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Alexandre foi dormir pouco tempo depois que ela subiu. Tinha apenas uma certeza em mente: a queria de volta. Não, não achava que era o homem certo para ela, mas trabalharia dia e noite pra isso. No seu quarto, abriu o armário procurando aquela bendita caixinha. Revirou as gavetas até finalmente achar. A aliança estava ali.
E em questão de segundos a aliança estava em seu dedo, de onde nunca devia ter saído.
Dormiu tranquilo pela primeira vez em anos.
Na manhã seguinte ele resolveu fazer diferente, estava inspirado, motivado mesmo. Nada como passar pelo inferno para encarar a vida com uma nova perspectiva. Tomou um banho, colocou uma camiseta e uma bermuda o dia tinha tudo pra esquentar. Foi para a cozinha e cumprimentou Bethânia, que estranhou o bom humor.
— Bom dia, querido. Acordou feliz hoje? — ela disse enquanto tirava o café do suporte da máquina.
— Hoje o dia vai ser bom, estou sentindo isso. — ele falou, olhando o que a governanta orientava a cozinheira. — Bom dia, Luzia!
— Bom dia, senhor Nero. Vai querer o que de café da manhã? A senhora Antonelli já acordou?
Alexandre se incomodou levemente com a distinção dos nomes,  maldita regra que criou. Ignorou isso por hora quando teve uma ideia.
— Luzia, hoje o café é por minha conta... eu só... preciso saber o que a Giovanna gosta de comer de manhã.
Bethânia olhou sorrindo para o homem, e quando Luzia a encarou em dúvida, deu passe livre para o plano. Alexandre preparou panquecas fofinhas, separou as frutas e o mel. Giovanna gostava de café com leite desnatado, mas quando Luzia colocou um toddynho na bandeja, Alexandre a olhou confusa.
— Quando ela está ruinzinha, gosta de toddying... como ontem ela foi para o hospital.
Ele riu e beijou a cabeça da mulher, a abraçando em agradecimento.
Depois disso, montou sua bandeja enquanto Bethânia arrumava a de Benjamin. Ele estava tão concentrado em deixar tudo bonito, queria muito que ela gostasse da surpresa de tomarem café juntos. Com ajuda das meninas, Alexandre subiu as coisas, deixou em um aparador do corredor e entrou no quarto do filho. Abriu as cortinas, abaixou na altura da cama, acariciou os cabelos escuros.
Toda vez que olhava para seu menina tinha vontade de chorar. Era um misto de emoções, mas acima de tudo orgulho por ele estar indo tão feliz, por ser uma criança tão feliz, apesar de tudo. Aos poucos Benjamin foi despertando, sorriu ao dar de cara com o pai.
— Vamos fazer uma surpresa pra mamãe? — Nero perguntou, sorrindo cúmplice.
Alexandre abriu a porta da suíte master devagar. Bethânia disse que ela não gostava de acordar no susto, e que só de abrir as cortinas Giovanna já acordava. Colocou as coisas na enorme cama, orientou o filho a ter cuidado para não derrubarem tudo.
Giovanna já estava acordando quando ouviu a porta do quarto abrir devagar. Escutou cochichos e risadinhas, já sabia quem era. Fez de que estava dormindo apenas para saber o que eles estavam aprontando.
— Vou colocar você aqui, mas não balança. — ouviu a voz de Alexandre sussurrando e Benjamin concordando.
— A mamãe vai tomar toddynho! — o filho exclamou com a voz sussurrada.
Teve que segurar o riso. Sentiu a claridade bater no rosto e começou a se mexer. Sentiu a respiração do filho perto do rosto dela.
— Mamãe, mamãe. — ele sussurrou, dando um beijinho na testa dela.
Giovanna sorriu, abriu os olhos, encontrando o esverdeado do filho. Como podia terem feito uma criança tão bonita, tão simpática. Giovanna abriu os braços e Benjamin se jogou em cima dela.
— Bom dia, mãe! Olha o que o papai fez!
Ela sentou devagar na cama, olhando as bandejas feitas. Até o toddynho estava ali. Alexandre a olhava com um sorriso besta no rosto, mas ela não podia negar: ele ficava lindo na luz da manhã. Isso a fez lembrar do próprio estado lastimável de quem acabou de acordar. Passou às mãos pelo rosto, tentando tirar o resquício do sono. Ajeitou os fios rebeldes. Lembrou da fina camisola que usava e de como os mamilos deviam estar despontando. Ao olhar para ele de novo, viu que ele também tinha notado. Sentiu um arrepio. O que era receber esse olhar dele? Se ajeitou direito na cama.
