Em um movimento rápido, Yi abriu e fechou a porta de seu quarto. Ele se virou para ela com um fogo nos olhos azuis safira tão idênticos aos dela. Ele cerrou os punhos e caminhou até estar diante de sua mãe. Ela sentiu o clima entre Daji e ele, e não gostara nada do que vira.
- O que estava fazendo lá?
- O que você estava fazendo com aquela garota? - retrucou levantando-se da cadeira.
- Isso não lhe interessa - disse andando de um lado para o outro tentando se acalmar.
- Você não percebe que ela só quer tirar proveito? Agora que o pai está falido, ela enxerga você como um pote de ouro.
Yi deixou escapar uma risada alta e incrédula.
- Daji não é assim. E o que quer dizer com falido?
- Ela não te contou? - os olhos dela cintilavam com uma maldade velada.
- Fale de uma vez - falou rispidamente.
- Ela é uma estrangeira da província Liuxing. O título de nobreza foi tudo o que sobrou, depois que o pai foi passado para trás.
- Ela é uma nobre? - indagou surpreso.
- Não importa se aquela garota é uma nobre, você não pode se envolver com ela. Essa união não será rentável.
- disparou ela com a voz gélida.
- Não ouse se meter entre a gente.
- Eu te amo meu filho, só estou pensando em você - disse melosamente com as mãos no rosto de Yi, e ele as tirou.
- Sua ganância é maior do que o seu amor por mim. Saia daqui.
- Yi eu sou sua mãe, ela não passa de uma estranha - falou indignada.
- Eu desconheço a mulher que está na minha frente.
- Eu nunca aceitarei que se case com ela - estrilou, e saiu do quarto batendo a porta com força.
Seu corpo estava pesado, e ele deixou que o cansaço o dominasse por inteiro sentando-se com as costas apoiadas contra a cama. A imagem de Daji veio invadiu seus pensamentos. Certamente ela o odiava agora com todos os motivos. Ele a abandonara lá sozinha sem nenhuma explicação. Bai irrompeu o quarto, acabando com o silêncio de Yi.
- Yingge!? O que aconteceu com você? - perguntou com um joelho apoiado no chão.
- Preciso que me faça algo.
Bai o encarou atento esperando as ordens. O semblante sério de Yi o preocupava.
Enquanto o lorde dormia, seu guarda pessoal se juntou a SuLong e Huang para coletar informações. Yi queria confirmar o que a mãe lhe contara. Mesmo que confirmasse, ainda precisaria pensar em uma forma de se acertar com Daji.O céu do dia seguinte estava mais límpido com pequenas nuvens que pareciam pedaços de algodão. Os formatos a faziam lembrar das plantações que seu pai costumava ter em suas terras. Estava tão longe de casa que mal recordava do seu vilarejo. Seus olhos tinham sinais de que passara a noite chorando. Por sorte, Yuexiu não vira quando ela retornou para o pavilhão.
- Aqui está você.
- Yuexiu? Desculpe estava me procurando?
- Sim. Eu queria lhe avisar que irei até um vilarejo próximo, soube que meu pai estará lá. Quer ir comigo?
- Ah... melhor não. É bom que vocês passem um tempo na companhia um do outro - disse sem muita empolgação.
- Está tudo bem? - percebendo o desânimo dela.
- Claro - respondeu forçando um sorriso. - Eu só estou um pouco nostálgica hoje. Estava lembrando de Liuxing.
- Entendo. Fique bem então, mais tarde estarei de volta.
Ela concordou com a cabeça, e acenou para Yuexiu a medida que ela se distanciava. Daji permaneceu sentada na grama. Os raios de sol filtrados pelas árvores iluminavam seu cabelo de tom chocolate. Ela ouviu o farfalhar atrás dela, alguém se aproximava.
- Espero que não pretenda me convencer a ir com você Yuexiu - falou com um sorriso, sem olhar para trás.
A falta de resposta a fez se virar. Num pulo ela se levantou desequilibrando, surpreendida. Antes que seu corpo pudesse se recompor e fazer uma reverência, a lady Wu Jiahui se aproximou dela. Seus olhos azuis faiscavam cravados na garota.
- Você pensa que eu não consigo ver seus truques sujos por trás dessa carinha de inocente?
- E-eu não sei do que a senhora está falando, ou o que fiz para irritá-la - sua voz tremulava.
- Pretende continuar com esse teatrinho de boa menina? Nós duas sabemos quais são as suas intenções - insistiu Jiahui de maneira dura.
Daji sentiu algo angustiante crescer dentro de si. Era como se o pesadelo da noite de ontem não houvesse terminado. Sua cabeça não conseguia acompanhar o que estava acontecendo.
- Achou mesmo que meu amado filho ficaria com uma nobre falida como você?
Yi? Ela percebia aos poucos do que a mãe de Yi a acusava. E começava a entender o porque dele ter ido embora naquela noite. A lady Jiahui estava lá, e ela vira tudo da primeira fila. Daji sentia um misto sensações e conflitos internos difíceis de lidar, ela só queria ter tido mais tempo para absorver aquilo.
