15

2.4K 154 184
                                    

Ele não tinha sido capaz de sair do quarto dela. Porque ainda tinham algumas coisas ali, alguma peças de roupa, alguns perfumes, alguns brincos. Porque o cheiro dela ainda estava ali. Alexandre se sentia anestesiado ao redor de tudo que era ela.

Não sabia se era dor o que sentia.

Ou frustração. Raiva. Desgosto.

Tudo isso sentia por ele mesmo, por tudo que ele se tornou, e por ter tornado Giovanna tão insegura com eles. Que motivo ele tinha para cobrar que ela apenas confiasse nele.

Nenhum exame sobre sua porra sem um espermatozoide vivo poderia fazer com que ela esquecesse todos os anos que se sentiu humilhada, trocada.

Ele foi ingênuo em pensar que seria fácil.

Lembrou do dia em ele perguntou bêbado se ela queria o divorcio. No final das contas nem se lembrava de qual havia sido sua resposta, apenas concluiu que tivesse sido não. Alexandre sempre foi firme em sua liberdade, casamento de conveniência vindo de um golpe nenhum ia lhe prender. E agora ele se via aqui, implorando para ser preso, para ser marcado como dela.

E era Giovanna quem queria a liberdade agora.

Que havia enxergado coisas que ele não queria ver. Sobre como seu passado estava ali, como de fato poderia aparecer um dia uma louca que diria que ele é pai de seu filho, e então essas feridas seriam abertas, e os anos que ela viveu sozinha seriam revividos em sua mente, e ele não poderia falar nada.

Porque ele era o monstro nessa história.

— Eu não consigo acreditar, amiga. — ela ouviu a voz de Alessandra longe.

Giovanna tinha uma taça de vinho na mão, sentada de lado, apoiando braço no encosto do sofá. Estava encolhida, como sua mente também gostaria de ter ficado. Mas Alessandra era esse ser humano que ela precisava agora, era necessário estar perto para não afundar.

Acreditava piamente que era por isso que ela estava aqui também.

"Alessandra penteava os longos fios devagar, atenta a cada nó, passando com cuidado para não querer os fios. Olhou para Giovanna através do espelho, sorrindo levemente.

— Você ficaria maravilhosa loira, sabia? — comentou para puxar assunto.

Giovanna a olhou, querendo parecer interessada.

— Você acha?

— Tenho certeza... você ficaria assim... meio golpista...

Ela riu, passando os dedos pelos olhos, tentando afastar o cansaço.

— Golpista?

— É, não sei... acho que você deveria mudar um pouco.

— Para quem?

— Para você, ué! Tudo que você fizer na sua vida que seja para você!

— Você tem muito mais fé em mim do que eu.

— Porque você é uma força da natureza, Giovanna. Você é um oceano inteiro. Eu quero tanto que você volte a acreditar nisso... — Alessandra falou, apertando os ombros dela, beijando o topo de sua cabeça."

— E agora? — Alessandra chamou a atenção dela de novo.

— Quanto você quer pelo apartamento? — Giovanna perguntou na sala, se endireitando no sofá.

Alessandra olhou atenta. Parte dela estava feliz pela amiga ter acordado para algum nível de realidade sobre o que era o casamento, mas odiava ver isso acontecendo porque de repente uma vagabunda resolver inventar uma gravidez. E na verdade a culpa nem era apenas da vagabunda, mas de Alexandre principalmente, já que ele era o casado, ele devia o respeito, ele devia limites.

minta pra mim | gnOnde histórias criam vida. Descubra agora