— Tô toda amassada, filho. — ela falou, rindo cm o garoto.
— Está linda. — ouviu Alexandre falar em um sussurro quase sonhador.
Então era isso que ele estava perdendo ao acordar longe dela todos esses anos. Essa era a primeira visão que ele poderia ter tido. Essa mulher em toda sua glória, o rosto limpo, os cabelos longos, soltos. Ele conseguia visualizar como acordaria ao lado dela. Acariciando o braço macio, sentindo a pele arrepiar. A abraçaria por trás, beijaria seu pescoço e escutaria como ela iria suspirar por ele.
Sua mente foi automaticamente para a primeira e única noite deles. O jeito como ela se entregou pra ele, sem reservas, sem medo. Ele foi seu primeiro, foi o único. E se Alexandre parasse para pensar, Giovanna também tinha sido a única mulher com quem fez amor. Mesmo por cima do raiva, mesmo por cima do rancor.
Ele fez amor com ela.
E os gemidos dela ainda estavam impregnadas em seus ouvidos.
— Podemos comer? — Benjamin falou chamando atenção dos dois.
Alexandre posicionou a bandeja no colo dela, que agradeceu. Foi um instante em que Giovanna viu Benjamin brincando com o pai que mexeu com tudo dentro dela. Eram os dois homens da sua vida, tomando café em sua cama, como se sempre tivesse sido assim.
Quis chorar, e culpou imediatamente o seu estado ainda sensível pelas medicações.
— Hoje o tempo está para praia, não é? — Alexandre perguntou, sorrindo para o filho.
Giovanna o olhou desconfiada.
— Ben tem aula.
— O que pode ser mais importante para uma criança de 3 anos do que um dia na praia com os pais?
Alexandre a surpreendeu, e convenceu também. Benjamin já estava eufórico, e tirar a alegria dele assim parecia cruel. Ben nunca tinha visto os pais juntos assim, e com a pouca idade que tinha não poderia compreender a importância desse momento.
— Vamos, vai... — Alexandre tocou o pé dela por cima do lençol.
Giovanna olhou para a mão dele e a respiração  travou na garganta. A luz do sol parecia ter dado um enfoque maior, e aquilo brilhava. Brilhava e a assustada. Brilhava e a aquecia. Brilhava e faziam as borboletas dançarem dentro dela.
— O que é isso? — ela perguntou em um sussurro, olhando de volta para ele.
— Você disse que não queria estar casada sozinha. — ele falou calmo, aproveitando a distração de Ben. — Eu quero que saiba que não está... Giovanna, eu sou o seu marido, e o que eu disse ontem eu falo sério. Eu quebraria meus ossos por você. Pode duvidar, mas daria a vida por nossa família, desculpa se demorei tanto pra... pra assumir esse lugar. Estou aqui e não vou a lugar nenhum.
Giovanna balançou a cabeça, concordando. Temia abrir a boca e não conseguir falar, ficando ridiculamente entregue as palavras dele.
— Vamos a praia então.
Demoraram mais um tempo até se trocarem, arrumarem Benjamin e separarem as coisas que levariam. O calor estava grande, e enquanto carregava o carro, Alexandre já sentia os efeitos, suando mais do que esperava. Tirou a camisa e perdurou na cintura, passando o antebraço pela testa. Giovanna apareceu nessa hora com Benjamin no colo e uma bolsa na mão.
O universo só poderia estar lhe testando colocando esse homem suado e sem camisa na sua frente.
Vai, Giovanna, quanto tempo consegue resistir a esse homem? Vamos ver até onde vai a sua raiva dele.
Colocou Benjamin no cadeirão logo, entrando no carro de uma vez e ligando o ar condicionado. O calor não vinha só do tempo lá fora. Quando Alexandre entrou no carro colocando o boné, olhou para trás e sorriu.
— Praia? — perguntou animado.
— Praia! — o filho exclamou batendo as pás de plástico uma na outra.
Giovanna sentia o peito leve, alegre. Entrou na animação dos dois e ligou o rádio. Rita Lee tocava, e era uma música que ela adorava. Benjamin sabia disso, ela sempre teve o costume de ouvir música com o filho, colocando grandes clássicos, apresentando o mundo para ele.
— Mamãe, sua música!
Alexandre olhou para ela sorrindo. Linda, completamente linda de óculos de sol e cabelos ao vento.
— Diga que me odeia, mas diga que não tinha vive sem mim! — Giovanna cantou imitando Rita. — Eu sou uma praga, Maria sem vergonha do seu jardim!
