Algumas semanas decorreram desde que estiveram reunidos no palácio. O imperador Wu e Shizhen visitaram a mansão do duque Zheng com Yuexiu para esclarecer o que aconteceria nos próximos dias. Enquanto isso, o lorde Yingge e o seu tio Cheng saíram em uma viagem até a província Liuxing, um vilarejo do império Liang. Quando chegaram foram ao encontro da imperatriz Meili, a única herdeira na linha de sucessão, e amiga de infância de Yi.
Com a saúde de seu pai ficando cada dia mais frágil, ela decidira tirar o fardo do título de suas costas encarregando-se dele. O garoto gentil e impassível, que a defendia das outras crianças imperiais, não lembrava em nada o homem forte, de postura respeitável que estava a sua frente, apesar da reputação duvidosa. Contudo, ela não se importava com o que falavam dele.
— Continua sendo a mesma garota doce que conheci. Me desculpe não ter te encontrado antes Meili.
— Não há porque se desculpar, sou grata a você. Era a único amigo que eu tinha Yingge, o que me permitiu não mudar. Somente você se atrevia a brincar com uma herdeira mulher, enquanto os outros garotos me batiam ou evitavam – disse apertando os dedos com força.
— Nunca entendi o motivo de não contar ao seu pai o que sofria.
— Ele estava sempre ocupado lidando com o império, e minha mãe vivia preocupada com a saúde dele. Não queria ser mais um de seus problemas. Você apareceu na minha vida no momento certo.
— Bai me ensinou o que precisava para me defender – disse dando uma olhada para ele, para depois voltar o olhar para ela. — Fico feliz por ter usado para proteger você.
Ela sorriu para Yi revelando as suas covinhas, e seus olhos amendoados se fecharam. Ao fixar o olhar nele outra vez, garantiu com convicção.
— Não sei o que o fez vir até aqui, mas seja o que for farei o necessário para ajudar. Deseja que eu conceda alguma coisa?
— Que bom ouvir isso. Há realmente algo que gostaria de pedir a esta soberana.
Os raios de sol daquele início de verão, filtrados pelas frestas na parede passaram despercebidos. Yingge gesticulava durante o diálogo com Meili explicando a importância de seu pedido e o que queria com ela. A imperatriz Liang ouvia atentamente a tudo para não deixar escapar nenhuma informação. Cheng e Bai complementavam a fala de Yi, mas tentavam interferir o mínino que podiam. Ao final da conversa ela concordou com o que disseram e deu a sua palavra de que ajudaria.
— Em nome do império Liang e do reino Wang, eu ficarei feliz em ser aliada dos impérios Wu e Wen.
— Você disse reino Wang? Não me diga que está prometida ao Xing!?!
— Sim – respondeu um pouco envergonhada. — Wang Xingzuo é meu noivo.
— Nunca imaginei que o tímido Xing confessaria seus sentimentos por você.
— Vo-você sabia!? – indagou mais espantada do que surpresa.
— Talvez – respondeu Yi, evasivo.
O rosto de Meili ficou ainda mais rosado. O lorde Yi deu um sorriso de lado. Lembrava claramente do dia em que conheceu o garoto engomadinho que espiava com frequência os seus treinamentos de autodefesast que praticava com seu guarda pessoal. Bai e Cheng se entreolharam perdidos, nenhum deles faziam ideia de que Yi conhecia o príncipe herdeiro de Wang. O dia estava quase findando, e esse era o último que passariam no império Liang.
— Voltaremos para o império Wu. Aguardarei pelas suas boas notícias, imperatriz Meili.
Ela concordou com um meneio de cabeça, e despediu-se de seus visitantes.
Uma carruagem aguardava na entrada do palácio junto com a escolta de guardas que os conduziriam de volta ao palácio Wu. Bai abriu a porta esperando que Yi entrasse com Cheng. Antes de fechá-la, avisou.
— A viagem irá demorar umas 18 horas de estrada, chegaremos lá pela manhã. Descansem bem nesse período.
— Está bem – concordou Yi.
O guarda fechou a porta montando em seu cavalo, dando partida. A tarde aos poucos dava lugar ao céu estrelado da noite, fazendo Yi adormecer ao lado do tio.
Fazia tempo que Cheng não se vestia de acordo com o título que um dia tivera. Os tecidos perfeitamente bem cortados e ajustados ao seu corpo realçavam os músculos adquiridos com seu trabalho no campo. Apesar de estar feliz com a vida que escolheu, ainda sentia falta de conviver com o irmão. Seus olhos se fecharam logo que a escuridão ficou mais densa, ele inclinou o pescoço para apoiar na cabeça de Yi sobre o seu ombro se permitindo dormir.
O sol já irradiava seus feixes de luz quando os portões se abriram naquela manhã. Com a voz baixa, em sussurro, Bai chamou por Yi e Cheng acordando-os, e disse que haviam chegado ao palácio Wu. Ainda sonolentos e com o corpo dormente, eles desceram preguiçosamente os degraus da carruagem, e seguiram com Bai para a sala do imperador.
Nenhum deles esperou permissão para entrar depois de baterem à porta. Yi tinha pressa para resolver sua situação perante os nobres.
— E então, como foi em Liuxing? – quis saber o imperador.
— Não poderia ter sido melhor.
Wu Fang trocou um rápido olhar com o irmão e sorriu aliviado sentando-se, e indicou os lugares a sua frente pra que fizessem o mesmo.
— Descobri que podemos ter uma boa colaboração com o império Liang.
— O que quer dizer? – indagou semicerrando os olhos, curioso.
— Apesar de atualmente Daji ser uma estrangeira falida, casar com ela nos trará muitas alianças. E eu posso usar isso para persuadir os nobres com pensamentos antiquados.
— Vejo que está otimista – comentou e Yi fez cara de desdém, se divertindo em imaginar a reação deles. — Já que tudo está encaminhado, irei organizar uma pequena cerimônia para anunciar Zheng Yuexiu como esposa de Shizhen. O pai dela está de acordo também.
— Eu imagino – respondeu entendendo os motivos do duque.
— Aproveitarei a oportunidade para dizer a eles que Yingge assumirá este império.
— Mas… tem certeza?
Fang levantou e foi até onde o lorde estava sentado, apoiando uma das mãos no recosto da cadeira.
— Tenho. Será um soberano muito melhor do que eu, e poderá contar sobre as vantagens da união com Song Daji.
— Certo.
— Pode se retirar com Bai. Descanse mais um pouco, a viagem foi longa.
— Está bem.
Ele despediu-se de Cheng e saiu com seu guarda pessoal logo atrás.
Assim que partiram do palácio de Meili, ela deu início ao pedido que recebera. A imperatriz se encarregou de recuperar as terras do conde Song, e se firmaria como aliada do império Wu. Desse modo Yi conseguiria incitar os nobres a aceitarem Daji sem questionamentos. Porém, ela teria que obter sucesso em sua missão antes que o aniversário do lorde acontecesse.
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Minha Senhora Predestinada
Ficção HistóricaYuexiu costumava sair escondida para praticar qinna em sua província com a ajuda de Daji. Porém, as suas quase tranquilas vidas mudam completamente quando Yuexiu aceita entrar em um casamento por contrato para quitar as dívidas do pai. A única condi...