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Se olharam por um instante. Alexandre foi tomado por um misto de coragem que não era muito dele nesses últimos dias. Passou pelo copo quebrado e se aproximou ainda mais dela. Não, não a tocou. Aparentemente ele não tinha esse direito. Colocou as mãos na bancada atrás dela, circulando seu corpo, prendendo. A proximidade era quase um pecado para os dois e era inevitável não pensar na única noite.
— Por que não posso falar do passado? — perguntou contra a boca dela.
Giovanna fechou os olhos. Nunca seu corpo ficou tão em chamas quanto agora.
— Eu não sou mais a menina que conheceu.
— Não, não é. É uma linda mulher, decidida, forte, uma mãe fenomenal.
— Não me elogia, não preciso disso, me tornei assim sozinha. — ela rebateu olhando em seus olhos.
— Se você me deixasse... Se eu pudesse falar, conversar com você. Me deixa conversar com você...
Alexandre sentiu que iria colapsar a qualquer momento. Suas mãos coçavam para encostar nela, para puxa-la contra seu corpo. Ele não sabia de onde vinha essa necessidade. Talvez sempre esteve escondida ali, fugindo sempre que ele saia da cidade, sempre que ficava longe dela. Sabia que se eles convivessem já teriam mais filhos.
Isso porque nunca faltou desejo da parte dele.
A desejava na mesma proporção que a odiava.
Foi por isso que alugou aquele quarto de hotel quando se casaram, foi por isso que por uma noite, por algumas horas, ele decidiu que seria dela e que ela seria dele. Não era só para matar a curiosidade dela, mas sim a dele.
Porque precisava dela.
Assumir isso dentro da sua mente era quase tão ruim quanto assumir isso em voz alta.
— E por onde quer começar? Pelas suas traições?
— Pode ser. — ele falou logo, sem fugir. — Me arrependo.
— Agora que quase morreu? Porque na ligação, Karen deixou claro como você não tinha se arrependido de nada. O que foi? Culpa cristã?
— Chame do que quiser, mas me arrependi.
— Quer que eu acredite nisso porque está em casa sem ter uma buceta pra foder.
As palavras cruas que saíram da boca dela o pegaram de surpresa. Não esperava por isso, se afastou.
— Eu não vou transar com você. — ela falou logo.
— Eu não pedi isso. Podemos falar sobre as suas traições?
Giovanna riu, levando as mais a boca, o falso choque no olhar.
— É por isso o showzinho? Quer saber se tem tantos chifres quanto eu? Não, não tem. Não te trai.
— Quer que eu acredite nisso? Sério? Quer que eu acredite que ficou sem transar todos esses anos?
— Nem todos são coelhos no cio como você.
— Para, Giovanna, falso moralismo não. Não me importo se me traiu, eu só quero saber.
— Beijei o personal. Está bom?
Ele lembrava desse personal. Sentiu um amargo na boca. Uma sensação ruim. Ele tinha dito que não se importava em saber, mas se importava sim, se importava muito.
— Dormiu com ele? — perguntou mais sério
— Não, aumentei a dose do antidepressivo. — dessa vez foi Giovanna que diminuiu a distância. — Eu fui fiel a esse casamento desde o primeiro dia, Alexandre. Fui fiel a você, a essa casa, ao nosso filho, a nossa empresa.
Ele olhou para baixo como se absorvesse as palavras dela.
— Cadê sua aliança? — ele perguntou depois de um tempo.
— Guardei. Não posso estar casada sozinha, não é?
Giovanna se afastou dele finalmente. Seu coração pesava, seu corpo doía. Antes de sair da cozinha, falou como se nada tivesse acontecido.
— Você tem um retorno no médico amanhã.
Naquela noite, Alexandre não jantou na sala. Pediu para que Bethânia levasse o prato dele para o quarto, relatou estar cansado. A verdade é que ele sentia que estava na iminência de perder o que sempre teve, exatamente como sua mãe tinha falado. Exatamente como Rodrigo tinha alertado, e parecia não ter absolutamente nada que ele fizesse para impedir isso.
O que ele sentia por Giovanna, afinal? Será que poderia chamar isso de amor? Estaria se sentindo assim se não fosse o acidente? Se não fosse por tudo que ela vinha fazendo?
Ele sentia algo por ela antes. Sentia afeto e carinho, sentia o coração acelerar toda vez que ela sorria, sentia o corpo arrepiar quando suas mãos se tocavam, quando ela o abraçava. Quando ela o apresentou para os amigos, mas sempre deixando em aberto o que eram. Conhecia esses sintomas e sabia que naquela época estava se apaixonando por ela com força.
Quando descobriu o câncer de seu pai, Giovanna ficou do seu lado também. Quando ele foi embora, ela o abraçou por horas.
Onde diabos ele estava quando Antônio infartou?
Não gostava nem de lembrar.
A verdade era uma só.
Ela merecia um homem melhor. Um amor melhor.
A única coisa que poderia fazer agora era reparar danos, para quem sabe ela pudesse lhe olhar com carinho de novo, para quem sabe ela falar do pai do filho dela com orgulho.
E claro, se preparar para o dia que ela o deixaria.

minta pra mim | gnOnde histórias criam vida. Descubra agora