Benjamin gargalhou e Alexandre sabia que aquele era o tipo de lembrança que o filho levaria para o resto da vida.
— Você tem ciúme, mas gosta de me ver rebolar. — Giovanna se mexeu no banco e Alexandre notou que Ben fez igual. — Eu topo tudo, sou flor que se cheire em qualquer lugar!
Alexandre começou a batucar no volante, balançando a cabeça no ritmo da música, não aguentando e cantando junto.
— Bem me quer, mal me quer. — ele cantou e Giovanna e Ben bateram palmas com a música.
Os adultos se olhavam, e em suas mentes o pensamento era o mesmo. Era bom estar aqui, era bom estarem juntos. E sempre que podia, Giovanna olhava para a mão dele, a aliança se concretizando em sua mente.
Não demorou muito para chegarem na praia do Recreio. Giovanna foi descendo com o filho enquanto Alexandre descarregava o carro. Dia de semana, praia vazia. Ele montou o guarda sol depois de alguns minutos enquanto Giovanna passava protetor no garoto. Depois de besuntar o suficiente, depois ele no sol com balde e outros brinquedos.
Ela tirou a camiseta e o shorts, ficando apenas com um biquíni preto simples. Se sentia confortável com seu corpo, algumas mudanças da gravidez foram bem vindas, como seios um pouco maiores, e de modo geral, recuperou todo o resto muito bem. Mas se esquecia como era a primeira vez que Alexandre a via com tão pouca roupa desde que ficou nua naquela noite.
Parece que o pensamento foi o mesmo, já que sentiu o calor dele atrás dela em segundos.
— Quer que eu passe protetor em você? — ele sussurrou rouco, e ela sabia que foi impossível ele não perceber o jeito como ela ficou arrepiada.
Alexandre levantando as mãos, pairando sobre de a pele dela, mas respeitando o desejo que ela tinha de não ser tocada por ele. Ele esperaria o tempo que fosse preciso. Só o cheiro dela já o invadia, a aquela bunda tão perto dele era um terreno perigoso.
Ele era forte mas nem tanto.
Ela o olhou por cima do ombro, os rostos próximos, de repente tudo muito intenso e tudo muito quente. Olhou para a boca dele, sabia que era o corpo, o tesão  falando. O que não daria para beija-lo agora.
— Não... — a voz dela falhou, e ela tratou logo de tomar jeito. — Não precisa... já fiz, já passei... em casa.
Alexandre a olhou de cima a baixo, simplesmente porque podia. Qualquer um que os visse na praia saberia que eram uma família, ele era dela, ela era dele.
Olhou, pois se caso rendesse ao instinto de toca-lá teriam que arrumar as coisas e ir embora. Para casa, para cama.
Ele respirou fundo, audível, dando uma última olhada para a boca dela antes de sorrir. Se afastou, pegou o filho nos braços e foi para água.
Giovanna esperou um tempo, se recuperou. Ficou olhando de longe, ouvindo entre os sons das ondas, a risada de Benjamin.
Ela não queria falar, pensar, em como Alexandre quebrou o coração dela em mil pedaços ao longo desses anos.
Se ela só ficasse em silêncio ao lado dele, ele seria capaz de escutar todos os seus sentimentos sem que tivesse que falar?
Caminhou para o mar, vendo como ele a olhava. Não se fez tímida, não parou. Alcançou os dois no mar, que estava um pouco agitado e por isso Alexandre não tinha ido mais fundo.
Benjamin se esticou para ir até seus braços. Ela o pegou e beijou a bochecha já vermelha.
— Gostou de vir à praia? — ela perguntou, rindo quando uma onde os atingiu.
Benjamin se agarrou mais nela e fez que sim. Alexandre os olhava enquanto passando os dedos entre os cabelos para arrumar. Viu quando o filho sussurrou algo para ela, e o olha assustado que Giovanna lançou foi o suficiente para o coração dele acelerar. Ela perguntou algo de volta, e o menino negou com a cabeça. Viu como mãe e filho se olharam, Benjamin tinha um jeito sapeca mas ao mesmo tempo pidão e aquilo pareceu convencer.
Ele poderia facilmente ter sido levado pela água. A olhou se aproximando dele em câmera lenta. Viu quando a mão dela agarrou seu ombro em busca de estabilidade. Ele fechou os olhos quando sentiu a boca dela em sua bochecha, bem acima de uma de suas cicatrizes do acidente.
Giovanna estava o beijando.

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