Capítulo 15

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A ansiedade de Yuexiu a deixava mais falante do que o normal. Durante a ida, ela tagarelava como se a proximidade com Yi sempre existisse. O lorde aproveitou o ensejo para descobrir mais informações sobre sua amada. Yuexiu dava o que ele queria sem perceber.
Quando a carruagem parou, ela passou por Yi e desceu sem precisar da ajuda Bai. Estava tão empolgada que esquecera de agir com mais delicadeza. Yi e Bai se entreolharam, eles só podiam deduzir que toda a sua empolgação era por poder estar fora do palácio.
A escolta de quatro guardas mandados pelo imperador se dividiu em um grupo de dois, se posicionando cada grupo de um lado. Bai seguia atrás deles em prontidão.
- Cuidado para não se afastarem muito. Temos mais visitantes hoje no festival - avisou Bai para os dois, mas o seu olhar estava fixo em Yi. Agora como seu guarda pessoal não podia falhar de novo.
- O que acha de amarrar um balão em nossos pulsos? Assim fica mais fácil para você nos achar - provocou o lorde para descontrair, entendendo a preocupação de Bai.
O guarda revirou os olhos, mas abriu um sorriso.
- Não se preocupe. Ficaremos no seu campo de visão.
- Está bem - respondeu recuando dois passos, dando a eles certa privacidade para conversarem.
- Vamos lady Wu Yuexiu - convidou lhe oferecendo o braço.
- Claro - disse encaixando o braço no dele.
A cada barraca que eles visitavam, ela olhava ao redor para se certificar de que nada havia mudado. O jardim de flores montado na praça do vilarejo era convidativo. Eles pararam em uma das tendas para comer, o lorde gentilmente a serviu.
- Huumm - suspirou ela dando uma mordida em um bolinho de arroz. O véu cobria parcialmente o seu rosto, revelando somente sua boca. - Está tudo tão delicioso!
- Isso é só um bolinho de arroz. Você não precisa ficar tão animada com a comida, são todos pratos comuns.
- O lorde não entende nada. E não é"só um bolinho de arroz". Os grãos são selecionados e separados por tamanho e coloração. No preparo são adicionadas ervas e temperos específicos que só tem no campo.
É claro que ela entende do que está falando. Os boatos sobre o conhecimento dela não eram falsos. Para uma garota do campo ela até que é bem esperta. Reconheceu apenas para si.
- Comidas feitas assim não satisfazem apenas o paladar, como também...
- Fazem você ficar gorda - retrucou interrompendo ela.
- Você é mesmo o príncipe das trevas - reclamou baixinho.
- O que você disse? - perguntou concentrado-se em seus lábios.
- Ahn... nada - disse agitando as mãos.
Ele abriu um sorriso e a encarou. "Porque de repente acho ela tão meiga?"
O guarda pessoal que observava a cena ficou feliz por vê-lo com uma expressão mais serena perto da garota que ele tinha aversão. Talvez essa mudança de atitude devesse a uma certa pessoa.
Yuexiu viu as sombras próximas a eles ficarem maiores, era o começo da tarde. Estava quase na hora. Yi ofereceu a ela sua fruta preferida, que aceitou no mesmo instante, fazendo o lorde sorrir novamente.
Quando terminaram Yuexiu disse que precisava ir ao banheiro. Yi ordenou que Bai a acompanhasse.
- Eu não posso deixá-lo sozinho - sussurrou para o lorde.
- Eu só confio em você para isso. Vá com ela - disse apontado na direção dela. - Eu não sairei daqui, e além do mais os outros soldados são enviados do meu pai, ele não mandaria qualquer um.
Bai abriu um sorriso de lado.
- O que foi?
- Nada - ele nem percebera que inconscientemente chamara o imperador de pai. - Eu a acompanharei. Permaneça aqui.
Os dois se afastaram deixando para trás o lorde Yi e seus quatro guardas.

Sorrateiramente pelos arredores do palácio, Daji se esgueirava dos guardas que faziam a ronda para conseguir chegar ao estábulo. Sua experiência em descobrir brechas na segurança era útil nesses momentos. A amizade com Lihua lhe ajudou a conhecer melhor cada canto e os atalhos existentes pelo palácio. Ao passar pela última coluna ela avistou as baias. Seu coração estava batendo em ritmo descompensado o que dificultar a sua respiração.