- Saiba que nunca permitirei que Yingge se case com você, uma mera estrangeira sem bens algum - as palavras eram duramente encaixadas.
- Lady Wu, em nenhum momento eu tive tal intenção - disse com a voz rouca. - Meu amor por ele é real, assim como o seu.
Jiahui esticou a mão e fez um movimento súbito de giro com o pulso. Daji deu alguns passos para trás cambaleante, ela sentiu o rosto torcer para o lado, como se tivesse sido esbofeteada. E fora. A ardência começava a subir pela face vermelha. Ela arfou colocando a mão no lugar do tapa que recebera, sua bochecha latejava com a dor. Lágrimas surgiam no canto dos olhos mel-esverdeados da garota, mas ela respirou fundo decidida a mantê-las ali.
- Não nos compare, há um abismo entre nós. Alem disso eu desejo o melhor para Yi, que é estar bem longe de você.
Suas pernas lutavam para a manterem de pé. Não havia nada que Daji pudesse fazer, afinal Jiahui era a esposa do imperador.
- Yingge sempre teve todas as mulheres que desejou, você não passa de mais uma conquista para ele. Lembre-se disso.
Da mesma forma como aparecera, ela também saira sem qualquer aviso. Daji sentou em um banco de pedra e permaneceria lá até sua bochecha voltar a coloração normal. As lágrimas antes retidas agora podiam escorrer livremente pelo rosto dela. Daji ansiava por poder se ver livre daquela dor.
Ela ouviu alguém se aproximando, mas não queria parar de chorar, e não estava pronta para falar com Yuexiu. Mesmo assim levantou-se. Sem esperar, Daji foi envolvida em um abraço apertado. Ela conhecia o calor daqueles braços, e apertou ainda mais o seu peito contra o dele.
- Deixe-me ver o seu rosto? - falou, abrindo um espaço entre eles, sem soltá-la.
- Como sabe sobre isso?
- Uma das criadas responsável pela limpeza do pavilhão Xiangyou viu a minha mãe batê-la. Ela saiu daqui assustada e acabou esbarrando com SuLong.
- Então ele lhe contou?
- Sim, ele foi até mim e Bai imediatamente. Eu vim assim que soube. Me desculpe - pediu a abraçando novamente.
Quando SuLong chegou ao quarto de Yi, Bai havia acabado de lhe confirmar a história que a lady Jiahui contara. E pediu para os dois continuarem investigando sobre as terras do conde Song.
- Tudo bem.
- Não. Eu irei falar com ela - disse soltando Daji.
Ela agarrou seu braço no mesmo instante.
- Não vá, por favor. Só irá piorar a situação.
- Mas Daji... - ela lhe olhava praticamente implorando. - Está bem.
Apesar de querer ir confrontá-la, deixaria sua mãe sair impune dessa vez, teria que controlar o temperamento. Ele pegou sua mão e a conduziu até o banco.
- Ela estava lá ontem a noite, não estava?
Yi não disse nada, apenas concordou com a cabeça.
- Por isso fui embora. Queria poupar você das artimanhas dela, mas parece que falhei.
Houve um momento de silêncio que deixou Yi incomodado.
- O que vocês conversaram? - quis saber, enxugando as lágrimas rosto de Daji.
- Ela disse que não permitiria que você ficasse comigo, e que eu não passava de mais uma conquista sua - falou, quase acreditando na última parte.
- Eu não me importo se ela aceite ou não. Mas isso que ela lhe falou é mentira Daji. Eu nunca fiquei com aquelas garotas. Você é a única para mim.
Ela queria acreditar em suas palavras, mas não conseguia. Yi percebeu isso quando olhou em seus olhos. A frustração, fazia seu estômago embrulhar, a frustração e a raiva. Nunca perdoaria a mãe pelo que dissera a ela, ou por ter feito ele parecer o mais desprezível dos cafajestes.
- Confie nos meus sentimentos por você.
Yi nunca disse que a amava, tampouco se expressava dessa maneira agora.
- É difícil confiar no que diz sem ter certeza dos seus sentimentos. Você é um lorde, o futuro senhor desse palácio. Você nunca será um simples nobre ou um camponês, sempre haverá muito mais por trás de você.
Ele a escutava atentamente esperando pela sua decisão, esperançoso.
- Apesar disso, eu não quero ver você carregar esse fardo sozinho. Por isso, aceitarei todos os tapas da lady Jiahui sem reclamar, se no final eu puder estar ao lado do homem que eu amo.
Tinha muitas perguntas a serem feitas, mas ele preferiu fazer a dele. Talvez a única que importava para ele.
- Você não me odeia? - perguntou, com um sorriso bobo.
- É claro que não.
Ele ficou sério de repente, pensativo. Como se organizasse a ordem do que dizer.
- Daji, não se preocupe com a minha mãe. Você será a minha esposa. Não permitirei que ninguém encoste em você.
