse até o pavilhão Xiangyou. Como prometido ele contaria a Yuexiu sobre as visitas ao seu pai. Agora havia mais uma coisa para contar à ela.
   Do lado de dentro, Yuexiu narrava como tinha sido o encontro com seu pai e a bronca que tomara dele. Mas apesar da repreensão, eles estavam muito emocionados por vê-la novamente. O conde Song também ficara feliz com Yuexiu e saudoso pela filha. Ela o tranquilizara dizendo que Daji estava bem. As duas se abraçaram sorridentes por ter ocorrido tudo como o planejado.
   Bai bateu à porta e elas receberam os dois. Depois de falar sobre o duque Zheng e explicar como funcionaria as visitas, elas nem ousaram trocar olhares para não entregar o que haviam feito. Yi se divertia com aquela atuação delas.
   — Além disso, teremos um novo evento no palácio. Os nobres querem poder conhecer a sua aparência – falou com clareza. — Portanto, não precisara mais usar o véu – apontou para o tecido na cabeça de Yuexiu.
   — Está falando sério? – contestou sem conseguir acreditar.
   — Sim. Admito que fui um pouco rude antes de nos conhecermos. Me arrependo disso.
   Yuexiu balançou a cabeça.
   — Fui eu quem causou todo esse mal-estar. Acho que não precisamos de pedidos de desculpas.
   — Está certa. Vamos esquecer esse nosso começo – disse afastando-se.
   Bai o esperava na porta pronto para partirem.
   — Pedirei para algumas criadas prepararem a roupa que usará na festa. E é claro a que sua dama de companhia usará também – concluiu olhando para ela antes de sair.

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