Ela arriscou um passo a frente mas suas pernas não corresponderam. "Não é hora para ter medo!" Disse. Daji deu mais um passo, porém paralisou. Dessa vez não o seu medo era maior. Na grama verde ela visualizou duas silhuetas. Se fosse pega o que diria por estar tão longe da área delimitada à elas.
- Ziyi, Kei!! O que vocês ainda estão fazendo aqui? O comandante Fan pediu para apressá-los. Tragam logo os seus cavalos - ordenou o outro soldado.
- Certo. Certo - respondeu Ziyi.
Os três partiram deixando Daji mais tranquila. Nenhum deles parecia ter notado a presença dela ali. Ela correu até os compartimentos, mas todos os cavalos haviam sido levados. Todos. Menos um. Ele tinha os pêlos negros assim como seus olhos que a encaravam fixamente. Era majestoso, digno de um lorde. Devagar ela se aproximou dele estendendo as mãos para pegar as rédeas. O cavalo não mexeu um músculo com a aproximação.
- Wu Ming Yi - falou o nome que estava nas rédeas do cavalo - Yi. Repetiu mentalmente. - Então você é o cavalo daquele bastardo.
Com um sorriso malicioso Daji acariciou o animal. A ideia de usar o cavalo de Yi para uma fuga das propriedades dele a agradou. Era a sua vingança silenciosa e particular.
- Permita que eu monte? - pediu.
O animal relinchou e levantou as patas dianteiras, como se convidasse para subir.
- Isso foi um sim? - disse sorrindo. - Então vamos.
Segurando a barra do vestido rosa degradê de faixa pink na cintura ela se preparou para montar. Com um salto ela se pôs sobre a sela.
- Ming Yi, precisamos ir até o vilarejo Hua - disse pondo o rosto próximo a cabeça do animal. - Será que conseguimos passar pelo portão por onde Yuexiu saia sem sermos vistos? - perguntou olhando na direção em que ele ficava.
O cavalo agitou-se com a hesitação de Daji, que abriu um sorriso para ele passando a mão pela crina.
- Você está certo. A gente consegue.
Sem precisar de uma ordem o cavalo trotou até o portão atrás do palácio. No caminho por onde seguiram não encontraram nenhum guarda. Ao passarem pelo portão, o cavalo começou a galopar.
- Bom garoto. Desse modo chegaremos mais rápido.
O vilarejo estava floreado por todos os lados, haviam pessoas o bastante para que conseguisse se misturar. Descendo do cavalo ela o conduziu até uma árvore e amarrou as rédeas nela. Perto da entrada de um dos banheiros, ela aguardou a chegada de Yuexiu.
Ela ouviu vozes se aproximando, uma delas ela sabia de quem pertencia, a outra lhe era familiar. Antes que eles a vissem, Daji entrou no banheiro feminino.
- Estarei à sua espera - falou Bai.
- Está bem.
De soslaio ela notou o rabo do cavalo por trás de um florão. Bai que estava concentrado em protegê-la, nem percebera.
- Daji - chamou ao entrar.
A dama de companhia a encarou com uma expressão de alívio.
- Eu disse que daria certo.
- É cedo para comemorarmos senhorita.
- Não seja medrosa - zombou Yuexiu rindo. - Precisamos ser rápidas, o guarda pessoal do lorde está me esperando. Ou melhor, lhe esperando.
- Ah, claro.
Yuexiu deslizou o tecido pelo corpo, enquanto Daji terminava de tirar o próprio vestido. Elas trocaram as peças e os enfeites presos em seus cabelos. Com a ajuda de Yuexiu a dama de companhia colocou o véu cobrindo o seu rosto.
- Estamos prontas agora.
- Como sairemos? - perguntou Daji.
- O guarda do lorde está me esperando não muito longe daqui.
- Ótimo. Mas teremos um curto intervalo de tempo para que eu possa levá-la até o cavalo.
- Tudo bem.
