54 ➡ What I've Been Living For

231 22 233
                                    

(Isabela's POV) 

Entrego a quantia pedida pelo moço agradável e de sorriso enorme que me entregou o troco do pedido junto a um cartão para solicitações individuais e específicas. Seguro o palito com uma mão e o vasilhame com farofa na outra.

Ergo mais o rosto, apontando o nariz para o céu e mantendo meus olhos fechados por trás dos óculos escuros e sinto os raios fortes do sol de São Paulo cobrir todo o meu corpo, aquecendo meu abdômen, as pontas dos dedos e coxas. 

Agradeço o moço e volto a me sentar na cadeira de plástico debaixo do guarda-sol que André alugou e como um pedaço da carne enquanto observo Letícia ler seu livro com óculos escuros Ray Ban e expressão neutra.

— Você segue o típico específico de garota diferente de todas com coque frouxo e lendo livro na praia com copo de Starbucks. — Digo e solto uma risadinha sarcástica enquanto a olho com aquela sobrancelha erguida como se estivesse a desafiando.

Suas costas tremem com uma risada abafada e ela puxa meu braço para roubar um pedaço do que como. — Eu quebro essa expectativa já tendo alguém. — Diz tão fracamente que me pergunto se ouvi certo.

Paro de imediato o processo de levar mais da carne à boca e passeio meus olhos por André e ela, buscando indícios de piada e, quando não encontro, abro a boca incrédula. — Você está com alguém, Letícia? Nem sequer cogitou me contar? 

— Pare com isso, é bem recente. — A risadinha tímida e as bochechas avermelhadas a deixam tão meiga que quase esqueço que estou brava.

André bebe um gole de Heineken direto do gargalo e ri. — Eu te disse pra contar assim que começou, Isabela é rancorosa e nunca vai te perdoar por ter me contado primeiro.

— Você contou pra ele primeiro? — Meu tom de voz triplica o volume. — Isso é pior do que todos os tipos de traição. Então depois de anos, eu virei a excluída do trio?

De repente, André gargalha guturalmente e tapa o rosto com as mãos, inclinando-se à frente. — Não acredito que chegou nessa conclusão só agora.

— Vocês dois são péssimos. — Let rola os olhos e guarda o livro que identifico como É assim que acaba na Ecobag. — Em  minha defesa... Eu não queria contar sem que antes tivesse certeza que era algo certo e sério. Você sabe o quanto eu já me feri com relacionamentos que só a parte séria só funcionava para mim.

Letícia namorou uma menina na faculdade de biologia. As duas tiveram algo duradouro, porém chegou ao fim quando ela percebeu que seus sentimentos não eram recíprocos. Só ela tentava, só ela fazia acontecer e isso foi tão difícil de lidar. Quatro semanas inteiras de Let para baixo e tão triste que nos deixava ansiosos, pois isso nunca foi de seu feitio. Ela sempre foi alguém tão para cima e alegre, descontava suas frustrações em pranchas de surf e tatuagens, e de repente, tínhamos uma outra versão deprimida e solitária.

— Eu me lembro. — Sussurro. — Quem é a misteriosa?

Puxo alguns cachos para fora dos seus olhos e aproveito para acariciar seu cabelo, sentindo um pouco de falta da forma como eles eram maiores e batiam abaixo da sua cintura. 

— O nome dela é Julietta e a gente se conheceu aqui mesmo na praia... Naquele campeonato de surf que te mandei fotos. — Ela começa tímida e um mero sorriso no canto da boca. — Ela é um ser humano incrível e até uma ONG que faz movimentos para diminuírem o consumo de peixe com o intuito de preservar a vida animal ela tem. 

André e eu nos entreolhamos. É lindo vê-la tão apaixonada, todas as palavras com olhos iluminados e brilhantes, o verde tomando quase toda a pupila. 

Flashlight [isulio]Onde histórias criam vida. Descubra agora