♦️~~Prólogo~~♣️

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   Naquela noite chuvosa, a família Kurami tentava aproveitar uma viagem de verão, hospedada em uma casa à beira da praia. O barulho da chuva batendo contra o telhado ecoava suavemente, criando uma atmosfera que contrastava com a tensão que crescia no coração de Aimi. Já era tarde, e Ren, seu irmão mais novo, dormia tranquilamente na parte inferior do beliche, suas feições inocentes iluminadas pelas sombras trêmulas. Os pais de Aimi, Aiko e Hiroshi, repousavam em sua suíte adjacente, alheios ao que estava prestes a acontecer.

Aimi, por outro lado, não conseguia se render ao sono. Com o olhar fixo no teto, a mente dela girava em um turbilhão de pensamentos, enquanto o relógio marcava além das duas da manhã. Uma sensação de inquietação a envolvia, como se um presságio sombrio pairasse no ar. Decidida a encontrar alívio para sua insônia, ela desceu silenciosamente da beliche, esforçando-se para não fazer ruídos que pudessem acordar o irmão.

Ao encher seu copo com água, um barulho vindo do quarto de seus pais interrompeu a tranquilidade da noite. Intrigada e ligeiramente alarmada, Aimi se aproximou com cautela, mas seu avanço abruptamente cessou quando um grito cortou o ar, ensurdecedor e angustiante. O coração dela disparou, e um frio na espinha a paralisou por um instante.

Correu até lá, espiando pela fresta da porta, e o que viu foi a cena mais aterradora que poderia imaginar. Seu pai jazia no chão, coberto de sangue, enquanto sua mãe estava igualmente ensanguentada ao lado dele. Um homem, vestido inteiramente de preto e com um gorro que encobria seu rosto, segurava um machado ensanguentado. A única iluminação era a de um relâmpago que revelou, por um breve momento, um sorriso macabro nos lábios do invasor. O terror a consumiu, e Aimi, ofegante, tapou a boca para não gritar.

Sem pensar, ela correu de volta para seu quarto, desesperada em busca de Ren. A fuga precipitada gerou um leve barulho, mas não havia tempo a perder. Ao entrar no quarto, ela balançou seu irmão para acordá-lo. O garotinho, ainda sonolento, coçou os olhinhos e agarrou seu ursinho de pelúcia.

— Irmã... — ele começou a chamar, mas Aimi, com lágrimas nos olhos, fez sinal para ele ficar em silêncio.

Passos pesados ecoaram do lado de fora do quarto, lançando uma atmosfera de tensão que envolveu o pequeno em confusão. Num gesto instintivo de proteção, Aimi ergueu Ren nos braços e, com extremo cuidado, escondeu-se ao lado do guarda-roupa. O coração dela pulsava descompassado, a mente confusa entre o medo paralisante e a determinação de proteger seu irmão.

Lágrimas quentes escorriam por seu rosto, uma mistura de terror e desespero. O rangido da porta ao ser aberta invadiu os ouvidos dos irmãos, e Aimi apertou o menino em seus braços, temendo que cada respiração fosse o último segredo que poderiam compartilhar. O homem, agora portando o machado macabro, começou a explorar o quarto, desferindo uma machadada na parte inferior da beliche, seu rosto refletindo desapontamento ao perceber que não encontrara ninguém ali.

Contudo, ao desviar o olhar, seus olhos encontraram Aimi, que segurava Ren com todas as suas forças. O sorriso sinistro curvou os lábios do invasor, e ele se preparou para desferir um golpe contra a garota. Aimi conseguiu se esquivar a tempo, fazendo com que o machado se cravasse na parede, uma prova tangível da estreita fuga que a vida lhes proporcionara naquela noite fatídica.

— AAAAAAAAAH! — os gritos de desespero da menina e do irmão ecoaram na casa, e Aimi saiu correndo com Ren nos braços, enquanto o homem tentava desesperadamente tirar o machado da parede.

Tomada pelo desespero, ela irrompeu pela casa, o eco da chuva forte acrescentando uma camada de agonia ao medo que envolvia os irmãos. Cada passo que dava ressoava no ambiente, um som apressado que refletia a urgência de seus movimentos. Mas não estava sozinha; os passos apressados do homem ressoavam ameaçadoramente atrás deles, como ecos sinistros de um destino maligno.