Elas abriram a porta e avistaram Bai a alguns metros distante. Trocando um rápido olhar, elas concordaram e saíram correndo na direção contrária. Ming Yi agitou-se ao ver Yuexiu.
- Calma garoto, sou eu. Não faça barulho.
Ele se quietou obecendo suas ordens.
- Estamos com um pouco de pressa, então, permita que a minha senhorita monte em você também? - pediu.
Como se entendesse o pedido, o cavalo balançou a cabeça para cima sem fazer nenhum barulho.
- Obrigada Ming Yi.
Com as rédeas em uma das mãos ela levantou um pouco a barra do vestido. Yuexiu oscilou um pouco, mas não caiu. Ela passou a perna por cima do cavalo e se sentou na sela, usando os pés ela para o mantê-lo firme. O animal empinou as patas dianteiras a fazendo segurar as rédeas com mais firmeza. Era como se ele desse as boas vindas para ela.
- Daji, antes que eu esqueça. Não diga uma palavra enquanto estiver com o lorde Yi.
- Vocês tem estado mais próximos ultimamente, a senhorita não acha que ele possa estranhar o seu silêncio?
- Hum - ponderou por um instante. - Creio que não. Apenas concorde com a cabeça a tudo o que ele disser. Sei que ele não lhe agrada, mas faça esse esforço por mim.
- Não se preocupe. Eu o farei - olhando para o cavalo ela completou. - Leve-a em segurança.
Assim que eles deram partida dali, Daji apressou-se para voltar a entrada do banheiro. Bai quase a viu retornando do outro lado.
- Eu ouvi um barulho agora a pouco. A lady Wu está bem?
- Aham - foi tudo o que conseguiu dizer sem revelar muito a sua voz.
O guarda a encarou de uma forma estranha, mas sacudiu a cabeça afastando qualquer que fosse o pensamento que tivera.
- Deve ter sido apenas minha imaginação. Acho melhor nos juntar aos outros.
Ela fez o que Yuexiu aconselhou e concordou com a cabeça. Ele indicou com o braço estendido para que ela caminhasse à sua frente.
- Espere.
A garota sentiu seu corpo estremecer com o pedido. Droga!! Ele me descobriu!?
O guarda se abaixou rente ao chão e pegou algo que estava grudado na barra do vestido verde que trocara com Yuexiu.
- Era só um graveto - disse espreitando os olhos e o arremessou. - Me acompanhe.
Ela foi tomada de alívio.
O lorde estava distraído conversando com alguns moradores quando eles chegaram. Bai o encarou com uma expressão relaxada, Yi nem precisou de palavras para saber o motivo.
- Eu disse que não precisava se preocupar - sussurrou para o amigo.
Entendendo o recado o guarda pessoal sorriu para ele.
- Vamos voltar ao passeio? - falou, oferecendo a mão que naturalmente Yuexiu aceitaria. Daji hesitou momentaneamente, mas pôs a sua sobre a dele. Ele sentiu que a ponta de seus dedos finos estavam gelados. - Aonde você gostaria de ir agora?
Sem dizer uma palavra ela apontou para o jardim de peônias.
- Excelente escolha - o sorriso dele havia mudado inexplicavelmente.
- Temos só meia tarde agora - avisou Bai.
- É suficiente.
O guarda pessoal olhou para ele um pouco confuso, não era a resposta que esperava. Ele ficou para trás enquanto o lorde seguiu com a lady.
Yi deslizou os dedos entre os dela entrelaçando e apertou a mão de Daji. Ela tentou soltar, mas tropeçou nas folhagens perdendo o equilíbrio.
- Você está bem? - perguntou próximo ao ouvido de Daji, passando a mão livre em volta da cintura dela.
- Si... - rapidamente ela trocou as palavras por um meneio de cabeça. A voz de Yi quase a fizera entregar seu disfarce.
- Nesse caso...
Ele puxou ela para mais perto diminuindo a distância entre eles, enlaçando ela em um abraço. Bai ficou boquiaberto com a atitude do lorde.
- ...não se incomode em tentar me afastar. Tem muitas pessoas em volta nos observando - disse ele baixinho. O que era verdade.