- Esposa?
- Droga! Você merecia um pedido mais formal - lamentou, um pouco frustrado.
Ele levantou do banco e andou em círculos enquanto passava a mão pelas franjas laterais, bagunçando o seu penteado. Ele bufou e voltou a sentar.
- Não sei se estou fazendo isso direito, mas eu preciso que me escute.
Daji balançou a cabeça sem entender.
- Quando falei que você é a única para mim, quis dizer que é você quem eu amo. Eu agia como um libertino somente para irritar o meu pai. Nunca aconteceu nada entre mim e as garotas que você via pelo palácio.
Falar estava se mostrando muito difícil, sua voz vacilava às vezes, mas Yi sentia a necessidade de continuar.
- Eu não queria um contrato de casamento como o dos meus pais, nem mesmo pensava em me casar. Por esse motivo tentei proteger o meu coração desse sentimento. Protegi ele tão bem que esqueci como era amar. Então eu encontrei você, ou melhor você me encontrou.
Daji deu uma risada enquanto o seu rosto seco recebia uma nova onda de lágrimas.
- Mesmo que meu coração não passe de uma quinquilharia, empoeirado e coberto de teias de aranhas, mas ele é seu. Sempre será.
Ela sentiu o sorriso vacilar enquanto lutava para conter as emoções. A respiração dela estava acelerada, assim como seus batimentos cardíacos.
- Se você fugir, eu vou atrás de você. Se você for para outro planeta, eu vou também. Se você escolher ficar, terá que aceitar o meu coração. Eu te amo Song Daji.
Ela ficou com a respiração suspensa, demorou um pouco para que lembrasse a si mesma de que seus pulmões precisavam de ar. Daji abriu a boca para falar, mas fechou logo em seguida. Nada mais importava. Tudo o que havia para falar já fora dito. Daji se permitiu perder o controle e o beijou. Um beijo de verdade e intencional, tão diferente do primeiro que deram.
Yi afastou seus lábios dos de Daji, e encostou a testa na dela, sussurrando.
- Eu é quem deveria tomar a iniciativa. Mesmo que tenha que lhe ouvir me chamando de príncipe das trevas - provocou.
- Eu pensei que não houvesse entendido.
O lorde abriu um sorriso de lado, e a puxou para si deixando os bons modos de lado, inclinando-se para frente lhe deu um beijo cálido. Fogos de artifícios salpicavam em sua barriga. Yi encarou aqueles olhos mel-esverdeados mais uma vez e a abraçou. Queria poder ficar assim com ela por um tempo, mas o som de um galho estralando os sobressaltou.
Virando-se em sincronia, eles viram Shizhen e Yuexiu em parados um pouco distante de onde estavam.
- Desculpa não queríamos atrapalhar.
- Vocês... há quanto tempo estão aí? - perguntou levantando-se.
- Desde que você disse que precisava que Daji o escutasse. Então você começou a falar e, não tivemos coragem de interrompê-lo - explicou Yuexiu, que pisara no galho chamando atenção.
- Eu nunca vi uma declaração tão embaraçosa - disse de forma séria, mas não conseguiu conter o riso.
- Como você ousa rir do que eu disse?
Yi correu até Shizhen e o segurou pela gola, fingindo estar enraivecido. Yuexiu foi para junto de Daji, e sentou-se.
- É porque sua declaração soou um tanto longa. Necessária. Mas longa - brincou o irmão.
- Ninguém pediu para você ficar assistindo - retrucou, soltando-o.
Shizhen as observou distraídas, enquanto Yuexiu explicava que encontrara com Shizhen quando retornou ao palácio.
- O que fará agora Yi? - perguntou ciente de que elas não estavam escutando, em meio a conversa delas.
- Irei procurar nosso pai e pedir a anulação do meu matrimônio com Yuexiu. Com isso ela ficará livre para que você possa desposá-la, e eu planejarei o meu casamento com Daji.
- Está bem. Acha que o nosso pai concederá?
- Farei o que precisar para isso. Nem a minha mãe, nem ele ficaram no meu caminho. Eu finalmente conheci alguém por quem vale a pena arriscar o meu título e todas as minhas honrarias, e eu a amo.
- Jamais esperei ouvir você dizer essas palavras.
- Nem eu.
Shizhen sorriu para o irmão e apoiou a mão em seu ombro.
- Talvez seja uma benção disfarçada - disse, lembrando da conversa que tiveram antes delas chegarem ao palácio.
- Talvez.
Yi estava mais otimista dessa vez. Conversar com o imperador Wu Fang seria a pior parte disso, mas teria que se manter calmo para convencê-lo de sua decisão.
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Minha Senhora Predestinada
Ficción históricaYuexiu costumava sair escondida para praticar qinna em sua província com a ajuda de Daji. Porém, as suas quase tranquilas vidas mudam completamente quando Yuexiu aceita entrar em um casamento por contrato para quitar as dívidas do pai. A única condi...