— SE PARAR DE CORRER SERÁ MAIS FÁCIL 'PRA VOCÊS! — o homem gritou, a voz dele cortando o ar.

Os lamentos angustiantes da menina misturavam-se ao choro de Ren, criando uma sinfonia de desespero que ecoava pelos corredores. Aimi, com o coração acelerado, corria incansavelmente, mas o destino, implacável, fez com que seus passos se enredassem nos obstáculos dispersos pelo caminho. Em um instante cruel, seu corpo colidiu com a dura realidade, e ela caiu, levando consigo o pequeno irmão que, mesmo após a queda, ergueu-se determinado.

— Ren! — Aimi gritou, mas o homem já estava de frente para as crianças. O garotinho de sete anos ficou na frente da irmã, os bracinhos abertos em um gesto de proteção.

— E-eu vou te proteger, irmã! A mamãe disse que essa é a minha missão. — A determinação no tom de Ren dilacerou o coração de Aimi, que negou com a cabeça, tentando trazê-lo para perto dela.

O homem soltou uma risada alta, fria e cruel, e em seguida desferiu uma machadada na cabeça do menino. O impacto foi instantâneo e devastador; Ren caiu, inerte no chão.

— REN!!! NÃO! — Aimi gritou em prantos, segurando o corpo do irmãozinho sem vida em seus braços. O mundo ao seu redor se desfez em fragmentos de dor e desespero.

O estridente uivo da sirene policial cortou a noite, trespassando a atmosfera tensa da cena. O assassino, tomado pelo pânico, foi surpreendido pelo som incisivo. Antes que suas mãos manchadas de sangue pudessem reivindicar mais uma vida, a autoridade da lei irrompeu, arrombando a porta com vigor. O homem, agora forçado a recuar nas sombras, desvaneceu como uma sombra fugidia, deixando Aimi à mercê de sua tragédia.

Enquanto a polícia tomava controle do ambiente, Aimi, trêmula e devastada, segurava o corpo frágil de seu irmão nos braços. Seus soluços ecoavam pelo espaço, uma melodia dolorosa no teatro sombrio da tragédia.

— REN!! REN? POR FAVOR.... REN... REN!!!!! — uma jovem policial se aproximou, pegando a garota pelos ombros delicadamente, tentando afastá-la do corpo, mas Aimi resistiu, presa em sua negação.

— NÃO! ME SOLTA, REN!? IRMÃO? POR FAVOR, NÃO SE VÁ! — a policial, com a ajuda de um colega, tentava tirá-la de perto do corpo. Aimi se debatia, a dor e a culpa a consumindo. — NÃO! NÃO, REN!!!! IRMÃOZINHO, ME SOLTEM, SOLTEM ELE, NÃO! NÃO ENCOSTEM NO MEU IRMÃO, SOLTEM ELE! — ela continuava a gritar desesperadamente, enquanto os policiais tentavam acalmá-la, envolvendo-a em um abraço acolhedor.

— REN! Não... Por favor... Por favor irmão, meu irmão, meu irmãozinho, não me deixe... — ela sussurrou antes de finalmente cair inconsciente, a escuridão tomando conta de sua mente.

Naquele fatídico dia, não apenas a família Kurami pereceu, mas algo essencial em Aimi também se extinguira. Como se a própria essência da jovem fora brutalmente assassinada junto aos entes queridos. Apesar da rigidez dos pais, o amor por eles persistia no coração de Aimi, e seu irmãozinho, a inocência personificada, não merecia o destino trágico que o alcançara.

A incompreensão diante da motivação cruel por trás do massacre assombrava os pensamentos de Aimi. Foi então que ela jurou tornar-se psiquiatra, buscando desvendar os intricados labirintos da mente humana, compreendendo o que poderia levar alguém a perpetrar tamanha atrocidade.

Culpa e sofrimento tornaram-se fiéis companheiros na jornada diária de Aimi, que agora residia com sua tia. Foi nesse período sombrio que o vício do cigarro se entrelaçou à sua existência, uma tentativa de afogar a dor. A trajetória de sua vida mudou quando Akemi, a amiga que se tornaria a salvadora de Aimi, entrou em cena, resgatando-a do abismo que a envolvia.


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I am the joker🃏 ~Alice In Bordenland~ Onde histórias criam vida. Descubra agora