Ela não sentia firmeza em suas pernas para afastar-se de qualquer maneira.
- Nós temos que atuar como um jovem casal apaixonado enquanto estivermos fora do palácio... - ele a soltou e apoiou a mão na cintura realçada pelo vestido. - Isso deve ser mais do que suficiente para mostrar nosso afeto, não acha?
Ela balançou a cabeça.
- Melhor nos apressarmos ou não conseguiremos admirar as flores na luz natural.
Daji murmurou um Aham em concordância.
O matraquear empolgado dos moradores ainda podia ser escutado atrás deles à medida em que se distanciavam. Eles ficam tão bem juntos. Foi a única frase inteligível que Yi pôde ouvir, o que o fez sorrir.
Bai estava começando a ficar levemente desconfiado do comportamento do lorde, que parecia se divertir mesmo com o silêncio dela. A garota ao seu lado também se comportava de modo diferente. Ele teria tempo para esclarecer essa história assim que retornassem ao palácio.
O tempo restante da tarde em que Yi e Daji flanaram pelo vilarejo tinha acabado. Ela percebeu que o sol havia se posto e pediu pra ir ao banheiro.
- SuLong, Huang acompanhem-na - disse soltando a mão dela. Ele abriu um sorriso, triste.
Os guardas a acompanharam mantendo meia distância. Quando eles sumiram nas sombras das árvores, o lorde desviou o olhar para as figuras que se aproximavam. Bai fez o mesmo.
- Yingge!! - exclamou Shizhen. - Não esperava que ainda estivesse aqui.
- Nós já estamos retornando para o palácio.
- Nós? A cunhada está com você?
Os olhos de Lihua se arregalaram. Yuexiu está aqui? Aqui!! Ela olhou ao redor mas não viu mais ninguém além dos guardas atrás do lorde.
Yi inclinou a cabeça para o lado como se a pergunta do irmão não fizesse sentido. Ele sabia que isso era parte do acordo.
- Sim, mas ela precisou ir ao banheiro - disse entristecido.
- O que foi? Não consegue mais ficar longe da cunhada? - provocou.
Yi revirou os olhos.
- Não. Dela. Não - respondeu pausadamente com sinceridade.
Shizhen fitou o irmão tentando entender o real significado de suas palavras.
- Ela está demorando - disse Bai preocupado. - Eu irei ver o que aconteceu.
- Tudo bem - concordou Yi.
- Eu vou com você.
Com uma aflição crescendo dentro de si, a guarda pessoal de Shizhen aproveitou a deixa para ir atrás de Yuexiu.
Bai fez um gesto com o braço para que ela seguisse à sua frente, de birra ela deu a volta. Os dois lordes se entreolharam tentando não rir da cena.
Tempo. Era tudo o que Lihua precisava. Tempo para encontrar com Yuexiu antes de Shizhen. Mesmo com o véu não haviam garantias de que eles não se reconheceriam. Ela apressou o passo. Não era assim que Lihua planejava que o seu lorde descobrisse a verdade. Ainda não estava pronta para lhe contar o que sabia.
- É a primeira vez que vejo você tão calada.
- Talvez você também devesse tentar - disparou em tom provocador apesar de sua preocupação.
- Impossível. Não é sempre que tenho a oportunidade de fazê-la ouvir minha voz.
- Quem aqui pediu para escutar a sua voz? - provocou, virando-se para encará-lo. Por uma fração de segundo, ela esquecera de Yuexiu. - Vamos. Não me distraia.
- Isso quer dizer que você fica mexida comigo? - perguntou correndo para alcançá-la.
- Volte a ficar calado!! - brigou, corando.
Ao chegarem aos banheiros, Lihua respirou fundo. Ela precisava escolher as palavras certas, afinal, Yuexiu também não sabia sobre Shizhen.
- Fique aqui - ordenou ela.
- Como se eu fosse entrar no banheiro feminino - retrucou. - Voltem para o junto do lorde Yi.
Os dois guardas obedeceram. Ele ficou de vigilância aguardando elas saírem.
O queixo de Lihua caiu.
- O que está acontecendo aqui?

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